Nómada digital em família – O nosso verão em Tóquio 2/2

Catarina Leal Bacchi

Antes de continuar, lê o post anterior Nómada digital em família e em Tóquio 1/2

De turista a nómada digital.

Em março de 2019 o meu trabalho dá uma volta de 180º e em vez de ter uma equipa autónoma para eu poder tirar férias ou trabalhar relaxadamente, vejo-a reduzida enquanto as outras equipas são também reduzidas a “serviços mínimos”. A empresa vai fechar em Sófia e transferir toda a tecnologia para França onde irão dar continuidade aos projetos. Eu assumo a gestão dos projetos e clientes que temos em mãos e na transferência de toda informação com data limite prevista para fim de agosto, precisamente quando planeamos viajar.

Por isso, agora precisava de um local a sério para trabalhar. No apartamento poderia não dar, se a criança estivesse lá, e eu não funcionaria muito bem em casa de qualquer das maneiras. Procurei opções de coworking, e tive a grande sorte de encontrar o fantástico AWSloft https://awsloft.tokyo/. Gratuito para clientes Amazon Web Services, o que era o caso da minha empresa, e ficava apenas a 15 min a pé da escola e uns 30 de casa!

Primeiras impressões.

Já íamos prevenidos do calor e humidade que costuma fazer em Tóquio em agosto. Também costumamos ter dias acima de 40ºC em Sófia (com pouca humidade), mas depois do calor e humidade insuportáveis no Qatar, mesmo às 19h, o calor em Tóquio até era bem suportável. A nossa escala em Doha permitiu dar um passeio de carro, a pé e ainda outro de barco ao largo da Corniche (com todos a transpirarem e porem em causa a ideia de tal passeio) e ainda jantar antes de voltar para o aeroporto. 

Chegámos a Tóquio na noite seguinte e assim que saímos na estação de Shimbasha decidimos comer logo no primeiro restaurante que aparece (de sushi) antes de apanhar o táxi para o apartamento. Aqui ainda estava esperançosa que o meu filho de 5 anos fosse alargar horizontes quanto à sua alimentação. Nos primeiros dias até não correu muito mal.

Depois de comer num restaurante chinês teve uma gastrite que começou por um grande vómito à entrada do centro comercial/estação de Meguro (maravilha!) com duas senhoras a prontificarem-se a ajudar, e uma até me deu um paninho com o Totoro para limpar a criança, que guardei de recordação. A partir daí foi principalmente arroz branco e muitos jantares em casa. Na escola em vez do menu japonês, escolhi o mais americanizado com pizzas e massas, o que ele gosta e conhece.

De pesadelo horrífico a sonho perfeito

Assim que chegámos à casa na primeira noite, ficámos logo desiludidos por a sala/cozinha não ser nada confortável nem acolhedora. E o nosso quarto no segundo andar, tipo sótão, era demasiado quente e o ar condicionado tinha de estar sempre a funcionar. Mas o pior foi que logo nessa noite, o meu marido viu uma barata. No dia seguinte de novo.

Informamos o anfitrião, que não pareceu nada preocupado e disse que havia produto para matá-las, mas como não percebemos como funcionava pedimos para virem tratar da situação. Vieram enquanto não estávamos lá mas não resolveram o problema. Depois de vários pedidos sem resultados, vejo uma barata no quarto do pequeno no 1º andar e foi a gota d’água. Temos de sair daqui.

O Adrien começou a procurar no airbnb e os santinhos deviam estar todos alinhados para nos ajudar porque encontrou um T1, a 12 min a pé da escola e mesmo ao lado do AWS Loft e da estação de Meguro, e ainda mais barato. Liguei logo a marcar a visita para o dia seguinte, expliquei que não queria baratas e garantiram-me que não tinha. E não.

Era arejado, muito confortável, apesar de termos de dormir na sala, tinha uma cama de casal. E outra no quarto, onde pusemos o nosso filho a dormir. Uma casa de banho, máquina de lavar, um sofá, mesa e cozinha, tudo novo. Que alívio. Esta mudança transformou mesmo a nossa experiência, para muito melhor. Tínhamos também muitos mais transportes à porta, restaurantes, lojas e o meu coworking!!! Não podia ter sido mais perfeito. Quer dizer, até podia, mas seria muito mais caro também.

O que cada um fez?

Nós chegámos numa quarta à noite, quinta conhecemos a ama, sexta de manhã fomos visitar a escola onde o Atlas iria começar na segunda seguinte. Sexta à tarde, tanto eu como o pai tínhamos reuniões e o pequeno teve logo de ficar com a ama. Segunda feira levou autocolantes para oferecer aos novos colegas e fez logo amigos. Ele gostou muito da sua escolinha, passados meses ele ainda falava do que aprendeu lá. Como íamos ficar pouco tempo, e como ele já tem de falar 4 línguas não quisemos pô-lo em atividades em japonês. Ainda assim teve algum contacto com a língua na escolinha. Devido ao nosso trabalho ficou em horário mais extenso e por vezes a ama ainda teve de o ir buscar e dar de jantar. 

Eu tive de trabalhar quase todos os dias com várias reuniões online ou a preparar documentação ou a gerir a transferência dos projetos. Por isso passei a maioria dos dias no espaço coworking.

O Adrien passou os seus dias a caminhar, a explorar Tóquio, e a ter várias reuniões presenciais. O escritório para se ligar ao computador eram cafés por onde ia passando.

Aos fins de semana e nalguns dias de folga explorámos a cidade. Fomos a Odaiba umas duas vezes. A primeira para explorar a zona, vimos música ao vivo e exposições ao ar livre, e  exploramos as lojas do centro comercial. Outra vez fomos ao Miraikan – National Museum of Emerging Science and Innovation, onde a grande atração foi o robot humanoide Asimo. Nessa noite esperávamos ver um Hanabi (festival de fogo de artifício) com vista para a Rainbow Bridge, mas só percebemos que teria sido cancelado depois de termos jantado e estarmos imenso tempo à espera… obviamente perdidos in translation. Noutros dias visitámos vários dos parques fantásticos, templos, museus, o zoo, Akihabara, Shinjuku…

Um dos pontos altos foi ver o bon odori (uma dança que faz parte do festival budista Bon) no templo Tsukiji Honganji e também em Yokohama. Este festival é muito comum no verão por todo o Japão.

Um mês no Japão, e não sairam de Tóquio?

Não. Durante a semana estávamos a trabalhar, e quando pensávamos ir a algum lado, achávamos que o tempo de viagem com uma criança de 5 anos não compensava. Preferimos não o fazer e ficar mesmo por Tóquio e ainda assim ficou muito por explorar na capital. O mais longe onde fomos foi um sábado a Yokohama, a 1 hora de comboio. Passámos pela Chinatown (a maior do país), Yokohama Park, visitámos o Mitsubishi Minatomirai Industrial Museum e acabámos no Rinko Park para mais um festival Bon, onde vimos de novo um bon odori, comemos comida típica a olhar a baía de Yokohama. Foi um dia fantástico.

Ferramentas de trabalho à distância:

Com a diferença horária de Tóquio (JST) para Sófia (EET) e Bordéus (CET), muitas das videoconferências tinham de ser ao fim da tarde. Uma ferramenta que uso há já muitos anos e foi muito útil foi www.timeanddate.com. Têm um meeting planner que dá para pôr vários fusos horários e ver quais as horas mais convenientes para todos. Também já a usámos para um encontro virtual “Vidas sem fronteiras”. Esse foi o maior desafio de todos com tantos fusos horários a considerar, mas conseguimos.

Também usei o Meetup, muito popular no Japão, para participar em encontros sociais. Acabei por ir só a um de designers e em inglês. Assim como o Line, o equivalente do Whatsapp no Japão.

Cada empresa terá os seus processos e aplicações. Na altura usávamos:

  • Google Workspace para criação, partilha de documentos e videoconferências,
  • Owncloud para armazenamento na núvem, 
  • Mattermost para IM, 
  • Asana para gestão de projetos.

Até à próxima!

Aguardamos a passagem desta pandemia para voltarmos ao Japão, dessa vez, esperemos, para explorar o resto do país.

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