Nómada digital em família – o nosso verão em Tóquio 1/2

Catarina Leal Bacchi

Nómada digital, o nosso conceito.

Como expliquei no artigo anterior Nómada digital, à 3ª é de vez, eu e o meu marido desde que nos conhecemos que falamos em passar largas temporadas noutros países. Como as férias não esticam, teríamos de trabalhar remotamente. Depois das duas tentativas falhadas descritas no artigo, chega então a vez de tentar de novo por mais tempo e agora com o nosso filho de 5 anos.

Objetivo e destino.

O meu objetivo em ser nómada digital é simples, viajar e experienciar outros locais e culturas de um modo mais próximo e demorado. Já o do meu marido, para além de concordar com o meu, tem de fazer sentido a nível profissional. Ora, isso reduz drasticamente as opções de destinos. Quando começámos a falar seriamente sobre o assunto, o destino que surgiu no topo da lista por ser perfeito a todos os níveis, foi o Japão, Tóquio mais precisamente. Em novembro de 2018, tínhamos apenas a ideia de ir no verão de 2019. As datas exatas seriam decididas depois. 

Porquê Tóquio?

Não é realmente um destino comum para um nómada digital, não é um país barato, nem um lugar paradisíaco de praias de coqueiros. Tóquio é várias vezes (não faço ideia quantas) mais cara do que Sófia e não fomos a nenhuma praia nem entrámos no mar. No entanto, fazia sentido para o Adrien, pois gostaria de lançar os jogos que produz no mercado japonês. Além disso, ambos gostaríamos de viver lá temporariamente. Como ele foi a trabalho, a empresa ajudou com algumas das despesas, o que foi fantástico.

Planear em família: o que cada um vai fazer?

Ele iria falar na empresa para definirem a estratégia da viagem e começaria a ativar contactos para encontrar pessoalmente. Nessa altura, já estavam, no entanto, em contacto com uma plataforma japonesa onde um jogo seria lançado daí a alguns meses.

Eu na altura estava a liderar a equipa de design noutra empresa de jogos online e a minha ideia era mesmo tirar férias, possivelmente até pediria uma licença sem vencimento. Na verdade, não pensava ser mesmo nómada digital. Iria preparar bem a equipa, seguir de longe os projetos, e estaria disponível quando necessário. Queria mesmo explorar ao máximo a cidade, talvez participar nalgum workshop e conhecer um pouco mais do design japonês de perto. Acabou por não acontecer bem assim, mas contarei mais tarde.

Quanto à criança, nenhum de nós poderia passar o tempo todo com ela, por isso, teria de ter o seu próprio programa. Comecei então à procura de campos de férias. Passar os dias todos a visitar uma cidade como Tóquio não seria divertido para nenhum de nós.

Quando ir e por quanto tempo?

O nosso filho ia mudar de escola, para entrar na pré-primária no início de setembro. Gostaríamos também que ele não perdesse aulas no infantário que seriam importantes para começar o novo ano mais confiante. Depois, quando comecei a investigar sobre os campos de férias em Tóquio, também tornou-se evidente que havia mais opções no verão, durante as férias escolares locais.

Quanto às datas exatas, foram condicionadas por constrangimentos antes e depois. A escola iria começar dia 5 de setembro em Sófia, e no último fim de semana de julho o Adrien iria participar num LARP na Bélgica. Um jogo de interpretação ao vivo onde já participava há mais de 10 anos e não queria perder.

Conclusão: vamos para Tóquio em agosto. Mesmo que seja uma das alturas do ano menos recomendadas por estar um calor insuportável. E confirmo, esteve realmente muito calor, com ar condicionado ligado em todo o lado.

Procura de casa para alugar e campo de férias. Por onde começar?

Decidi começar pelo campo de férias, e depois procurar casa na mesma zona. Sentindo-me perdida no mundo google, virei-me para amigos com filhos que tinham lá vivido e para grupos no facebook para pedir recomendações. Com o que me disseram e com o que encontrei no Google e segundo as datas possíveis, acabei por escolher uma escola na zona de Minato-ku. Super central e boa para famílias. 

O super central e boa, claro que queria dizer também super cara! A procura de casa foi sofrida. Não estávamos a encontrar nada minimamente decente sem ser mega exorbitante. Procurei no Airbnb, no Booking, no Facebook, em blogs, em imobiliárias… nada. Finalmente lá encontrámos um alojamento (no Airbnb), a um preço apenas exorbitante. Era uma casa bastante típica, com uma divisão por andar e tatamis nos quartos, a 15 minutos a pé da escola. Perfeito, pensávamos nós… 

Voos, visto, roaming, transportes. Ah, e babysitter?

Restava marcar os voos e verificar o regime de entradas no portal das comunidades. Tanto portugueses como franceses podem ficar no Japão até 90 dias sem necessidade de visto prévio. Verificámos também se os passaportes tinham ainda mais de 6 meses de validade, e um deles, o do nosso filho, teve de ser renovado antes da viagem. A marcação das viagens até correu muito bem, conseguimos bons preços e bons horários com a Qatar airways. À ida tínhamos umas 6 horas de escala em Doha e seria perfeito para sair do aeroporto e ir jantar com amigos.

Também procuro sempre, antes de viajar, qual a melhor maneira de ir do aeroporto para o alojamento. No caso de Tóquio, táxi iria ficar caríssimo, então depois de alguma pesquisa decidi-me pela JR line do aeroporto até à estação de Shimbashi, sem mudanças. Depois, iríamos de táxi até à casa.

Roaming, sempre importante verificar. A minha operadora búlgara tem pacotes de dados pré-pagos, para usar fora da UE, em que 1 GB fica a uma fração do preço normal. Adicionei um ao meu plano. Outra alternativa, no Japão, seria alugar uma “Pocket-WiFi”, um pequeno aparelho portátil ao qual ligamos os nossos dispositivos à WiFi, em qualquer lado. Ainda pensei em comprar logo no aeroporto à chegada, mas como íamos chegar tarde, depois de uma longa viagem com uma criança, e como já tinha o pacote de dados, deixei para depois. E ainda bem, porque o segundo apartamento onde ficámos tinha WiFi portátil para usar em casa ou na rua, sem pagar mais por isso. 

Entretanto comecei a pensar que seria bom encontrar uma babysitter caso precisássemos. Através de recomendações num outro grupo no facebook encontrei a carefinder.jp e não podia ter corrido melhor. O site funcionou na perfeição (o melhor que conheço do género), com vários perfis de pessoas que seriam boas opções. Fiz algumas entrevistas em vídeo chamada antes de ir e acabei por escolher uma moça francesa que estava a estudar/trabalhar e não vivia muito longe de onde iríamos ficar (importante para o regresso de táxi à noite, caso já não haja transportes). Ela foi fantástica e muito útil, bem mais do que o inicialmente planeado.

E o japonês? Tenho de aprender!

Os japoneses não são conhecidos pela fluência noutras línguas. Achei por bem começar logo a aprender japonês com o Duolingo, o qual recomendo. E, também à procura de um professor privado de japonês em Sófia. Encontrei já um pouco tarde, mas ainda tive 1 mês e meio de aulas juntamente com outros amigos interessados. Apesar de achar no início que até não era muito difícil, mesmo com três alfabetos e de não separarem as palavras com espaços ( :O ), já perto da data da viagem descubro que a maneira de dizer os números em japonês varia consoante o objeto a que se refere!

Nessa altura fiquei bastante desmotivada e achei que não ia conseguir aprender um mínimo para comunicar. E, realmente, quando lá cheguei, tudo o que aprendi evaporou-se da minha memória. Usei talvez nem meia dúzia de palavras. Mas não senti a necessidade de dizer muito para compreender ou ser compreendida. Mesmo a falarem pouco inglês e eu nada de japonês, achei os japoneses muito solícitos, o que ajudou a sentir-me bem recebida e compreendida, pelo menos enquanto turista.

Continua a ler em: Nómada digital em família – O nosso verão em Tóquio 2/2

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