Parentalidade Multilingue – os desafios de ensinar português por entre outras línguas

Catarina Leal Bacchi

Ontem fui relembrada, mais uma vez, que não é assim tão comum a parentalidade bilingue e ainda menos a multilingue.

Mesmo se  o bilinguismo ou multilinguismo são a norma em muitos países, pode ser difícil ensinar uma língua quando não há o apoio de toda uma comunidade ou da escola. Este é um desafio que muitos casais a viver no estrangeiro, por vezes de nacionalidades diferentes, encontram.

Parentalidade no estrangeiro: a escolha de passar a língua materna

Ontem, uma senhora deu-me os parabéns por o meu filho falar português comigo. Ela continuou a contar a experiência de um casal amigo, ambos búlgaros, que vivem em França. Apesar de falarem sempre em búlgaro entre eles, acabaram por falar em francês com as duas filhas. Estas, já grandes, querem agora aprender o idioma dos pais, mas é tão mais difícil do que se fossem pequenas, e poderão fazê-lo apenas como qualquer outro estrangeiro.

Por vezes esqueço-me que famílias multilingues podem ser consideradas excecionais e muitos acabam mesmo por desistir de passar a língua materna aos filhos. Na minha cabeça sempre esteve muito claro, desde nova, que se tivesse filhos estes falariam português. A minha mãe confessou-me, já quando o neto tinha perto de 3 anos e já falava qualquer coisa, que tinha receio de não o vir a entender por não falar português. Claro que falaria português!! 

Quando estava grávida ainda falava em inglês ou por vezes em francês com a minha barriga. O português não vinha naturalmente. No entanto, a partir do nascimento, passei a falar exclusivamente na minha língua mãe com o bebé. Nunca pensei falar outra língua com os meus filhos. E espero que venha a ser totalmente fluente como um nativo, mas isso, a ver vamos.

Ser bilingue é sempre uma vantagem

Cresci monolingue e vivi em Portugal até aos 23 anos. Tenho orgulho em ser Portuguesa, mas não sinto a necessidade de viver como se estivesse em Portugal. Raramente vejo televisão ou leio jornais portugueses e não sofro por não ter os produtos que mais gosto do meu país. Vivo há quase 20 anos no estrangeiro sem contacto diário com o português (antes de ser mãe), mas nunca deixei de a falar. Mesmo que por vezes me faltem as palavras ou use alguns estrangeirismos, ou os meus amigos digam-me que estou com um sotaque estranho.

Frequentemente os pais receiam que uma língua adicional cause dificuldades na linguagem, ou sejam excluídos na escola, ou simplesmente não acham o português relevante. Acredito que a tendência esteja a mudar, mas ainda há quem desista por estas razões ou, porque é difícil manter o nível de uma língua quando toda a comunidade fala outra.

parentalidade multilingue

Existem estudos que mostram que o multilinguismo não causa atraso na linguagem nem confunde as crianças. No entanto, pode parecer porque as crianças têm muito mais informação para processar. E se uma criança monolíngue falar 100 palavras, se tivesse outras três línguas para aprender, poderia falar apenas 25 em cada uma o que pode parecer ser bem menos fluente.

Também acredito que todas as línguas são importantes, pelas oportunidades profissionais, pela comunicação com a família alargada, como ligação à herança cultural, assim como abrir as portas para diferentes grupos linguísticos.

Por outro lado não acredito que as crianças sejam esponjas. Certamente que os seus cérebros estão aptos a aprender coisas novas e aprendem línguas de forma diferente dos adultos, mas na minha experiência não aprendem do dia para a noite e demora tempo e esforço de todas as partes envolvidas. Pode não ser fácil, especialmente quando somos os únicos a falar a língua.

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É uma escolha.

No meu caso, é uma escolha consciente que faço todos os dias e vou adaptando consoante o desenvolvimento que observo no meu filho.

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