Comprar casa em Estocolmo

Ana Cerqueira

Foi só após 2 anos a viver numa casa alugada que decidimos que o passo a seguir seria o de comprar casa em Estocolmo, tínhamos um bom pé de meia, algumas poupanças em Portugal.

O mercado imobiliário estava a atingir valores loucos que tinham influência nos aumentos das rendas, mas foi precisamente quando um cano da cozinha entupiu encharcando a laje do piso que nos vimos numa situação complicada. A casa ficou inabitável por 2 meses e nesses 2 meses foi praticamente impossível encontrar algo decente que fosse cobrado pelos seguros. 

Começamos então a saga da compra da nossa casa. Há sempre a forma tradicional que é dirigirmo-nos a um imobiliário e explicar as nossas intenções, mas não sendo nós clientes extraordinários tivemos que seguir o modelo “sueco”. 

Depois não se compra exatamente casa, mas a maior parte das vezes o direito a viver numa Associação (condomínio), o que também terá os seus custos e que podem variar muito dependendo se o prédio tem lojas, ou muito jardim. 

Passos para a comprar casa em Estocolmo:

1. Informarmo-nos no banco de quanto dinheiro dispomos para empréstimo.

2. Ter uma app que se chama Hemnet e que lista todas (ou quase todas) as habitações disponíveis para venda. 

3. Ir ao visning e se interessado deixar os dados com o imobiliário presente.

4. Começar o bidding. 

5. Com sorte ganhar a casa e agendar a hora para assinar o contrato.

Vamos entender cada uma das etapas a fundo:

1. O Banco é a etapa menos complicada.

Na compra de uma casa tem que se pagar 15% do valor da casa à cabeça, sendo que do restante se pode pedir empréstimo. Na prática se o valor da casa for de 6 000 000 kr (aprox 600 000 €) terá que se ter disponível para pagar 900 000 kr (aprox 90 000 €) 

2. Hemnet 

É talvez um dos vícios mais deliciosos dos suecos, o Hemnet. Neste site listam as casas todas disponíveis com um preço base e por tipo (em associação ou não, casa ou apartamento, preço, zona, área, número de quartos.) Juntamente com um rol de fotografias da casa mobilada, planta e outras imagens que podem ser apelativas, desde a praia ou o jardim nas proximidades, como um vaso à janela ou o saleiro na cozinha. 

Na app podem ver em que dia a casa vai estar aberta para visning, que não é mais do que uma slot de tempo de 30 min, normalmente em dois dias seguidos, em que a casa vai estar aberta para quem a quiser visitar. 

A ideia aqui é fazer uma lista das zonas que interessa, ver o calendário e tentar juntar 2 ou 3 visitas seguidas no mesmo dia. 

3. Visning 

Quando vamos visitar as casas temos que ter presente muito bem o que procuramos ter numa casa, temos cerca de 15 minutos para ver a casa juntamente com outras pessoas, e antes das apostas não haverá mais oportunidades de ver a casa. Isto quando o mercado está em alta e há muito interesse, quando o mercado está mais fraco pode acontecer que haja mais do que 2 dias de casa aberta.

Normalmente as casas estão mobiladas com a mobília dos donos mas há quem pague para se fazer o styling da casa, o que aumenta o preço porque … talvez se fique com os olhos cheios de “bom-gosto”? 

Eu levava sempre comigo uma fita métrica e uma bússola, primeiro porque a orientação solar é muito importante num país muito escuro no inverno, depois porque como já tinha mobília queria ter a certeza que conseguia espaço para a mesma. 

Se houver interesse na casa fazem-se as perguntas extra ao imobiliário, se a casa tem arrumo, se o prédio tem garagens, como está a economia da associação, o que vai ter implicações na mensalidade do condomínio, etc e deixas os teus dados para ser contactado. 

4.Bidding 

Em todo o processo a parte que menos me convence. A casa apresenta um preço base e quem fica com a casa é quem dá mais. Começam as apostas e pode ser um processo enervante, mais quando não estás disposto a dar um rim também. O imobiliário liga e pergunta o preço, fazemos a nossa oferta e ficamos a espera que nos ligue de novo. Este processo pode demorar até 3 dias e incluir mais de 5 chamadas por dia. Os valores das licitações são públicos mas as pessoas (assim como os donos da casa) permanecem no anonimato até ao fim do processo, o que me fez sempre duvidar da honestidade de tudo isto. Chega aquela momento em que já só se sobre 5000 kr em cada licitação (costuma ser o mínimo) e depois vai-se desistindo pelo caminho. Vimos casas com preço base de 6M kr a chegar aos 7,5M kr em bidding. 

5. Contrato 

Se formos os sortudos a ficar com a casa, agendamos nova data para assinar o contrato. E no dia das mudanças (que pode ser 3 meses depois) é que nos dão a chave e finalmente teremos tempo para apreciar a compra que fizemos.

 Fatos interessantes na compra de Casa em Estocolmo:

As associações (förening) cobram uma mensalidade que pode variar muito de condomínio para condomínio, se houver lojas, normalmente o condomínio vai ser mais barato, e neste valor estão incluídas todas as despesas com os espaços comuns, assim como a água e o pacote de televisão e internet. O proprietário é responsável pelos espaços interiores da sua habitação, portanto as varandas, as janelas, e as paredes exteriores são da responsabilidade do condomínio. Mesmo assim não podemos fazer alterações ao interior (casas de banho, cozinhas, novo pavimento) sem a aprovação do condomínio. 

Os Suecos, pelo menos em Estocolmo, não possuem uma relação muito apegada com as casas, em média mudam de casa 7 vezes na sua vida, e as casas não são para a vida. Por norma compram ou herdam uma pequena moradia, uma “cabana” tipo bungalow numa aldeia junto à costa oeste, ou no interior da Suécia, e nessa casa sim, perdem tempo, fazem pequenas construções, decks, estufas, pintam… divertem-se. Para muitos a cidade é a fase de vida para criar filhos e ter uma carreira, após isso abandonam as cidades e por essa razão Estocolmo é uma cidade relativamente jovem. 

Outro facto interessante, mais de 50% dos habitantes de Estocolmo vivem sozinhos (estudantes, solteiros, divorciados e viúvos) e por isso o mercado tem um excesso de apartamentos pequenos, desde sem quartos até 2 quartos ( sendo a maioria entre 20 a 65 m2). 

A malha urbana de Estocolmo apesar de densa, não tem arranha céus, é na sua totalidade uma cidade muito baixa, e os novos bairros fora do centro são construídos de uma forma que integra a natureza. Chamadas as cidades jardins, o sentimento é que se está sempre no meio da floresta, a poluição é bastante baixa, e o ruído do trânsito sempre em avaliação pelas autoridades.

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