Depois de instalados, os dias foram passando, a rotina começou a enraizar-se. Na Suíça não há aulas às quartas-feiras à tarde, precisava e preciso de puxar pela imaginação para os entreter. Mas é bom estar com eles. Difíceis são as decisões que tive que tomar sobre adiar a entrada na escola ou não.
Primeiras palavras em Francês
Os miúdos falavam da escola com alegria e a Leonor até começava a dizer umas palavras em francês apesar de me dizer: “Mamã, não entendo nada e eles fazem coisas muito difíceis.” Como imaginam, estas exclamações deixam pequenino o coração de qualquer mãe, mas tinha de passar-lhe força e vontade para ultrapassar os momentos mais difíceis. Na Suíça a escola obrigatória começa aos 4 anos e é nessa altura que iniciam a aprendizagem das letras e, consequentemente, a leitura. Hoje reparo que ela ainda não estava preparada para isso. Em Lisboa frequentava uma escola pública, que adorava e, do que pude perceber, as brincadeiras eram o dia-a-dia.
Recordo-me que após dois meses de escola, em abril, recebemos uma mensagem da professora da Leonor a pedir para irmos falar com ela. Nessa conversa partilhou que a Leonor já interagia com os amiguinhos, que não a achava tímida, mas a sugerir que ela repetisse o ano escolar, já que tinha iniciado um período mais tarde que os seus colegas sem nenhum conhecimento da língua (ingressou apenas em fevereiro) . Confesso que fomos apanhados de surpresa e, na altura, não me pareceu a melhor hipótese. Pensava eu: “porque vai ela repetir um ano, se em Portugal ainda nem tinha entrado na escola?” Propus à professora que faria exercícios com ela e que voltaríamos a falar dali a um mês.
Durante esse tempo tentei sentar-me com ela a fazer exercícios de motricidade fina mas ela só queria brincar. Depois de cada página de trabalhos dizia que estava muito cansada. Hoje acabo por achar graça mas, na altura, irritava-me imenso. A ideia era escrever os números com ela, mas não era nada fácil, porque não aguentava muito tempo. Acabei por concluir que talvez ainda não tivesse maturidade para o nível que lhe estavam a exigir.
Adiar a entrada foi a decisão
Passado um mês, aconteceu a segunda conversa com a professora da Leonor. Quando chegámos percebemos que com ela também estava a diretora pedagógica da escola. Foram as duas muito convictas a sugerir que a Leonor repetisse o ano. Propunham adiar a entrada na escola. Questionamos se havia a possibilidade de, caso ela viesse a demonstrar que estava apta a avançar de ano o pudesse fazer, a resposta foi negativa.
Depois de sair da reunião digerimos o que nos foi dito. Senti uma grande ansiedade porque não sabia mesmo o que fazer. Em conversa com algumas amigas percebi, que está é a mesma questão que inquieta os pais dos meninos que fazem anos entre Setembro e Dezembro.
Lembro-me de partilhar esta situação com a minha professora de francês e com a professora de francês de apoio da Leonor. Exprimiram-me opiniões contraditórias. A minha achava que repetir o ano não era um problema e que poderia ser a melhor solução para ela avançar mais madura. Por outro lado, a professora da Leonor achava que era um disparate, já que ela estava, na opinião dela, ao nível dos meninos que ela conhecia do mesmo ano.
Apesar de tudo isto, não havia nada a fazer. Não a podíamos tirar da escola porque já havíamos feito a inscrição para o ano seguinte e o pagamento dos primeiros meses, e não a podíamos obrigar a passar de ano. Chegámos assim ao fim de um ano letivo.
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