Começo por abrir o baú das recordações e recuar até ao Natal de 2001. Há 20 anos passei, pela primeira vez na vida, o Natal fora de Portugal e sem ter a família por perto. Melhor dizendo, não tinha a família de sangue mas tinha a família de amigos que me escolheu e que eu escolhi. Amigos que estavam a trabalhar comigo em Timor-Leste e também eles a passar o seu primeiro Natal tropical, sem o quentinho da lareira e os abraços dos pais e irmãos. Sei que esse Natal foi particularmente duro para a minha mãe e o meu pai porque sou filha única e esse era o primeiro que passavam sozinhos.
Lembro-me de eu e o meus amigos termos escolhido um restaurante na praia de Jimbaran, em Bali, e com os pés enterrados na areia comemos muito marisco e bebemos cerveja Bintang. Foi toda uma experiência alucinante e fantástica que guardo até hoje no coração.
Depois desta primeira vez, outras se seguiram. No ano seguinte fui para o Cambodja e, anos mais tarde, regressaria à Indonésia.
Durante alguns anos conseguimos juntar os meus pais aos nossos Natais tropicais. Em 2017 andámos por Boracay (Filipinas) e em 2018 levei-os a Díli (Timor-Leste). Em Boracay escolhemos um restaurante junto à praia e jantámos em ambiente descontraído e internacional. Não tivemos direito a rabanadas ou Bolo-Rei mas não nos faltou animação. Lembro-me da cara da minha mãe ao ver a comida distribuida pelas mesas decoradas. Seria uma cara de espanto por ver comidas que nunca tinha visto na vida? Seria felicidade por, pela primeira vez, não ter passado todo o dia 24 colada ao fogão? Seria saudosismo de um Natal mais frio e das iguarias portuguesas? Eu acho que era um misto das três situações.
No ano seguinte – em Díli – lembro-me de percorrer as ruas da capital timorense para ver os presépios e na noite de Natal juntámos amigos portugueses e espanhóis. Foi uma ceia mais tradicional e portuguesa, houve bacalhau e Bolo-Rei, rabanadas e aletria. Não fosse o calor da noite timorense e quase acreditava que estávamos em Portugal.
Em 2019 voltámos aos Natais a quatro no local mais improvável do mundo. Na altura andávamos a visitar o Myanmar e escolhemos um hotel em Yangon para celebrar a noite de 24 de dezembro. Levámos presentes simples escondidos nas malas para os miúdos e celebrámos a nossa vida, agradecemos as oportunidades que temos tido de correr mundo e proporcionar uma vida tão rica em experiências aos nossos filhos.
2020 foi um ano atípico para todos e optámos por evitar viagens na altura natalícia. Recém chegados a Lima, escolhemos o nosso apartamento (onde quase acampámos durante 3 meses enquanto esperávamos pelo nosso contentor vindo da Indonésia) para passar a noite de Natal. Fizemos uma celebração “tuga” com todos os ingredientes que consegui comprar nos supermercados peruanos e, apesar de todos os contratempos, foi uma noite mágica.
Este ano temos tudo planeado para mais um Natal tropical. Os presentes continuam a não ser o foco das atenções, mas sim toda a viagem e as experiências que temos planeadas. Toda a viagem é um presente para a família. O nosso maior desejo é que os nossos filhos um dia possam recordar estas viagens com carinho e saudosismo e valorizar todos os momentos únicos que lhes temos proporcionado.
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Olá Betinha, como sempre para mim és “National Geographic “, o Natal é onde e como o Homem quer, o mais importante é estarem juntos, felizes e a colecionar experiências.
Amo cada local que mencionas, embora conheço da internet, mas quando tu os descreves dás um toque maravilhoso á “Tuga”.
Parabéns e não páres de escrever e de voar.
Espero que consigas ler esta mensagem.
Abraço