Viver em Jacarta, sim ou não?

Elisabete Souto

Jacarta não é uma cidade de meios termos. Ou se gosta ou se odeia. 

Ser estrangeiro e viver na capital Indonésia tem aspetos positivos e negativos. Independentemente do tipo de trabalho e do “pacote de expatriado” que se tenha, é possível viver em Jacarta com conforto e alguns “luxos”. 

Em primeiro lugar Jacarta fica perto de imensas ilhas paradisíacas que muitos ambicionam um dia visitar. Por exemplo: a pouco menos de duas horas de voo de Bali, viajar para a “ilha dos Deuses” a partir da capital é rápido, cómodo, barato e qualquer estrangeiro residente o faz com frequência. Uma viagem (ida e volta) ronda os 80 € por pessoa e é daquelas viagens que se fazem facilmente para passar um fim de semana prolongado de 3 ou 4 dias. 

O Clima

Jacarta tem clima tropical todo o ano, variando apenas a quantidade de precipitação. O ano divide-se em duas épocas: a época seca e a época das chuvas. O lado positivo é que é verão todo o ano e quem é que não gosta de poder usar roupas leves, chinelos no dedo e dar um mergulho na piscina a qualquer hora? Por outro lado, as inundações em muitas partes da cidade (mais de metade da cidade encontra-se abaixo do nível do mar e todos os anos se afunda um pouco mais) e o risco de contrair dengue são uma constante que atormenta quem por lá vive. 

A vida do estrangeiro

Muitos estrangeiros chegam à Indonésia com contratos de trabalho muito confortáveis que lhes permitem alugar apartamentos ou casas em zonas agradáveis, contratar empregadas domésticas, amas, jardineiros, motoristas, etc.  Alugar uma casa com 5 quartos, jardim e piscina em condomínio privado ronda os 3000 € mensais; o ordenado de um motorista ou empregada de limpeza pode variar entre os 250 e os 300 € por mês. 

Os estrangeiros com filhos em idade escolar podem contar pagar valores exorbitantes para inscrever as crianças em uma das muitas escolas internacionais que a capital indonésia tem para oferecer. A oferta de sistemas educativos é extensa (britânico, americano, australiano, neo-zelandês, francês, alemão, japonês, etc) e estas escolas existem um pouco por toda a capital havendo, no entanto, uma maior concentração na zona sul pois é também aí que vive a maior parte dos estrangeiros.

Como exemplo posso indicar os valores pedidos pelo Colégio Britânico no ano letivo 2021/2022: para a primária os valores rondam os 20 000 euros anuais e para a secundária os valores sobem para os 22 600 euros por ano. 

A maioria dos estrangeiros vive uma vida luxuosa, rodeados de bons cafés e restaurantes, empregados para todas as necessidades e bastantes supermercados com produtos internacionais de qualidade a preços bastante elevados (se comparados com Portugal). Em contrapartida, fazer compras nos mercados locais sai bem mais em conta mas corremos o risco de comprar carne e peixe pouco frescos ou podres (falo por experiência própria) ou outros produtos fora de prazo. 

Aspectos positivos e negativos de uma vida em Jacarta

A meu ver, Jacarta tem alguns aspetos positivos (já enumerados) mas tem muitos mais aspetos negativos.

A somar aos já referidos (inundações, custo dos produtos, dengue) existe ainda a questão do trânsito (que é medonho) e da poluição do ar. Apesar de não chegar aos valores a que, infelizmente, nos tinhamos habituado em Pequim (onde morámos antes de nos mudarmos para a Indonésia), Jacarta tem visto o problema da poluição (do ar, mas também poluição sonora) aumentar nas últimas décadas e muito pouco tem sido feito para resolver o problema.

Esgotos a céu aberto, pilhas de lixo nas bermas das ruas, demasiadas motorizadas, transportes públicos (autocarros) antigos e super poluentes e excesso de trânsito fazem de Jacarta uma cidade pouco atrativa. Há pouquíssimos parques e toda a cidade está pensada para o uso de transportes mas não para ser percorrida a pé. Passeios e ciclovias só na zona do CBD – o centro financeiro e mais moderno da capital. 

Em termos de oferta cultural a cidade tem alguns museus interessantes, sobretudo dedicados à história da cidade e do país, mas não oferece muitas mais oportunidades culturais além disso. O número de turistas que visitam a capital é muito reduzido pois a esmagadora maioria prefere visitar zonas mais interessantes como Bali ou Jogjakarta.

Um outro aspeto menos agradável é a quantidade de mesquitas que existem na cidade. Ora, embora eu não tenha nada contra a religião muçulmana, a verdade é que esta prevê 5 orações diárias, sendo que uma delas é de madrugada (cerca das 4 da manhã) e é muito complicado dormir quando se têm 5 mesquitas num raio de 1 km de casa. Na verdade, as orações diurnas quase passam despercebidas se estivermos ocupados, mas a noturna é bem mais audível e com efeitos evidentes no sono e no descanso de toda a família. 

Em jeito de conclusão:

Viver em Jacarta valeu, no nosso caso, pela casa onde morámos, pela escola que os nossos filhos frequentaram e pelo círculo de amigos que tínhamos mas ter qualidade de vida vai além destes parâmetros e daí a nossa decisão de mudarmos para outro país. 

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