Vida em Família em Países Diferentes

Lucília Pires

Como acredito que algumas verdades devem ser ditas seguindo o procedimento do penso rápido, ou seja, imediatamente e de uma vez só, digo-vos já: viver em família em países diferentes é possível, mas não é fácil. 

O que para nós é, não será para outros

Sei que há casais/famílias que vivem com a distância geográfica durante anos de forma tranquila e descomplicada. Na realidade, a história da imigração está repleta de casos de homens e mulheres que partiram para outro país, deixando o parceiro e os filhos no país natal, na esperança de um dia poderem encontrar condições de se reagruparem e viverem novamente sob o mesmo teto. Confesso que para mim e para a minha família, isso não dá.

Precisamos da presença física, do toque, dos olhares cúmplices, daquele abraço apertado, em suma precisamos de estar juntos. Mas como no melhor pano cai a nódoa, já nos aconteceu termos de viver separados por quase 2500 km e 15 horas de voo, durante 9 meses, e não foi fácil. 

Nota introdutória

Para resumir uma longa história, após 10 anos de casados e sem conseguirmos ter filhos, resolvemos iniciar um processo de adoção na Segurança Social em Portugal. Fizemos as entrevistas, entregámos a documentação necessária, e fomos colocados em lista de espera. Algum tempo depois fiquei grávida, e tivemos o nosso primeiro filho.

Como era já uma grávida geriátrica (+35 anos), e queria ter mais filhos, continuámos com o processo de adoção. Escusado será dizer que, 9 meses depois fiquei novamente grávida, contudo dadas algumas complicações na altura do parto do segundo filho, ficar novamente grávida num curto espaço de tempo, não era uma opção, pelo que prosseguimos com o processo de adoção. Entretanto, recebemos a proposta para o meu marido trabalhar na Arábia Saudita.

Quando alertámos a Segurança Social para este facto, a questão foi a do costume: “mas querem continuar com o processo, certo?” 

A nossa família em países diferentes

Após quase 3 anos a viver em Jeddah, na Arábia Saudita, recebemos a notícia de que poderíamos iniciar o processo de adoção da nossa filha mais nova. Convém aqui salientar que, contrariamente à maioria dos países do mundo, na Arábia Saudita a adoção não é concebível, e ter uma criança à guarda, sem ser oficialmente nossa é impossível, pois não lhe concedem visto de entrada. E então, no espaço de uma semana, tomámos a decisão de voltar a nossa vida de pernas p’ro ar.

O meu marido continuaria a trabalhar e viver em Jeddah, e eu mudar-me-ia de volta para Lisboa com os rapazes pelo período que durasse o processo.

Tínhamos planeado umas férias de Páscoa na Jordânia, e o que fizemos foi vir para Portugal preparar tudo: casa e escola para os miúdos, iniciar o processo definitivo, conhecer a nossa filha, trazê-la para casa connosco. 15 dias depois o Pedro regressou a Jeddah e eu fiquei em Lisboa, com 3 filhos, de 5, 3 e 1,5 anos. Piece of cake, como dizem os ingleses. 

A empresa foi impecável, e apesar de não haver legislação local sobre o assunto, deu-lhe a possibilidade de vir a Lisboa de 3 em 3 semanas e ficar durante uma semana connosco. O Serviço de Adoções da Segurança Social foi 5 estrelas, pois compreenderam e empatizaram com a situação, e expeditaram todo o processo. Conhecemos a nossa filha numa segunda-feira, levamos os irmãos a conhecê-la no dia seguinte e nesse mesmo dia ela veio connosco para casa. Mas foi um período muitíssimo intenso e bastante complicado, e o viver separado por 2500 kms não ajudou. 

Descobri também nestas andanças que ficar sozinha mesmo que só durante 2 ou 3 semanas no estrangeiro é bastante mais complicado, mas isso é conversa para outro dia.

Felizmente estávamos em Portugal, pelo que a família e os amigos estiveram sempre presentes e disponíveis para ajudar no que fosse preciso. E se a integração da nossa filha na família alargada foi claramente facilitada pela proximidade, verifiquei também que a distância geográfica dificultou o processo de vinculação inicial com o pai. 

Escusado será dizer que o resultado da separação geográfica valeu completamente a pena, mas seja como for, viver em família em países diferentes não é para mim. Costumamos dizer, à laia de brincadeira, que eu e ele somos um, e efetivamente sentia que me faltava um pedaço, que estava incompleta e disso, não gostei. BTW Feliz dia dos Namorados!

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