Um ano depois da Covid ter chegado cá a casa

Flávia Neves

Faz um ano que ouvi falar da Covid pela primeira vez. Aqui na Suíça os casos começaram mais cedo do que em Portugal. Quando começaram as notícias de mortes e do número de infectados a aumentar, hipocondríaca como eu sou, comecei logo “stressar” e a “panicar”.

Na altura, as minhas amigas, longe de imaginar a gravidade da situação, brincavam comigo e diziam que eu estava a exagerar. Lembro-me que fui a única a faltar à festa de despedida da minha querida vizinha, do olhar de “gozo” das pessoas quando eu tocava com o cotovelo no botão do elevador, lembro-me de rezar para que as escolas fechassem. Sim, tinha medo, e mal sabia que a Covid iria entrar em minha casa em pouco tempo. 

A Covid chegou cá a casa

No dia 17 Marco 2020, soubemos da notícia que o meu marido estava infetado. Lembro-me que chorei muito, chorei por medo da doença que mal conhecia. Muitas questões atormentavam a minha cabeça: “Será que ele vai para o hospital? Ou serei eu? E se formos os dois, quem vai ficar com as crianças? Ele esta a tossir, será que está com falta de ar? Eu que sempre apanho as viroses dos miúdos e fico facilmente doente, será que vou ficar muito mal? Será que infetámos mais alguém?”

O pior desta doença é ansiedade que traz consigo, especialmente numa altura em que ainda era desconhecida. Acordava inúmeras vezes durante a noite a pensar que estava com dores de garganta ou com febre ou simplesmente com o som da tosse do meu marido.

Comecei a tomar todas as vitaminas que havia na farmácia, chá de tudo e mais alguma coisa na esperança de evitar o “bicho”. Foram 2 semanas duras, desde gerir toda esta ansiedade e de ao mesmo tempo ter que cuidar da casa, de duas crianças de 4 e 6 anos que não percebiam muito bem porque o pai estava fechado no quarto, da impotência de ver o marido doente e de não me poder aproximar, apenas deixar friamente o tabuleiro com comida e para logo de seguida ter de o desinfetar.

Pelos meus filhos, a ansiedade e o medo foram substituídos por sorrisos e boa disposição. Nunca me vou esquecer do dia de aniversário do meu marido, dois dias depois de termos recebido a notícia de que estava infetado. Fizemos um bolo, apagámos velas, cantámos os parabéns, fizemos um cartão, com a mesma alegria, entusiamo e intensidade de sempre. Afinal o pai estava no quarto… e nós, no outro lado do corredor. O pai estava em casa. Haveria lá coisa mais importante!

Acabou por tudo correr bem. E depois destas semanas, descobri que afinal sou uma mulher forte, que afinal não fico facilmente doente, que quando é preciso vamos buscar forças que achávamos impossíveis, que apesar de não ter família perto, tenho amigas incríveis, que ter fé ajuda, que é importante aceitar, confiar e acreditar.

Um ano depois da Covid ter chegado cá a casa

Sou uma pessoa mais forte, mais corajosa, com menos medos, descobri um novo hobby (a corrida que me ajuda a libertar energia e a organizar ideias), superei o medo de fazer ski (há um ano era impensável, o medo de cair ou de me magoar paralisava-me) e concretizei um projeto que tinha em mente já há bastante tempo, mas faltava-me coragem e confiança para avançar. 

Agora sou Coach e ajudo pessoas a superar medos, recuperar auto-confiança e auto-estima, melhorar o seu desenvolvimento pessoal ou que estejam a passar por processos de transição (país, vida, carreira). 

Visite o meu site e para mais informações entre em contato comigo. 

https://flavianevescoaching.com/

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