Tudo é cíclico em Portugal e no Luxemburgo, o que é verdade hoje pode não ser amanhã.
Quando olho para a rua que me viu crescer vejo que já teve dois sentidos em tempos, mas era estreita e tornava-se perigosa, com o aumento de carros resolveram colocar como rua de sentido único com estacionamentos laterais. Deixou de haver passagem e se houver algum acidente ninguém passará. Resolveram também aumentar os passeios e criar passeios para bicicletas. Visto não ser uma prática comum em Portugal e não estimulando socialmente a esse hábito eu diria que é uma excelente ideia que possivelmente não será nunca explorado como deve ser.
É excelente ser-se criativo mas fundamental chegar a quem vai usufruir das nossas ideias.
Depois de vos mostrar o resultado da “minha” rua irei agora comparar com a educação.
Não adianta termos um sistema todo xpto quando não conseguimos chegar a quem vai usufruir dele. No tempo dos meus avós as aulas eram exclusivamente expositivas, as ideias e posições dos professores não eram questionadas. O professor do primeiro ciclo por exemplo explorava todos os conteúdos da forma como achava mais pertinente, se quisesse cruzava conhecimento entre as diferentes áreas. As crianças aprendiam e frequentemente ouvimos “e sabíamos mais com a 4a classe que vocês sabem hoje quando acabam o secundário”. A exigência era muita e não havia outras dispersões de tempo. Brincava-se na rua sem se pensar em novas tecnologias.
Os tempos avançaram mas está a ser difícil perceber-se a essência do que realmente está a mudar. As novas tecnologias não nos ajudam a conviver, a socializar, a comunicar. Dão-nos acesso a sabermos mais mas fazem com que saibamos menos.
No Luxemburgo a educação é complexa e atualmente existem inúmeras escolas internacionais, o que facilita a integração dos estrangeiros. Os pais portugueses podem mesmo optar por ter como segunda língua o português, fazendo com as crianças tenham aulas de português todos os anos. Embora seja uma excelente iniciativa nem todos os pais pretendem usufruir da mesma, o que pessoalmente considero uma pena.
Odeio desde sempre gps e tenho uma excelente organização espacial. Quando uso gps, a não ser que seja para ver onde há menos trânsito, deixo de pensar. Faz com que a minha vida possa ser facilitada uma vez mas não me dá conhecimento para ser mais competente.
É fundamental então que pais e professores promovam conhecimento às crianças para que sejam mais capazes e não menos. Que consigam chegar ao final do secundário com conhecimentos extraordinários que as façam ser melhores e que se consiga dar valor as estradas que vamos criando. Nao vale a pena criar-se passadiços para bicicletas se as crianças não forem ensinadas a utilizá-las.
Uma das premissas que pode também ajudar a perceber a complexidade do mundo atual é que os passadiços das bicicletas não só permitem andar com bicicletas mas com trotinetes, skates,… isto para dizer que podemos e devemos ensinar diferentes coisas mas que para correr bem é fundamental relembrarmos as regras da sociedade. Que colocar pedras nos ditos passeios ou estacionar à frente da passadeira porque estamos com pressa, ou… podia continuar com milhentas desculpas não nos farão ser um bom exemplo, para uma sociedade que continua a precisar de bons exemplos para não se desmoronar. É importante questionarmo-nos sobre o porquê das coisas e tentarmos ser criativos na utilização das mesmas, não esquecendo valores e regras sociais.
Vou também dar o exemplo da educação física que é a minha área profissional.
A primeira questão que lanço é se gostava de educação física na escola? Se gostava é provavelmente ativo nos dias que correm mas lembra-se provavelmente de pessoas que lhe são próximas que não gostavam e que atualmente são completamente sedentárias.
Atrever-me-ia a adivinhar as razões que fizeram essas pessoas abandonarem o gosto pelo movimento e deixo alguns exemplos: bolas muito pesadas que magoavam se não fossem apanhadas convenientemente, repetições “abusivas” de desportos com os quais não se identificava, falta de atividades relacionadas com o dia-a-dia. Nesta parte voltamos a falar de currículos que estão pouco adequados às necessidades. É importante refletir sobre as razões pelas quais queremos que as crianças aprendam e modificar as atividades apresentadas de acordo com os objectivos finais que se pretendem atingir. Se queremos crianças que se tornem adultos fisicamente ativos temos de estimular e adaptar as aulas e os conteúdos aos intervenientes.
Uma das minhas áreas de interesse é a transdisciplinaridade e podem encontrar alguma informação no meu blog: https://educa21ca.blogspot.com/
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Maravilhoso 👏🙏🏼😍 ADOREI!!!