Quando vim à entrevista de trabalho na Holanda, a minha actual chefe disse-me isto: “Não sei se te falaram em part-time, ou full-time, mas se quiseres em part-time, por favor que seja a quarta-feira”.
Eu, achando a conversa do part-time estranha, respondi-lhe que me tinham falado em 40 horas.
Quando cá cheguei percebi. A cultura do trabalho na Holanda é muito diferente de Portugal.
O ritmo de trabalho
Na Holanda, é muito comum o trabalho em part-time, não como o conhecemos em Portugal no geral, em que se trabalham umas 4 horas por dia, ou uns 2 dias por semana, geralmente pessoal mais novo para ganhar uns trocos, mas sim trabalhar 3 ou 4 dias por semana. Aqui, todas as mães que conheço trabalham em part-time (com um dia de folga extra durante a semana) e muitos dos pais que conheço também. Eu sou a única ave rara que trabalha 40 horas semanais, e já me perguntaram: Como consegues?
Consigo da maneira que todas as mães e pais conseguem trabalhar 40 horas semanais e dar conta do recado.
No entanto, o meu marido tem um contrato de 36 horas, e consegue ter um dia livre, trabalhando 9 horas nos outros dias.
A cultura do trabalho na Holanda
Por aqui, dependendo do tipo de trabalho, pode-se trabalhar a partir de casa, muito facilmente, um ou mais dias por semana. Ninguém nos olha de lado, nem acha que passamos o dia em pijama, sem trabalhar à séria.
A questão dos horários…
Em Portugal há muito a cultura de chegar as 9, ir tomar café e só às 10 começar a trabalhar à séria (estou a generalizar, eu sei). Depois, o almoço demora 1 a 2 horas, assim, sair às 6 ou 7 até parece mal, e temos de ficar até mais tarde, só para parecer bem. Sair à hora certa provoca olhares de lado , como se não fosse um direito que temos….E se tivermos feito o nosso trabalho do dia, nem pensar em sair mais cedo! É ficar até à hora, nem que seja a jogar ou a navegar na internet….
Na Holanda, o cafezinho é muito mais rápido, e geralmente à secretária. O almoço é uma sande, também à secretária (estas pessoas são práticas, e comem para continuar a funcionar, ao contrário de nós que socializamos muito à volta da comida), e se tiver acabado o meu trabalho, posso sair mais cedo que não sou olhada de lado. O equilíbrio família-trabalho é levado a sério.
E o valor dado ao trabalho na Holanda
Noutra vertente, e neste caso falo pela minha experiência, dão valor ao trabalho executado, e dão valor à minha opinião. Em Portugal, no geral, a pessoa não é vista como pessoa, mas apenas um número, e o empregado não é tido nem achado em decisões que muitas vezes têm impacto no seu trabalho. Em termos de recrutamento, os futuros colegas falam com os candidatos, e dão a opinião.
Além disso, não dão extrema importância ao visual. No meu caso , em Portugal foi questionada a minha capacidade para a função, com base nas minhas t-shirts com bonecos, e no facto de rir muito. Aqui, a minha chefe veste t-shirts Johnny Cupcake (giríssimas), e rimos muito. E somos considerados competentes… pelo nosso trabalho. Também trato a minha chefe, o chefe do departamento, o COO e CEO pelo nome próprio, em Portugal é o Dr para aqui, Sr. Engenheiro para ali…. enfim… Gosto muito mais desta informalidade.
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Gosto tanto! É uma realidade tão diferente não é Patrícia? ?
Eu também escrevo aqui, sou a “Noruega”?
Mesmo 🙂
Olá, percebo em primeira mão o que descreves. Estou em Eindhoven. Só me apercebi o quanto gostava da Holanda no seu todo durante o tempo que vivi na China. Tudo de bom.
🙂 Nunca fui à China, mas está na lista. Obrigada, para ti também
É isso tudo e muito mais… em 7 anos fora nunca tudo isto foi tao verdade. Apesar de tudo as minhas 37.30 h semanais facilmente passam a 40 e ninguem nota… mas se decidir que querro cumprir horarios ninguem sequer questiona!?
Mesmo, Alexandra. Por aqui a minha experiência é que se trabalho mais, a chefe nota e dá-me dias….