Ter filhos em Nova Iorque

Raquel Ferreira

“Ter filhos em Nova Iorque, é possível?” perguntava-me a colega de trabalho que planeava ter um bebé, sabendo que eu já tinha tido dois, vivendo em Manhattan. Esta não era uma pergunta de sim ou não. E a resposta não era uma, mas muitas. Há tantas formas de encarar este grande desafio de ter filhos fora do país de origem e, neste caso, numa cidade desta dimensão.

Aumentar a família em Manhattan

Documentar, partilhando à distância e ao longo dos meses a barriga crescente através de fotos e vídeos nas ruas de Manhattan é um sucesso entre os amigos e a família. Mas esperar um bebé nesta cidade também é subir e descer com dificuldade as escadas do metro a caminho do trabalho, pois o peso da barriga não perdoa e não há elevadores nas estações de metro mais antigas. É entrar nos grupos de mães online onde se obtêm dicas sobre o enxoval a comprar na Amazon, incluindo os melhores carrinhos de bebé. Estes devem ter rodas adequadas aos passeios com neve no Inverno. É decidir entre uma creche e uma ama quando se planeia o regresso ao trabalho. Ambas as opções são tão dispendiosas como uma segunda renda. É inscrever o bebé em inúmeras creches ainda durante a gravidez, pois as listas de espera são usualmente infindáveis. É ponderar se queremos continuar a viver na cidade, sem carro e num apartamento pequeno, e acabar por só mudar de casa quando é mesmo imprescindível. Ou dar o salto e mudar para os subúrbios em Westchester ou Long Island, onde o espaço abunda e a vida é tranquila, mas os tempos diários de viagem para o trabalho aumentam significativamente. 

Ter filhos em Nova Iorque
Central Park

Filhos pequenos numa grande cidade

Ter filhos em Nova Iorque é começar a conhecer todos os parques infantis do nosso bairro, porque afinal há quase um em cada esquina. É deslocarmo-nos a pé aos locais onde as crianças fazem playdates e têm uma vida social mais intensa que a dos pais. É considerar o Central Park o nosso quintal. É ver os filhotes lá ao longe no relvado sem fim. E correr atrás deles quando começam a andar de trotinete na rua. É ensinar a reconhecer as buzinas e observar o fascínio deles por carros de bombeiros, da polícia, ou autocarros amarelos da escola, iguaizinhos aos carrinhos de brincar. É começar a levar os filhos aos museus que lhes permitem tocar nas coisas, para uma primeira exposição às cores e à arte. É ouvir contar histórias e brincar na zona de crianças da fabulosa rede de bibliotecas públicas. É ouvir os coleguinhas da escola a falar com os pais em tantas línguas diferentes, sentindo o conforto de saber que os meus não são de todo os únicos meninos sem pais americanos.

Ter filhos em Nova Iorque
Filhos em Nova Iorque

Uma aldeia

O ditado “It takes a village to raise a child” é mesmo verdade. É de facto necessária uma rede de apoio, uma comunidade para criar uma criança e para sermos pais. Fazê-lo fora do país de origem e nesta gigante Nova Iorque é um desafio constante. Há que encontrar o nosso canto e a nossa aldeia segura.

As conversas com a minha colega multiplicaram-se e deram origem a uma amizade que passou para além do escritório. A ligação que mantenho com outros pais nesta cidade ajuda-me a manter a sanidade. Apoiamo-nos mutuamente nas diversas fases de crescimento e desenvolvimento dos filhos, e conseguimos assim reduzir um bocadinho o vazio deixado pela ausência da família que vive do outro lado do oceano.  

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2 comentários em “Ter filhos em Nova Iorque

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  1. Gostei muito Raquel. Tens geito para as palavras e a felicidade desta tua vida no outro lado do Atlântico está presente em cada palavra

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