Em termos de cuidados de saúde é importante percebermos que o Serviço Nacional de Saúde nem sempre é universal, tal como o conhecemos e usufruímos em Portugal. Na realidade existem muitos países onde não é possível contar com os hospitais públicos e centros de saúde no caso de necessitarmos de recorrer a uma emergência ou para fazermos os nossos exames de rotina anual.
A minha experiência com (e sem) serviço nacional de saúde
No meu caso, eu já vivi em dois países assim: Brasil e EUA, e em ambos os casos, possuir um seguro de saúde privado é uma condição essencial, algo a ter em consideração quando se decide emigrar, porque estamos a falar de prémios de seguro que facilmente podem ultrapassar os EUR 500-600 por pessoa, por mês.
Sei que há ainda outros países onde o Serviço Nacional de Saúde não é Universal. Portanto, garantir que a empresa cobre, pelo menos parcialmente, o seguro de saúde para o trabalhador e a familia é algo a ter em consideração na negociação de remuneração e benefícios. Ou se a empresa não cobrir, é importante entrar com este custo no orçamento familiar.
Mas apesar de ser essencial possuir seguro em ambos os países, estamos a falar de duas razões distintas do porquê de serviço nacional de saúde nem sempre ser universal.
Experiência no Brasil
No Brasil, existem hospitais públicos, com condições de assistência muito más, mas onde qualquer pessoa pode ser assistida. Agora, quem possuir um bom seguro de saúde vai poder ter acesso a hospitais de referência mundial, como o Sirio Libanês ou o Albert Einstein em São Paulo, que possuem tecnologia de ponta e médicos conceituados.
Tive oportunidade de frequentar esses hospitais e o serviço é fantástico e, apesar dos prémios de seguro serem muito elevados em comparação com Portugal, consegue-se ver o investimento feito e a qualidade do serviço prestado. Ainda me recordo de fazer ressonancias magnéticas há 10 anos atrás com auriculares noise control e com óculos onde podia assistir televisão ou filmes!! Quando perguntei anos mais tarde em Portugal, num hospital privado, se tinham auriculares noise control, disseram-me que não funcionavam com as ondas magnéticas!
Experiência nos EUA
A realidade americana é bem diferente, o sistema nacional de saúde não é universal.
Nos EUA, a primeira coisa que te pedem quando chegas a um hospital é o cartão de seguro de saúde. Em teoria, parece que os hospitais não podem recusar tratamento em caso de vida ou morte, mas a conta do hospital acabará por chegar a casa, e fala-se de casos de pessoas com dívidas enormes a hospitais, que não são capazes de pagar. Adicionalmente estamos a falar de um custo dos serviços médicos e medicamentos muito acima do preço cobrado pelo mesmo serviço em Portugal, pelo que possuir um seguro de saúde é mesmo importante.
Posso dar alguns exemplos para ilustrar esta realidade: como quando me enviaram uma conta de USD$7.000,00 (EUR 6.400,00) por 3 horas numa urgência para me tratarem de uma deslocação do cotovelo (sendo esta a parte não coberta pelo seguro); ou quando a companhia de seguro se recusou a pagar as sessões de fisioterapia a partir de certo momento, e o hospital me enviou uma conta de USD$1.000,00 (cerca de EUR 910,00) por sessão de fisioterapia; ou quando me receitaram uma pomada para um problema de pele que custava USD $500,00, pomada essa que acabei por comprar em Portugal por EUR 22,50 (sem comparticipação!!), e a lista continua!…
A indústria Seguradora, em conjunto com as indústrias Médica e Farmacêutica, tem um poder enorme nos EUA, sendo financiadora de muitos Senadores e congressistas!
Daí a discussão política constante, sobretudo do partido Democrata, da necessidade de existir uma cobertura de serviços de saúde universal, que o presidente Obama tentou criar com o Obamacare.
É importante esclarecer que o Obamacare é uma especie de Seguro de Saúde para todos e não uma rede de serviços nacional de saúde pública. Foi sem duvida um importante passo, porque permitiu a muitos milhões de americanos ter acesso a seguro de saúde pela primeira vez, mas acabou por ser muito controverso, pelas dificuldades iniciais de registo, pelo aumento de impostos que acarretou, pelo fato de haver obrigatoriedade de cobertura (via Obamacare ou outro seguro) e implicar multas caso a pessoa não esteja coberta por um seguro,… entre outros. O atual presidente tentou cancelar o Obamacare, mas acabou por fazer pequenas alterações e mudar o nome para Affordable Care Act (ACA), porque sabe a importância que o sistema tem para milhões de pessoas (e os votos dessas pessoas são importantes!!).
Podem achar que, perante os prémios de seguro praticados no Brasil e nos EUA mais vale correr o risco e, em caso de necessidade, apanhar um avião e ir para Portugal! Mas infelizmente a saúde nem sempre pode esperar e, por experiência própria, não é algo aconselhável. Portanto, caso esteja nos vossos planos emigrar para algum destes países, coloquem o Seguro de Saúde no topo das vossas prioridades!
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