Já tínhamos programado passar uns dias com amigos na região de Chianti, Toscana e decidimos estender a viagem aos Balcãs, ou seja, aos países entre a Búlgaria (Sófia, onde vivemos) e a Itália (Florença). O que resultou em 53 horas dentro do automóvel, passagem por 6 países, 14 polícias fronteiriças e muita estrada, mais precisamente 3890 km. Tudo no espaço de 10 dias.
Países que, uns mais do que outros, têm um passado recente bem violento com a desintegração da Jugoslávia e guerras subsequentes durante a década de 1990. No entanto, desde há séculos que a Península Balcânica assiste a conflitos recorrentes, ocupações territoriais e variadas disputas de fronteiras. A quantidade de diferentes etnias e religiões é notória e apesar de alguma tensão sentida quando se fala com diferentes grupos, estes vivem lado a lado com um forte sentido patriótico, ou melhor ainda, com uma forte consciência étnica.
Guerra nos Balcãs
Para mim que cheguei à região em 2006, quando a Bulgária estava quase a entrar na União Europeia (2007), a guerra civil da Jugoslávia (quem não se lembra dos conflitos na Bósnia ou Kosovo), pareceu-me pertencer a um passado distante.
Durante esta viagem, as evidências do conflito tornaram-se mais claras mas verificaram-se principalmente através de marcas de bombardeamentos ou balas nalguns edifícios; o conselho a viajantes para não se aventurarem por estradas não asfaltadas ou zonas não urbanas na Bósnia e Herzegovina devido à ainda alta concentração de minas anti-pessoais (eh… o quê? bom, pelo sim pelo não, melhor não arriscar); e o repetido questionário à entrada na Sérvia sobre a minha visita ao Kosovo depois da sua auto-declaração de independência em 2008, denunciada pelo visto Kosovar carimbado orgulhosamente no meu passaporte.
Para a Sérvia o Kosovo é ainda considerado parte integrante do país como região autónoma Sérvia e assim sendo não reconhece a independência Kosovar.
As impressões à velocidade de autoestrada – de Sófia à Toscana
Ao passar pelos Balcãs ao ritmo com que o fizemos o que nos marca mais são as paisagens virgens, as variadas intervenções humanas e os contrastes ou semelhanças entre estas. Em pouco mais de 24 horas, passámos por um hotel Sérvio ao longo da autoestrada E75 onde o pequeno-almoço consiste em queijo branco tradicional (tipo Feta) e café Turco; pelas modernas autoestradas Croatas; pela capital Eslovena, Liubliana, com um estilo marcadamente Centro-Europeu, mas onde se diz ‘hvala’ para ‘obrigado’ tal como nos países vizinhos a sul; pelos Alpes Julianos onde picos nevados encantaram a nossa passagem, para chegarmos a uma Toscana solarenga e de relevo ondulante.
De volta aos Balcãs e à Croácia
A viagem de regresso não foi menos contrastante, desde estar um dia no meio da mega turística Florença para nos encontrarmos no dia seguinte entre a calma exuberante do Parque Nacional Lagos Plitvitce, na Croácia. Poderia ficar ali bem por um mês mas tivemos de seguir viagem em direção a Split, na costa da Dalmácia. O centro nevrálgico da cidade encontra-se por entre as muralhas do palácio Romano de Diocleciano. O labirinto de ruelas proporciona variadas descobertas arquiteturais a cada esquina ou a surpresa de passar pelo mercado de peixe cheio de vida e dois passos depois, encontra-se uma esplanada silenciosa nalguma praça recôndita.
Continuamos para Serajevo, via Mostar, na Bósnia e Herzegovina
Split e a Dalmácia certamente merecem uma nova visita mais prolongada, por agora tivemos de continuar para Sarajevo (Bósnia e Herzegovina) via Mostar. A viagem começou a ser mais lenta sem autoestradas à vista, mas paragem em Mostar é obrigatória ainda que muito breve. A atração principal é a ‘Ponte Velha’(Stari Most) sobre o rio Neretva. A ponte original foi bombardeada em 1993 durante a Guerra da Bósnia, depois de 429 anos da sua construção pelo Império Otomano no século XVI. Uma nova ponte foi erguida seguindo o mesmo estilo em 2004 e é agora um sinal de esperança para as futuras relações entre Croatas e Muçulmanos que habitam a cidade.
Booking.comSarajevo anuncia-se através de múltiplos anúncios de publicidade, do começo de uma via rápida e dos velhos elétricos que circulam ao longo da estrada (alegadamente é o serviço de carros elétricos a tempo inteiro mais antigo da Europa, a circular desde 1885, tendo começado como uma linha de teste para o Império Austro-Húngaro).
Assim que chegamos ao centro é notória a multiplicidade de religiões e etnias que vivem lado a lado, a par com os sinais bem visíveis do passado recente dramático que a cidade viveu. Mapas nos hotéis explicam graficamente e geograficamente o cerco feito à cidade entre 1992 e 1996 durante a Guerra da Bósnia. No entanto a julgar pelos jovens que se encontram pelos diversos cafés cosmopolitas numa das ruas centrais, estes querem um futuro semelhante a qualquer outro jovem Europeu.
E o regresso direto a Sófia
Esta foi a nossa última paragem antes de regressar a Sófia. Infelizmente não tivemos tempo para explorar melhor cada região. Uma segunda ou mais visitas são mesmo obrigatórias. A viagem de regresso fez-se por verdes montanhas salpicadas de pequenas aldeias e campos cultivados, sempre sem sair da estrada asfaltada, obviamente.
Artigo publicado originalmente em mutante.pt em 2012. Já lá vão 10 anos. No entanto não me parece ser necessário atualização de informação. Pouco ou nada mudou desde então.
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