A família que fica é um dilema, senão o maior, quando decidimos emigrar, pela saudade, pela distância… Partilhamos as preocupações dos avós quando chegou o nosso dia de partir com o nosso filho.
A preocupação do avô
“A Gisela (filha) desde nova que manifestava o desejo de ir para fora do país. A oportunidade surgiu através de emprego do marido, numa ida para a Alemanha.
O Miguel (neto) parte com 4 anos quase a fazer cinco. Nessa altura alertei para as possíveis dificuldades que o miúdo ia encontrar, desde a língua à alimentação. Para tentar amortecer estas dificuldades que o miúdo iria enfrentar, a mãe manteve-se em casa durante o primeiro ano. Neste período tanto a mãe como o filho, frequentaram cursos de aprendizagem de alemão.
Como se trata de um menino com uma capacidade de apreensão muito acima do normal, a língua não foi uma dificuldade muito grande, mas a alimentação foi bastante difícil. Devem ter sido muitos, os dias que ficou sem almoço, na escola, depois compensado com o lanche em casa. Nessa altura tinha muita pena do Miguel! Penso que a alimentação, ao longo destes 3 anos, tem sido a maior dificuldade. Ainda há produtos, como por exemplo as batatas, só gosta das portuguesas!
Confesso que no início pensei que iria perder a filha e o neto, mas era a realização da filha, e a uma muito melhor preparação para o neto e eu só podia apoiar, ainda que o coração tivesse alguma tristeza, pelos exemplos que conhecia de casos semelhantes.
Passados estes 3 anos, com a agravante de perturbados com uma pandemia, posso dizer que o saldo desta emigração é francamente positivo:
– A filha e o marido têm uma situação remuneratória que nunca conseguiriam obter em Portugal.
– O neto, agora com 8 anos, tem tido possibilidade de revelar toda a sua enorme capacidade: lê, escreve e fala 3 línguas (português, inglês e alemão). Tem também adquirido outras valências que cá não teria hipótese de ter.
– O contato diário que mantemos, pelos meios tecnológicos disponíveis, suavisam a ausência. Eu tenho duas netas a menos de 1km de distância e falo e vejo-as menos vezes. No entanto não é o mesmo, porque uma vez por semana tenho-as cá a almoçar ou jantar e posso sempre ir lá a casa! É claro que sempre que possível eles vêm cá e nós também vamos lá.
Concluindo, penso, que temos sentido menos a falta deles, porque a filha fez sempre questão de manter um contato diário, o que nem sempre acontece com as emigrações deste tipo.”
A preocupação da avó
“Não é fácil receber a notícia de que a filha vai viver para a Alemanha. Solteira já tinha manifestado a vontade de ir para o estrangeiro, mas o tempo foi passando e, confesso, pensei que a ideia tinha sido posta de parte.
Ofereceram um emprego ao meu genro e eu deparo-me com uma situação para a qual não estava preparada; para além da separação física, era o deixar de acompanhar o crescimento do neto _ até aí muito próximo _ nessa altura quase com cinco anos. Era, também, a preocupação com o efeito que podia produzir uma mudança dessas para outro país com outros hábitos.
A língua ia ser uma barreira, principalmente para uma criança que iria frequentar a escola e não saberia fazer-se entender. Contrariamente ao que eu supunha, o principal problema foi a alimentação. Muitas vezes o meu neto deve ter ficado sem almoço. A língua foi difícil mas a aprendizagem foi rápida com a ajuda de um curso de alemão e da curiosidade e desejo de saber.
Os pais têm-lhe proporcionado todas as condições para que ele adquira outras competências e, como é um menino muito inteligente, tem evoluído bastante, mas também é muito sensível e penso que sente a falta dos avós embora estejamos juntos sempre que é possível e mantenhamos um contacto visual quase todos os dias; as novas tecnologias assim o permitem.
As saudades que eu sinto são imensas – fazem-me falta os abracinhos – mas espero e desejo que muitas portas se abram; ele terá oportunidades que em Portugal não teria, e acima de tudo que seja feliz. “
Lê também:
Comentar