Quando decidi ir viver para os US em 2013, com a pessoa que viria a tornar-se meu marido, o plano era eu voltar a trabalhar, o mais rapidamente possivel! Na altura, tinhamos opção de escolha de onde queríamos viver, desde que fosse um lugar com boas ligações à Europa e à America do Sul, por questões profissionais do lado dele. E isso permitiu-nos procurar uma cidade onde, em teoria, a probablilidade de eu arranjar um emprego seria maior. Daí ter surgido Miami, uma cidade com muitos Brasileiros e com um forte investimento imobiliário, área onde sempre trabalhei. Parecia fazer todo o sentido pelo fato de eu falar português e ter vivido no Brasil, e assim acabou por ser, como irão ver!
Começa, então, a minha experiência de procura de emprego num lugar onde não conhecia ninguém, com uma lingua diferente da minha e que, na realidade, eu não dominava, e sem ter autorização de trabalho!! Nos US, a situação ideal para um emigrante é possuir Green Card, autorização de residência que pode ser obtida por questões familiares/casamento, através de emprego (ao fim de 3 anos com visto de trabalho) ou como refugiado, e que permite trabalhar sem restrições: https://www.uscis.gov/greencard.
Caso não possua Green Card e queira trabalhar, não sendo expatriado de uma empresa, o emigrante terá de ter um visto de trabalho (H1B): http://): https://www.uscis.gov/i-129, e, para o obter, precisa de ter um sponsor (uma empresa que faça uma Oferta de emprego e solicite o visto). Este era o meu caso na altura e tinha perfeita consciência de que isso seria um problema, porque a maior parte das empresas não aceita patrocinar H1B, para não se envolver com a Emigração e porque o processo é longo: as candidaturas abrem a 1 de Abril de cada ano (e geralmente fecham em 4-5 dias, quando se atinge o limite máximo definido para o ano) e a aprovação demora em média 5 a 6 meses. Perante isto, sabia que não podia ser esquisita!! Queria trabalhar, para ganhar experiência nos US e referências de empresas americanas, algo essencial para poder progredir!
Mas já não procurava emprego há 14 anos, desde que saí da Faculdade… e acreditem que a procura de emprego é, por si só, um emprego! Implica disciplina e organização, persistência, resiliência e uma enorme força de vontade. Coisas que não abundam todos os dias durante esse longo processo, em que o normal é não recebermos respostas ou então recebermos alguns emails muito simpáticos, a agradecerem o nosso interesse na Empresa, mas a informarem que, lamentavelmente, não irão prosseguir com a nossa candidatura.
Atualizei o Linkedin e coloquei o meu curriculo em vários sites de recrutamento que funcionam bem nos US: Monster, Indeed, CareerBuilder, Glass Door, Jobs2Careers,… candidatei-me a várias posições, sobretudo na área financeira. Ao fim de vários meses, o telefone tocou e era uma headhunter que viu o meu CV num site de recrutamento e estava à procura de uma pessoa para a área financeira numa empresa de construção, com 90% de clientes brasileiros. Afinal a nossa aposta em Miami acabou por se revelar certeira até a este nível! Aceitaram patrocinar o meu visto e esperar vários meses, mas sei que tive imensa sorte, porque é algo muito raro!! Estive com a empresa 5 anos, no final não na área financeira, mas como Gestora de Operações, porque na realidade eles não precisavam de um financeiro – revelou-se essencial o não ser esquisita e mostrar flexibilidade!! Este emprego, não sendo o meu emprego de sonho, foi muito importante, porque me permitiu ganhar experiência nos US, fazer contatos e ganhar confiança. Entretanto, tive de sair da empresa, porque o visto de trabalho expirou e a autorização de renovação só chegou passados 6 meses (resultado das restrições à emigração da atual Administração)!!
Mas o plano sempre foi obter a Green Card, que chegou em Novembro passado, e aí voltar ao mercado de trabalho para procurar algo mais próximo da minha área de formação e da minha experiência anterior, uma vez que já não havia a enorme limitação da obtenção do H1B!! Estou ativamente à procura de emprego há cerca de 5 meses. Fui a conferências na minha área e estabeleci vários contatos; atualizei novamente o Linkedin e o meu CV, que voltei a colocar nos sites de recrutamento que referi anteriormante. Surgiram algumas possibilidades, mas sobretudo via pessoas conhecidas. Das candidaturas que fiz, várias dezenas, tive 3 entrevistas que faziam mesmo sentido, mas acabei por não ser selecionada. Estamos a falar de posições às quais concorrem dezenas, centenas de pessoas, a maior parte delas altamente qualificadas! A concorrência é muito forte e a experiência internacional, que seria um ponto forte meu, acaba por não ser tão valorizada face ao conhecimento do mercado americano. Mas tenho consciência que as dificuldades que tenho encontrado se devem ao fato de eu estar a insistir em voltar à minha área, tendo já perfeitamente assumido estar disposta a dar uns passos atrás em termos de carreira!
É importante percebermos e aceitarmos que há cedências a fazer para conseguirmos algo que nos realize. Não é difícil arranjar emprego nos US, a partir do momento em que se possui Green Card; mas é mais dificil quando se restringe o leque de opções, que é o meu caso atualmente. E naturalmente, quando surge um Covid 19, as coisas complicam-se ainda mais um pouco!! Mas acredito que estou no caminho certo e os resultados surgirão em breve!!