O Sistema de Saúde Grego: Uma Aventura Médica com Sabor a Moussaka

Cláudia de Vasconcelos

No auge de agosto de 2022, embarquei numa aventura que nem nos meus sonhos mais loucos poderia imaginar: a exploração do sistema de saúde grego.

E como? Nada menos que uma cirurgia à cabeça – a cereja no topo do meu iogurte.

A minha incursão no sistema de saúde grego foi, no mínimo, peculiar.
Começou com a descoberta de que tinha algo a mais, atrás do meu olho direito, do que apenas o meu cérebro. Após visitar médicos e hospitais, acabei no Hospital Universitário de Atenas – Evangelismos, correspondente ao Hospital São João no Porto.

É importante notar que, ao contrário do sistema em Portugal, na Grécia, não há uma necessidade estrita de consultar um médico de família como ponto de partida. Em vez disso, os pacientes muitas vezes têm acesso directo a especialistas, que os encaminham de uma especialidade para outra, até que o problema seja identificado.

O tempo de espera para a cirurgia foi tão curto que nem tive tempo de aprender a dizer “cirurgia” em grego. E o médico? Uma paciência de santo para responder às minhas perguntas, por mais absurdas que fossem. Afinal, iam abrir-me a cabeça para retirar uma massa (meningioma), não era exatamente um corte de cabelo.

No hospital, a diversão continuou. Os elevadores chiavam mais do que uma orquestra, e as portas e paredes eram tão finas que podia jurar que o paciente do quarto ao lado estava a praticar ópera no duche. Mas pelo menos o meu quarto tinha uma varanda com vista para a montanha. Quanto à comida, tal como em Portugal, não era exactamente um banquete gourmet.

E quanto ao fumo? A lei anti-tabaco em locais fechados ainda não chegou a todos os cantos da Grécia. Cheguei a ver pacientes, com o soro pendurado, a acenderem cigarros na sala de espera. Às vezes, a saúde é um conceito relativo.

Após receber alta do hospital, a minha jornada médica na Grécia ainda fui acompanhada pelo meu médico para a retirada dos pontos, e mais uma vez, o processo foi realizado com a mesma gentileza e atenção que experimentei desde o início desta aventura.

Como o hospital era universitário, cada vez que vinham fazer exames, parecia que toda a academia médica estava presente. Era como ser a estrela de um espetáculo médico. Mas devo dizer que toda a equipa, desde a senhora da limpeza até ao meu cirurgião, era extremamente simpática, mesmo que a língua grega me parecesse tão compreensível como o enigma da Esfinge.

O sistema de saúde grego é financiado pelo governo, proporcionando acesso universal aos cidadãos e residentes. E o melhor de tudo? Não gastei um cêntimo desde que entrei no hospital, nem sequer uma taxa moderadora.

E sobre os alegados subornos? Ouvi falar deles, mas ninguém me pediu um envelope com o chamado “brinde” para marcar a cirurgia. Talvez não tenha o aspecto de alguém que estaria disposto a subornar, ou talvez os rumores sobre médicos aceitarem subornos sejam exagerados.

Mais recentemente, quando precisei fazer uma visita de emergência a outro hospital público, fui tratada de tal forma excepcional, que quase esqueci que estava num país conhecido pelo seu calor de verão – e pelas baratas que o acompanham.

Para minha surpresa, enquanto esperava pelos resultados do TAC, nos “calabouços” do hospital, acabei numa inspeção inesperada ao reino das baratas. Sim, leu corretamente – baratas no hospital.
Na Grécia, durante o verão, essas criaturas aventuram-se até mesmo nos lugares mais inusitados, fazendo com que a visita ao hospital seja uma verdadeira experiência de sobrevivência. Quem diria que a busca por saúde também incluiria um encontro tão íntimo com a fauna local?

A realidade é que aqui, durante o verão, as baratas são praticamente omnipresentes, seja na rua, seja nas casas, mas confesso que não esperava encontrá-las nas instalações de um hospital. No entanto, mesmo com essa inusitada “companhia”, o atendimento médico continuou exemplar. Afinal, enfrentar um ou dois insetos gigantes faz parte da aventura de se ser emigrante na Grécia.

Em resumo, a minha aventura médica na Grécia foi inesquecível, cheia de desafios e, claro, com aquele toque de humor típico dos gregos. Ambos os sistemas de saúde têm os seus pontos fortes e desafios, mas acabam por ser semelhantes. Afinal, a saúde não tem fronteiras, mas pode ter muito sabor a moussaka.

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