Pedaço que parte, pedaço que fica de quem emigra

Bernardo Ramirez

Quando alguém parte, muitas vezes fá-lo à procura de algo, e/ou foge de algo que deixa para trás, e isso também é verdade para quem emigra. Há 12 anos atrás comecei a minha jornada como emigrante. E quando olho para o meu trajecto, e para o de tantos outros como eu, vejo algo que como terapeuta trabalho constantemente nas Constelações Familiares, e de como é importante olhar e sanar essa “fractura”.

Nas Constelações dizemos que todos estamos sempre a ser fiéis a alguém na nossa família de origem, quer tenhamos consciência disso, ou não. Pais, avós, bisavós ou até muito mais para trás. E essa fidelidade faz com que cumpramos esse destino. Pelo menos até ao dia em que vemos esse destino com consciência, e ao ver podemos decidir se o queremos cumprir ou não.

Quando saímos do nosso sistema familiar, como acontece com quem emigra, estamos a escolher excluir-nos do nosso sistema (mesmo que de um modo só parcial). E essa exclusão acarreta um preço, muitas vezes alto, de ficarmos durante bastante tempo sem pertencer a lado nenhum. 

Como com a canção do António Variações: “Porque só estou bem aonde não estou, porque só quero ir para onde não vou.” Nada é mais exemplificativo de uma das grandes leis das Constelações: O princípio da pertençaTodos os que pertencem ao sistema têm o mesmo direito de pertencer. 

Infelizmente, estas partidas, causam algumas vezes sentimentos de abandono, expulsão, de solidão e de incompreensão. Todos temos o direito de pertencer: a uma família, a uma língua, a um país, a uma cultura, e essa pertença ou a sua ausência, determinam muito do que somos. E nas constelações é esse o trabalho que fazemos: resgatar essa conexão entre o pedaço que parte e o que fica. Quem, enquanto emigrante, nunca sentiu essa dor, de não se sentir em casa no país onde vive, e de voltar a Portugal e também sentir que de alguma forma também já não pertence lá?

Mas afinal então o que são as Constelações Familiares?

Criadas originalmente por Bert Hellinger são representações de uma imagem interna que temos de um sistema na nossa vida, seja ele familiar ou profissional. Nesse sistema existe informação sobre lealdades, sobre sentimentos, sobre vínculos e nós. Ou seja, todos temos uma “imagem” interna, consciente, mas também inconsciente, dos nossos sistemas. Com as constelações conseguimos representar essa imagem, revelando as dinâmicas desse mesmo sistema, os seus bloqueios e nós, e esse olhar permite ao próprio sistema dirigir-se para uma melhor situação.

Todos os sistemas são regidos, segundo as Constelações Familiares, por três princípios orientadores. O princípio da pertença, que já referi; o da hierarquia, que diz que todos os sistemas têm uma ordem; e o do equilíbrio, que é fundamental para uma vida saudável.

As constelações são uma ferramenta poderosa para identificar a origem desses bloqueios e encontrar formas de nos sentirmos mais na nossa pele. Normalmente feitas em grupo, também se pode trabalhar temas com bonecos ou objectos (de forma individual) ou em grupos através da Internet.

Ao longo destes 14 tenho trabalhado com muitas pessoas que partiram, por uma razão ou por outra, e também como muitas que ficaram esperando o regresso dessas pessoas. Trabalho também em mim a minha partida e procuro sempre exercitar a minha pertença e a inclusão. Hoje sei que toda a dor é uma oportunidade para crescer e nas constelações encontramos muitas vezes a magia de transformar o sofrimento em vida.

No próximo dia 10 de Dezembro, pelas 18 horas de Portugal, vou organizar um workshop gratuito e online sobre Constelações Familiares, onde iremos falar das constelações, dos seus temas, e até participar de exercícios para desenvolver as nossas capacidades e aprender um pouco mais sobre as Constelações. Se se quiserem inscrever basta clicar aqui e obviamente agradeço toda a divulgação que puderem fazer.

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O Bernardo Ramirez (nascido em 1974), é apaixonado pelos seres humanos e pela vida. Encontrou-se nas Constelações e por essa razão formou-se como facilitador de Constelações Familiares e Organizacionais. Com mais de dez anos de trabalho nesta área procura sempre estar ao serviço da ordem da vida. É estudante permanente e interessa-se por temas de Desenvolvimento Humano, da Comunicação e pela Tecnologia em geral.

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