O Desfecho da Aventura em Atenas

Cláudia de Vasconcelos

Discutir com pessoas que não falam a mesma língua é exasperante, conjugado com toda a história mirabolante fez descer em mim o sangue lusitano de conquistador enraivecido. Coloco mão na cintura e digo em bom inglês “minha menina, isto não funciona assim. Vou-me informar e volto ao contacto”. E uns outros dizeres em português, mas baixinho, não fosse ela surpreender-me e falar português.

Afinal, tínhamos um longo mês pela frente dum Aventura em Atenas. Pedi-lhe o número do contabilista e voltámos a Thessaloniki com a chave da casa.

O regresso foi bastante deprimente, viagem de noite, eu com a cabeça a andar à roda com toda a situação criada, a dificuldade em emitir documentos, o helénico Anastacios super confuso e chocado, eu, só queria voltar para o útero da minha mãe. Só faltou chover e perdermos o comboio, para tornar o quadro ainda mais deprimente.

Depois de uma noite bem dormida, comecei a organizar as ideias. 

Focar na prioridade

A prioridade era encontrar um quarto em Atenas, visita-lá, fazer contrato e voltar à esquadra da Polícia dos estrangeiros para finalmente obter o documento, mas não sem antes verificar a veracidade da história da nossa usurária. Liguei para o suposto contabilista and guess what? O número não existia!


Encontrei alguns quartos, marquei visitas e como ia tratar de vários assuntos, resolvi ir mais do que um dia e arriscaria ficar com Anastacios na casa da Gorgon, mesmo com todos os deuses do Olimpo a abanarem os apêndices à frente da minha cara, mas afinal tinha pago aquele bilhete do circo para o mês todo, ao menos iria usufruir.

Mas, na troca de mensagens a avisar do meu regresso, recebo o pedido de um valor extra pela estada de 3 horas do Anastacios.


O sangue lusitano enraivecido volta a descer em mim e contactei o Airbnb para me autorizar fazer uma reserva noutro quarto, mesmo tendo a da casa da Gorgon a decorrer, e contei o drama. Fui aconselhada a apresentar reclamação sobre ela, coisa que fiz muito mais tarde, e acabou por render um voucher de desconto.

Fiz a segunda reserva, paguei o extra das 3 horas via plataforma, para não haver problemas e segui em frente.

Nesses dias de visita consegui fazer contrato numa casa, onde acabei por permanecer durante sensivelmente 1 ano. A senhoria, uma yiayia (avó em grego), um doce de pessoa, conseguiu alterar a minha percepção de Atenas num ápice.

A 31 de Janeiro fui devolver a chave da casa da Gorgon, que dias antes me tinha informado que não estaria na Grécia mas sim no Reino Unido a trabalhar (eu já não vou estar aí… para quê continuar a mentir?) e deu-me o número do Polyphemo – o Paquistanês da chicha – para combinar com ele. O Polyphemo, falava um inglês ainda mais cavernícola que ela. Entre grunhidos e gesticulação (numa chamada telefónica normal… Podem imaginar o estado de exaustão mental em que me encontrava) lá se conseguiu marcar às 14h na casa para devolução da chave.

Chegada lá, abri a porta do prédio, mas toquei a porta de casa e eis que a Gorgon abre a porta!
Expliquei-lhe que ela estava em Atenas e não no Reino Unido e vim embora.

Tal como nos contos e epopeias de outrora, no final tudo se resolveu e os Deuses do Olimpo aprenderam que comigo não se metem e comecei o meu trabalho na área do Turismo onde tudo ia correr bem no Ano auspicioso de 2020.

Quer-se dizer, este meu início de ano foi tão atribulado, o que é que pode acontecer de pior? 

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