Tenhamos saído, ficado, ou estando pelo caminho, uma coisa é certa: as vigentes leis da física ainda só nos permitem estar presencialmente num lugar de cada vez.
Lembro-me de momentos em que tentei viver em vários fusos horários e a exaustão que sempre os acompanhou. Claro, por vezes é mesmo necessário fazê-lo por alguma razão maior. Mas… e quando acontece simplesmente por medo? Medo, talvez, de que a vida “por lá” continue sem nós, de não estar disponível para quem precise, da metamorfose natural da vida.
É tão fácil viver permanentemente na esperança do quem não temos, no sonho de onde não estamos, no desejo de quem não somos, que podemos acabar por perder a beleza que existe aqui e agora.
Podemos, portanto, decidir não viver à espera do que (ainda) não chegou e, ao mesmo tempo, aproveitar e aprender com o que nos rodeia.
Destas divagações de estar num lugar de cada vez, surgiram-me, ao longo dos anos, alguns princípios:
1.Bacalhau aqui, hambúrgueres acolá.
Quando visito Portugal, “tiro a barriga da miséria”. Sento-me na esplanada com um café e uma água das pedras gelada. Perco-me nos areais e nos sons e cheiros do nosso mar. Corro serra acima em perfeita loucura.
Deleito-me com o carinho palpável da minha gente. Inundo-me de estereótipos e delicio-me com cada um. Mas quando estou no lugar onde escolhi viver, descubro, aprecio e usufruo do que existe aqui também. E há tanto e de tão bom em todo o mundo.
2. Podes estar miserável em qualquer parte do mundo.
Estar “em casa’ tem muito mais a ver comigo do que com o que me rodeia. Tudo à minha volta se torna mais fazível quando estou sã fisicamente, mentalmente, espiritualmente.
Todos os desafios parecem muito mais superáveis. Por outro lado, estou convencida que quando um indivíduo se encontra, como diria a minha Mãe, “mal resolvido”, não há sítio no mundo em que consiga estar bem. Torna-se, então, imprescindível zelar pela saúde.
Priorizar os momentos de silêncio, encontrar os lugares e pessoas de refúgio e de vez em quando, parar e fazer o inventário de onde estamos, celebrar onde já chegamos, e avaliar o que ainda há para andar.
3. Se estou mal, mudo.
Sei bem que há situações das quais não é fácil sair. No entanto, em última análise, se dos momentos de reflexão contínua surge a constante e óbvia necessidade de mudar, há que prestar atenção.
Não sou apologista de simplesmente desistir ao primeiro obstáculo ou prevenir os desafios. Esses são parte do crescimento natural humano. Nem muito menos falo de quebrar laços afetivos, aqui. Mas se realmente chegarmos ao ponto em que sabemos que não podemos ser quem fomos criados para ser onde estamos, se medimos as contrapartidas e o caminho em frente não segue por ali, então, “até sempre, com carinho”.
Prefiro muito mais ser feliz com toda a saudade que isso implique, do que não ser quem devo ser simplesmente para a evitar. Força
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Adorei e revejo me na sua escrita!!