Nova realidade pós Covid em Manhattan

Rute Janeiro

Aniversário em Manhattan

Todos os anos é tradição familiar ir celebrar o meu aniversário em Manhattan. Mas porquê? Bem, desde pequenina que os meus pais faziam do meu aniversário o dia mais especial do ano. Como faço anos a dia 23 de Dezembro pertinho do Natal, os meus pais faziam questão de me levar a uma boutique em Lisboa ou em Almada para ir escolher a roupa e os sapatos para celebrar o dia do meu aniversário. Recordo que íamos sempre almoçar fora ao meu local preferido. A noite, a família juntava se e jantávamos juntos. Lembro-me dos jogos até altas horas da noite, das conversas, dos shows de musica e dança que fazíamos, dos amigos e familiares que só nos visitavam nessa data especial e de muitas sobremesas. O Natal começava aí no dia 23.

Desde que me mudei para Nova Iorque que continuo a querer reviver esses momentos mas na nova realidade. O ano que passou não foi excepção. A dia 23 de Dezembro de 2019 lá vamos nós … apanhámos o comboio de Mamaroneck até Grand Central. A magia do Natal começa aí… milhares de pessoas a correr de um lado para o outro, com sacos de prendas e embrulhos, à procura de uma sobremesa ou um sítio para almoçar.

Saímos da estação a pé, olhamos para os edifícios altos e para os diferentes estilos de arquitectura. Por mais que passemos por lá mil vezes vos garanto que é como se fosse a primeira vez. Há sempre novidades e mudanças.

Chegados ao Bryant Park as tendas com pequenas lembranças artesanais enchem-nos o olhar. Aí compramos uma lembrancinha e seguimos para o almoço no Ipanema (restaurante português de dono português). Bitoque à portuguesa, pois concerteza. Pastel de nata ou doce da casa para sobremesa.

Seguimos a viagem até Rockefeller Center para ver ao vivo e a cores a árvore de Natal mais brilhante de Nova Iorque. Espetáculo de luzes na Saks Fifth Avenue. Milhares de pessoas de todas as nacionalidades aos encontrões, de telefones e máquinas fotográficas em punho. Quinta Avenida. Sonho, magia, emoções ao rubro. Esse foi o último dia que fomos a Manhattan.

E veio o Covid

E veio o Covid-19 e a incerteza e o medo fez nos parar para pensar e reflectir. Andei meses à procura da vida que só a cidade pode dar, andei meses receosa do que iria acontecer. Assisti com tristeza as imagens da Quinta Avenida bloqueada com as vidraças nas janelas das mais famosas lojas todas tapadas e com seguranças a porta. Ouvi que havia violência nas ruas. Que o número de mendigos tinha disparado. Assistimos às imagens mais dolorosas de hospitais lotados, de contentores com câmaras frigoríficas, de milhares de pessoas que perderam a vida na cidade que faz tanta gente sonhar. Descobri que o restaurante português com 40
anos  de vida na avenida 43 onde todos os anos eu ia no meu aniversário iria fechar portas em breve. Tomámos conhecimento se muitos portugueses por todo os estado de Nova Iorque que perderam a vida. Assim sem mais nem menos de um dia para o outro. Enfim … o coração estava tão apertado. Vivemos a 45 m de distância e ninguém queria regressar ao seu local de trabalho, a vida que sempre tiveram. 

Mas eu tinha esperança e queria ver e queria sentir e queria cheirar.  Até que a pouco tempo tomámos coragem e fizemo-nos a estrada. Não, não fomos de comboio mas sim de carro. E fomos a procura da Manhattan que deixamos em Dezembro de 2019. Não, não é a mesma.

Redescobrimos uma nova Manhattan. Uma Manhattan de moradores locais, de pessoas à procura de um espaço aberto ao ar livre para almoçar, para passear, para ler. Vimos crianças e bebes nas ruas. Vimos pessoas de máscara. Vimos distanciamento social. Vimos Restaurantes com novas esplanadas, bem decoradas e atractivos, cheios. Estacionamentos de rua e garagens repletos. O Central Park com piqueniques e muitas pessoas de bicicleta e muitas pessoas simplesmente a caminhar. Vimos obras e renovações. Novos edifícios a serem edificados.

A cidade continua viva e precisa de todos nós. De nós que podemos ir até lá e fazer com que esta cidade não morra. E aprendi que estava a ser iludida pelos meios de comunicação social. Mais uma vez. A mostrarem uma realidade que só eles querem mostrar. Não há nada como olhar a realidade com os nossos próprios olhos e daí tirarmos as nossas próprias conclusões. o famoso ditado “Não liguem ao que os outros dizem..” é verdadeiro.

Vivenciem e experienciem e escrevam a vossa própria estória e se possível façam-no aqui no Vidas Sem Fronteiras!

5 comentários em “Nova realidade pós Covid em Manhattan

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  1. Gostei muito de ler este artigo.
    Este amo será novamente um 23.12 mágico – diferente, se calhar, mas encantador na mesma, nessa cidade linda!

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