Nasci para viajar

Filipa Range Rodrigues

A minha vida até hoje poderia ter corrido de outra maneira, todas as vidas dão várias voltas, mas digamos que comigo não tive outra hipótese…nasci mesmo para viajar! 

O porquê de viajar tanto

Vou explicar, a minha mãe era diplomata. Quando eu nasci, ela trabalhava para o então Fundo de Fomento de Exportação, atualmente conhecido como AICEP (esta organização já sofreu várias mudanças desde que a minha mãe lá começou no fim dos anos 70). Na altura ainda estava em Lisboa, onde nasci, mas pouco após foi-lhe oferecida a posição de N.2 no gabinete em Luanda.

Na época todas a chamavam de louca, quem vai para um país em desenvolvimento com uma criança acabada de nascer?! Pode ter sido louca, mas coragem não lhe faltava e o bichinho da viagem já lhe tinha picado há muito tempo, por que não continuar?

O meu percurso de vida

E assim foi, com meros 14 meses de idade fui para Luanda com os meus pais. E nunca mais parei! Como aos meus pais, o bichinho também me picou, e com 39 anos de idade já lá vão 10 países em que vivi (para não falar de todos os que visitei quando vivia num camião-casa com a minha família, mas isso fica para outra história!) e não tenho intenções de parar!

E quais foram os países, perguntam…então se formos por ordem cronológica vamos cá ver: Portugal, Angola, Portugal, Angola, Estados Unidos (Virgínia e Nova Iorque), Reino Unido, Bélgica, Laos, Estados Unidos (NY), Timor Leste, Estados Unidos (NY), Jordânia, camião-casa a percorrer a Europa toda, Bélgica, Estados Unidos (NY) e finalmente Turquia, uma pessoa fica sem fôlego a percorrer a lista!

Familia multicultural

Tive duas crianças em dois países drasticamente diferentes, e como os 4 membros da nossa família nasceram todos em países diferentes pode-se dizer que somos verdadeiramente uma família multicultural!

A minha filha mais velha nasceu nos Estados Unidos, em Nova Iorque, e é, portanto, a nossa “accidental american”, para sempre indevida a esse país e toda a história que ele traz, mas é também luxemburguesa e portuguesa por direito…De vez em quando, ao olhar para ela pergunto-me, o que será que ela se sente?! Com que país é que ela se vai identificar? De momento ela diz ser americana, mas apenas porque nasceu lá, como também o meu filho diz ser Jordão porque nasceu na Jordânia. Mas na Jordânia não há direito de solo, aliás quando ele nasceu foi bastante complicado porque não havia consulado Luxemburguês nem Português!

Ele nasceu sem nacionalidade e foram os Belgas que nos socorreram e deram-lhe um Emergency Travel Document (ETA) para ele poder sair do país! Mas ele afirma ser Jordão, mas também é luxemburguês e português. Posso dizer que o primeiro dia de escola deixa sempre os professores um pouco confusos quando está na vez deles de se apresentarem! 

Qual a nossa identidade, então?

O sentido de identidade é sempre um tema que me preocupa. Bom, talvez “preocupa” não seja a melhor palavra, mas acredito que é um tema bastante importante.

Eu sinto-me portuguesa, nos ossos, no coração, na alma inteira, mesmo se já vivi mais anos fora que dentro, e mesmo se o meu português falado e escrito me atraiçoa de vez em quando.

O meu marido goza comigo a dizer que sou mais americana que outra coisa visto a maior parte do meu ensino ter sido feito nos Estados Unidos e passei de criança a adulta lá, mas não!

Por muito que goste dos americanos e do que foi minha infância por lá, Apesar de ter vivido 3 vezes em fases bastante distintas da minha vida, nunca me senti americana. Adotei várias tradições, como Halloween e Thanksgiving, mas fico por aí, sou portuguesa, de corpo e alma, não só para os jogos de futebol, mas para tudo e é esse sentido de identidade, de orgulho e amor que tento passar aos meus filhos.

Sou uma cidadã do mundo, vou continuar a viajar e mudar de país, não tenho intenções de parar mas Portugal será sempre a minha casa. 

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