O Inverno de 2022 e o fornecimento de gás na Alemanha

Marina Pacheco

Todos sabemos que o Inverno na Alemanha é frio, mas que não é tema de inquietação, uma vez que as casas estão, supostamente, preparadas para o enfrentar. 

Porém, há uma preocupação instalada face à possível retirada de fornecimento de gás russo à Alemanha, perante a conjuntura atual da Guerra na Ucrânia.

Isto porque sem o gás russo a Alemanha não possui, aparentemente, reserva suficiente para abastecer todas as casas durante o período do Inverno.

Para além disso, põe-se a questão, consequente e inevitável, do aumento considerável do preço do gás.

As consequências desta conjuntura:

No dia 11 de Julho de 2022 foi interrompido o fornecimento de gás russo devido a uma manutenção já prevista há algum tempo. Contudo, existia o receio de que esse abastecimento fosse interrompido por tempo indeterminado, dadas as circunstâncias atuais. O prazo de conclusão dessa manutenção era o de dia 21 de Julho, porém o receio de que alguma “justificação” surgisse para impedir o cumprimento do prazo, foi afastado assim que o fornecimento foi restabelecido. No entanto, não foi a 100% e as preocupações mantêm-se. 

Tentarei esclarecer um pouco melhor esta conjuntura.

A principal linha de abastecimento é a Nordstream 1, mas existem  outros gasodutos, cujo fornecimento já terá sido cortado. 

Em Setembro de 2021, com o pretexto de aumentar a capacidade de entrega de gás, a Gazprom concluiu a construção da Nordstream 2, mas que, por questões políticas, nunca foi ligada. 

Impera, então, o receio de que a Nordstream 1 seja efetivamente interrompida, obrigando a recorrer à Nordstream 2, o que deixa em evidência a fragilidade e dependência alemã face ao abastecimento de gás.

Numa entrevista, Robert Habeck – ministro da economia – afirmou que se tal acontecesse, representaria um fracasso político da Europa perante as duas últimas décadas. A situação é política e muito delicada.

Apesar do fornecimento de gás ter sido restaurado, após os trabalhos de dez dias de manutenção, as preocupações mantêm-se, pois o racionamento pode vir a ser inevitavelmente necessário. Isto porque o fornecimento voltou na mesma percentagem anterior de apenas 40% de abastecimento (redução que se deu em Junho). Segundo a informação da estatal russa que controla esta linha Nordstream 1, uma turbina específica que estava a ser reparada no Canadá (reparação concluída entretanto) será necessária para o funcionamento da linha. A questão é que a Rússia exige que o transporte dessa turbina seja feito por navio, o que naturalmente atrasa a sua chegada.

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As dúvidas continuam:

– porque continua encerrada a Nordstream 2?

– porque não há relatórios disponíveis sobre a turbina e o seu transporte?

– será que este é apenas um argumento da Rússia para ganhar tempo e atrasar o fornecimento total de gás?

– será que a Rússia tem intenção real  de vir a interromper por completo o fornecimento de gás?

– mesmo perante uma conjuntura de interrupção, haverá gás suficiente no armazenamento alemão?

A verdade é que, de momento, tudo indica que o armazenamento pode, efetivamente, ser insuficiente. Realidade é também, que a Alemanha é um dos grandes consumidores do gás russo na Europa, portanto a preocupação é compreensível e válida. Os preços vão aumentar e há já contratos de gás a serem alterados para mais do dobro do valor habitual.

Independentemente de tudo isto, imprevistos podem surgir e nada pode ser dado por garantido.

Como minimizar o impacto desta hipótese mais preocupante:

– para quem tem lareira, naturalmente o recurso à lenha é uma alternativa;

– recorrer aos aquecedores eléctricos (quanto mais não seja para os compartimentos da casa mais frequentados);

– procurar manter o calor dentro da habitação, prestando atenção a janelas e portas menos bem isoladas;

– aproveitar o calor de fogão e forno pós-utilização;

– usar roupa mais quente em casa.

Prever a aquisição de aquecedores ou lenha com o máximo de tempo possível é essencial, pois todos os preços estão a aumentar, gradualmente, até à chegada do inverno.

O futuro é definitivamente uma incógnita!

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