I wish you a “Meru Christmas”

Tessy Gomes

Natal, um dia normal!

Sou uma apaixonada pelo espírito natalício! As luzes, a decoração, os cheiros, o tempo partilhado em família e toda a magia que se encontra nas ruas decoradas que me fazem sonhar… I wish you a Merry Christmas!

Infelizmente no Quénia só vão encontrar o espírito de natal se se deslocarem a um centro comercial. Os festejos deles nada têm haver com os nossos, para eles é quase como um dia normal.

As três coisas que acontecem, são por norma as pessoas voltarem à aldeia onde pertencem, as férias escolares e os mais jovens que querem festa vão para a costa, lá está bem mais calor.

“Meru”, então, mas não é “Merry”?

Não pensem que é um erro ortográfico ou uma correção automática da qual não me dei conta. É mesmo um trocadilho propositado e é desta forma que vos quero dar a conhecer a cidade de Meru, aqui no Quénia. 

Gosto muito de praia, mas infelizmente o preço das estadias aumenta por ser a época alta e a grande maioria está esgotado. Então todos os anos vou para Meru ter com um amigo. Vou sempre de transportes públicos, o que são cerca de 6 horas com uma paragem no meio para ir a casa de banho e comer qualquer coisa.

Meru fica a 180km de Nairobi, com o seu próprio dialeto e mais quentinha, fica entre o Monte Quénia e o Parque Nacional de Meru. A 8km encontra-se a icónica placa a dizer “Linha do Equador” onde grande maioria gosta de tirar uma foto. 

É uma cidade como tantas outras, onde há tudo, até um museu. 

Cidade conhecida pelos seus trabalhos em madeira de carvalho e que neste momento está em perigo de extinção. Infelizmente o próprio governo quer “recuar” com a floresta para fazer estradas… e claro que estas atitudes me levantam muitas dúvidas quando me falam em conservação das florestas e dos animais, principalmente nas entradas de Parques Nacionais. 

Outra característica de Meru é o arbusto chamado Miraa, ou Khat em inglês. Este, contém um estimulante similar à anfetamina que causa excitação e euforia. Dependendo dos países é considerada uma droga legal ou ilegal. No entanto, no Quénia mastigar a folha juntamente com uma pastilha elástica, é um hábito muito antigo e ajuda a que as pessoas fiquem acordadas durante um período mais longo, para melhorar a atenção e não sentirem o cansaço físico. 

O problema surge quando esta planta é exportada principalmente para Inglaterra onde é transformada e obtém-se outro tipo de droga ilegal, considerada pesada e aditiva.  

E mais uma vez, entra a contradição, é ilegal, mas parte da economia queniana sobrevive da exportação desta planta para Inglaterra e quando surgem situações como uma crise financeira, o covid-19, ou a Somália produzir mais que o Quénia, o governo e os agricultores sofrem bastante com a perda. 

É muito fácil de se encontrar por cá. Em Meru, vão ver jovens a mascar Miraa desde muito cedo e em Nairobi, grande parte são os condutores dos transportes públicos que consomem. O que acho mais engraçado são as pick-ups de caixa aberta que fazem a viagem Meru – Nairobi em menos de 2 horas. Os condutores e co-piloto tapados com lenço e só se vêem os olhos, a toda a velocidade pela esquerda, pela direita, todos os outros carros têm que ceder passagem como se de uma ambulância se tratasse e assim chegam a tempo ao aeroporto e não há polícia nenhuma que os pare. É irreal! Parece um filme de ação! 

Godfrey

Apresento-vos o Godfrey, queniano, é o ser humano mais livre, leve, aventureiro e cheio de ensinamentos que já alguma vez conheci. 

Tenho a sorte deste meu amigo, ter um jipe e leva-me sempre a sítios novos, como Tharaka-Nithi, que não é mais nem menos que uma zona montanhosa, árida e onde se encontram vários lagos e rios. 

Gosto particularmente de Meru porque está rodeada de floresta. É a cidade mais verde que visitei até agora, e tenho sempre a sorte de ver macacos colobus e elefantes (até com as crias) no seu habitat natural sem ter que entrar no parque nacional. 

Ele mora numa zona mais rural. A comunidade é mais hospitaleira do que no centro da cidade, mas creio que seja assim em qualquer parte do mundo. Por norma, nunca festejamos nada, mas houve um natal em que a comunidade em redor cozinhou imenso e foram levar a casa dele para comermos. Infelizmente não consegui! É a única coisa que não gosto em Meru, a gastronomia local. Colocam carne em tudo, até no puré de batata misturam os restos da cabra ou o molho em que foi cozinhada. E quenianos que não sejam de Meru, acreditem também não vão gostar da comida.

Mas vale a pena dar lá um saltinho.

E assim vos deixo… I wish you a Merry Christmas! 

Agora em português, desejo a todos um Bom Natal, neste dia de reis e Bom Ano Novo, também.

Um abraço apertadinho do Quénia!

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