Fertilização in Vitro (FIV) na Noruega

Sara Nolasco

O que é a FIV?

A FIV (Fertilização in Vitro) é uma técnica de Procriação Medicamente Assistida (PMA) que tem como objetivo proporcionar a gravidez a uma mulher ou casal infértil. Comporta um conjunto de processos e técnicas que são usados ao longo de cerca de 2 a 3 semanas, e que culminam com a transferência de pelo menos um embrião para o útero.

A técnica tem variantes (por exemplo, ICSI), mas a sequência de eventos é semelhante para a mulher ou casal. A medicação usada pode variar de acordo com a situação clínica.

Quando devemos começar este tratamento na Noruega? 

Quando um casal ou mulher solteira decide que está na altura de ter filhos, começa naturalmente por se adaptar e adequar a esta decisão. Normalmente é aconselhado que a mulher realize uma pausa na toma ou na utilização dos meios contracetivos, realize alguns exames médicos para verificar que se encontra biologicamente preparada para a conceção de uma nova vida. 

Pois bem… na Noruega o processo é um pouco diferente. 

Aqui começamos por marcar uma consulta com o nosso fastlegen (médico de família), para informarmos a nossa decisão. Nesta consulta, apenas nos é aconselhado que deixemos a natureza agir de uma forma tranquila, sem o stress da modelagem social o que, por via de regra, ouvimos comummente mas que nos acabam por afetar psicologicamente. 

Nesta primeira fase, que dura um ano, não são realizados nenhuns exames de “primeira linha”. Após o primeiro ano de tentativas sem êxito, podemos marcar novamente uma consulta com o médico de família para refletir e analisar o que se tem passado até ao momento.

E se não ocorreu uma conceção até então, é nesta altura que o médico de família começa a tomar medidas e a averiguar as causas da infertilidade. 

A partir daqui começa todo um processo burocrático e acompanhamento pelos serviços de saúde. 

Primeiramente, o médico de família tem que verificar se cumprimos com todos os requisitos para nos aplicarmos ao programa comparticipado de IFV dos quais, entre outros, fazem parte uma boa alimentação, ausência de quaisquer dependências prejudiciais à saúde e encontrarmo-nos na faixa etária dos 25 aos 38 anos. 

Posteriormente somos encaminhados para várias consultas de especialidade, nomeadamente urologia, ginecologia, análises específicas ao sangue, entre outros exames auxiliares de diagnóstico. 

Após a aprovação do médico de família e de ter sido recolhida toda a informação de saúde necessária, podemos avançar para o segundo passo. 

O segundo passo consiste no envio de uma aplicação/formulário por parte do médico de família para a clínica/hospital especializado em fertilização mais próxima do nosso local de residência. 

A resposta a esta aplicação pode levar entre 6 meses a 1 ano. Só depois da aplicação aprovada por esta entidade (hospital/clínica) especializada no assunto é que podemos, doravante, começar os tratamentos para a fertilização. 

Os tratamentos serão todos realizados nas instituições aprovadas e especializadas neste tipo de procedimentos. 

Como é feito o tratamento e quantas vezes nos podemos aplicar? 

– Começamos por ter uma consulta presencial no hospital/clínica de fertilidade, onde nos apresentam um plano muito detalhado e específico pelo qual iremos passar. 

1. Estimulação ovárica 

– Normalmente o processo inicia-se pela mulher. Esta terá de fazer uma estimulação hormonal através da toma de injeções diárias e a horas definidas, para que o corpo produza e mature mais óvulos que o normal. Por norma uma mulher produz um óvulo por ciclo menstrual ou, máximo, dois. Este processo leva a que sejam produzidos 8 a 10 óvulos, apenas num mesmo ciclo menstrual.

– Esta toma de medicamentos/injeções prolonga-se por um mês a mês e meio. 

2. Colheita de gâmeta e fertilização em laboratório

– Após este mês/mês e meio, o casal é de novo chamado ao hospital/clínica. Neste dia é feita a colheita de esperma e dos óvulos que se maturaram ao longo do período de tratamento.  

– A fecundação do óvulo acontece nos 2 a 3 dias seguintes, em laboratório. Durante este período, podemos regressar a casa. 

3. Transferência de embri(ões)

– No terceiro dia, somos novamente contactados para nos deslocarmos presencialmente ao hospital para que seja feita a implementação do óvulo fecundado (Zigoto). Este procedimento leva 20 a 30 minutos e é indolor. Depois do Zigoto colocado, podemos deslocarmo-nos de novo para casa, sendo-nos aconselhado que não exista esforço em atividades físicas nas primeiras duas semanas. 

– Nas duas semanas seguintes, a mulher deve continuar com a medicação mas, neste caso, já por via oral. Esta medicação é feita para ajudar a nidificação do Zigoto. 

– No final destas duas semanas, somos novamente contactados pelo hospital/ clínica para realizar um teste de gravidez. 

– Este é o momento decisivo e de conclusão de uma tentativa de fertilização. 

O casal tem direito a três tentativas de fertilização comparticipadas. 

É de referir que este processo de fertilização é, na sua maioria, comparticipado pelo Estado Norueguês. O casal apenas terá de pagar um valor máximo de 18 483 nok, cerca de 1800 euros. 

Durante este processo, o casal é acolhido de forma muito simpática por toda a equipa hospitalar, desde médicos, enfermeiros e auxiliares. Estes encontram-se disponíveis 24h/24h por telefone para responder às mais variadas questões e preocupações.  

Quando iniciamos este processo, temos de ter consciência que o mesmo será uma «montanha-russa» de sentimentos, pois as estatísticas indicam que na primeira tentativa existe apenas 25% de sucesso para um casal saudável. O casal terá de estar preparado para enfrentar os desafios do processo. É importante que o parceiro, neste caso o marido ou namorado, esteja em condições de auxiliar a companheira/mulher durante todo o tratamento. 

As «cargas» hormonais na fase inicial do processo são muito elevadas, provocando à mulher alterações de humor, instabilidade emocional, cansaço, astenia, hipersensibilidade aos barulhos e odores… 

O corpo reage aos elementos externos de uma forma que não estamos habituadas e isso leva a um aumento da ansiedade. 

Enquanto mulher, que passei pelo tratamento, foi-me crucial ter um marido que me apoiou e entendeu todas as fases do processo hormonal, pois a «caminhada» não foi fácil, mas conseguimos chegar à meta final. 

A todos aqueles que estão a passar pelo processo ou a pensar entrar nele, desejo muita sorte e persistência nos dias mais cinzentos.  

Resumo do processo: 

– O processo começa no fastlegge (médico de família)

– Após um ano podemos aplicar-nos ao programa de fertilização (caso cumpramos os requisitos do programa) 

– Tempo de espera para iniciar o processo na clínica/hospital de fertilização é de 6 meses a 1 ano 

– Após o início do processo, este prolonga-se mais ou menos entre 2 a 3 meses. 

– Cada casal tem direito a 3 tentativas de fertilização comparticipadas pelo Estado. 

– O casal apenas tem de pagar até um valor máximo de 18 483 nok por tentativa de fertilização.

– Todas as despesas relacionadas com deslocações são ressarcidas pelo Estado (combustível, portagens, estacionamento e compensação por Km)  

Aqui podem consultar mais informações sobre o assunto:

https://www.helsenorge.no/refusjon-og-stotteordninger/ufrivillig-barnloshet-og-infertilitetsbehandling/

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