Fazer 40 anos em lockdown

Vanessa Mendão

Ao longo do último ano temos entrado e saído de lockdown tantas vezes que sei que não sou a primeira nem a última pessoa a fazer 40 anos em lockdown, sem poder celebrar com a família e os amigos. No meu caso até sou a última da família e pensei, por breves momentos, que me safava. Nada mais longe da verdade.

No ano passado por esta altura estava na costa oeste da Austrália: Fremantle, Perth, Margaret River, Rottnest Island. Uma viagem fantástica de 10 dias com o meu marido e a minha filha. Praias a perder de vista, águas azuis, vinhedos a perder de vista, passeios de carro, de ferry, de barco… Restaurantes cheios, partilhar mesas com desconhecidos enquanto os miúdos brincam juntos.

Uma amiga descreveu estes acontecimentos como ‘quando éramos ricos e não sabíamos’.

Em anos anteriores passei os meus dias de anos em Tóquio ou em Bali, em Sidney. Madrid e Barcelona fizeram parte do itinerário quando vivia em Portugal e o orçamento era mais limitado. Londres teve a sua vez quando lá vivi e a minha irmã veio passar esses dias comigo. As viagens para mim são tão normais e uma excelente forma de marcar a passagem de mais um ano.

Mas não chegue a fazer planos para celebrar os 40 porque apesar de albergar a esperança de poder juntar pessoas queridas, o meu lado mais realista sabia que isso não ia ser possível.

Os membros da família foram fazendo anos e as celebrações foram ficando mais criativas

No início do ano, quando ainda estava em Singapura, fez anos o meu marido. Também ele chegou aos 40. Neste caso eu tinha organizado um jantar num restaurante na praia com 10 amigos, o limite imposto pelo governo para ajuntamentos naquele momento. Três dias antes foi anunciado que entraríamos em lockdown e o jantar foi obviamente cancelado. Celebrámos em casa, consegui juntar 40 vídeos enviados por 40 amigos a desejar um feliz aniversário. Foi low-key, mas ainda não estávamos bem certos do que aí vinha.

Mês e meio depois foi a vez da minha filha fazer 4 anos. Aqui foi mais complicado… A escola estava fechada, continuávamos sem poder juntar os amigos porque estava proibido, mesmo em lugares abertos como parques e jardins.

Ainda assim, houve bolo, velas e prendas. Obviamente que não foi a festa que ela desejava, mas compreendeu por que tinha que ser assim. Na verdade, devo confessar que para mim foi um alívio. Não foi preciso organizar festa, fazer lista de convidados, comprar e fazer comidas e bebidas. Sei que tudo isto é voluntário, ninguém obriga, mas também sei que as crianças gostam de festas e para elas o importante é passar esse dia com as pessoas de quem gostam e isso envolve trabalho. No entanto, fizemos corridas de obstáculos, vimos filmes e comemos pipocas,

Seis meses depois, já a viver no Reino Unido, obviamente não contava juntar os amigos que fiz em Singapura, e aqui pouca gente conheço. Gostaria de ter ido a Londres onde tenho amigos e poderia ter juntado pessoas que já não vejo há vários anos. Com o segundo lockdown em vigor tal não foi possível.

Os 40 chegaram sem viagens, mas as felicitações chegaram dos quatro cantos do mundo

Ainda assim, consegui ter um excelente jantar de aniversário, na companhia do meu marido, da minha filha e de uma amiga que é a nossa ‘support bubble’ e com quem podemos ter contacto social. Houve sushi, espumante e bolo. Flores e cartões, uns mais caseiros que outros. Telefonemas, vídeos e mensagens de família e amigos espalhados pelo mundo.

Graças à equipa deste imenso Vidas Sem Fronteiras, chegaram felicitações de pessoas que não conheço em pessoa mas que já se tornaram parte da rede de apoio tão necessária quando se vive fora do país que nos viu nascer. Posso dizer que chegaram mensagens de todos os continentes.

E a verdade é que continuamos a ser ricos, como dizia a minha amiga em Amesterdão. Enquanto continuarmos estar rodeados de familiares e amigos, mesmo que virtualmente, continuamos ser ricos. Agora damos um pouco mais de valor às viagens, aos voos curtos para dar um saltinho ali ao lado e sobre tudo aos abraços, aos beijos e às velas que não podemos soprar.

Mas fica aqui o brinde, a melhores dias. Cheers!


Um comentário em “Fazer 40 anos em lockdown

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  1. Eu festejei os meus 60 em Perth, Austrália, um dia depois da Austrália ter fechado as fronteiras. Muitos convidados locais ficaram receosos e decidiram não vir à festa. A minha filha que era para ter chegado das Filipinas no dia anterior também teve que cancelar a sua viagem…De cerca de 40 pessoas convidadas tive 15. Mesmo assim ainda consegui ter uma pequena festa.

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