Quando vivemos numa, como eu gosto de lhe chamar, família mista (ou seja, uma família em que os pais têm nacionalidades diferentes), em que todos falam o idioma de todos, é certo que irão acontecer aventuras linguísticas muitos engraçadas!
Aprendizagem dos adultos numa família mista…
No início da minha aprendizagem de alemão, quando me queixava relativamente à dificuldade de acertar no artigo definido correcto para cada palavra (muitas regras e também muitas excepções), era certo que o meu marido (alemão, estoico lutador para falar e escrever português correctamente) iria fazer piada com a situação “aaaahhh, pois é, regras fáceis é em português, como aquela regra de que as palavras acabadas em a são femininas, como por exemplo, o papa, o cinema, o mapa, o dilema, etc…”
E das crianças!
Nesta família mista, também os meus filhos falam português desde pequeninos mas o português tem um lugar especial para eles, não é bem língua materna como o alemão, também não é língua estrangeira como as outras. É antes uma espécie de língua de herança! A diferença face à língua materna é que eles são muito mais críticos a pensar sobre o português do que sobre o alemão.
Por exemplo, os meus filhos, especialmente o mais velho, questionava imenso sobre a dupla negação. Durante muito tempo ele dizia “Eu quero nada” querendo dizer “Não quero nada”. Para ele dizer tal como nós dizemos era o equivalente a referir que sim, queria alguma coisa!
Também face a alguma linguagem mais informal havia reações como por exemplo:
“Onde anda a tua tesoura?”
”Mãe, estás sempre a dizer que temos de falar português correcto! Acho que as tesouras não andam, certo? Onde é que está a tua tesoura, faz favor!”
“Ora bem, que tu me corrijas em alemão está muito bem, agora que me queiras corrigir em português…!”
Peripécias da vida de emigrante, numa família mista!
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