Se tivesse de descrever a minha experiência de vida no Luxemburgo descreveria como muito suor e algumas lágrimas. Enquanto seres humanos temos alguma capacidade de adaptação mas também sabemos que mudar rotinas e hábitos nunca é fácil. Vou contar-vos a minha experiência no Grão-Ducado.
A chegada em 2010 ao Luxemburgo
Cheguei em 2010 ao Luxemburgo, já com uma experiência internacional na bagagem (Erasmus em Roma). Desta vez não tinha trabalho nem estudos à minha espera, vinha acompanhada e com folga. A condição fazia com que não tivesse pressa mas ter calma é um estado que desconheço.
Com pouco mais de um mês do Luxemburgo já tinha batido a capital toda de lés a lés e batido a todas as portas que estavam fechadas, fui tentando empurrar algumas até se abrirem. Em dois meses já tinha projetos com a comunidade portuguesa que começavam a andar. Muito precários, horas aqui e acolá, melhor pagos (à hora) que em Portugal mas não dava sequer para me alimentar. A vantagem é que eram na minha área e estando folgada era o que me motivava e fazia andar feliz num país onde o sol só aparece às vezes.
Visitei o centro de emprego e lembro-me de ficar felicíssima porque aceitaram a minha inscrição, comecei a ir com imensa motivação. Disseram-me que tinha de aprender francês para conseguir encontrar algum trabalho na minha área.
Em Portugal tinha tirado licenciatura em Educação Física, Mestrado em Gestão Desportiva e tinha experiência profissional em escolas (primárias e secundárias), trabalho em autarquia com pessoas idosas, formação profissional no centro de emprego e trabalhos com pessoas com diabetes. Quando cheguei ao Luxemburgo resolvi ir apresentar-me ao centro de emprego e formação profissional (ADEM) mas depressa me apercebi que isso não valeria de nada porque não me enquadra. No Luxemburgo os requisitos mais difíceis para os estrangeiros se integrarem são as três línguas oficiais, que são requeridas para grande parte dos trabalhos qualificados. Não foi necessário muito tempo para a minha motivação de ser só necessário o francês desaparecer, porque afinal além do francês tinha que falar alemão e o luxemburguês, que é uma espécie de alemão com a dificuldade de só ser língua desde 1984 e a gramática ter meia dúzia de anos. O que significa que o luxemburguês é sobretudo falado e que só muito recentemente as pessoas começaram a saber escrevê-lo.
Estão a ver a dificuldade?
Como tinha o mestrado em gestão desportiva não tive de realizar a formação de gestão, necessária para quem quer abrir uma empresa. Consegui abrir a minha empresa que demorou até render alguns cêntimos. Fui percebendo com o passar do tempo o que rendia e onde me poderia destacar. Ao mesmo tempo fui conseguindo algumas posições em escolas privadas.
Não foi fácil! Não foi nada fácil. A entreajuda cá fora é muito pouca ou nenhuma seja entre compatriotas ou com pessoas de outras nacionalidades. Os portugueses incomodam muita gente, incomodam os próprios portugueses se tiverem vontade e ambição de fazer mais e melhor e as outras nacionalidades porque os portugueses só deviam estar talhados para fazer certo tipo de trabalhos.
Sou uma orgulhosa portuguesa mas foi um caminho cheio de suor e lágrimas. Quando fui mãe pela primeira vez concentrei as minhas energias no que realmente achava que era fundamental e melhorou. Aprendi luxemburguês também e acho que comecei a dar menos importância ao que tem pouca importância.
Criei um grupo de portugueses com o intuito de ajudar especialmente os recém-chegados mas constatei o que já há tanto tempo ouvia: os portugueses não querem ser ajudados. É pena, perdemos muito. Temos uma triste característica de ter medo que o outro chegue mais longe do que nós.
Costumo dizer que se o outro faz mais do que eu tem maior probabilidade de singrar. Se eu quiser ir mais longe terei de fazer mais e melhor.
O grupo acabou mas continuo solidária a querer ajudar quem chega e precisa de ajuda.
Tenho uma pequena esperança que um dia sejamos mais solidários enquanto povo como vejo em tantas outras culturas.
Depois de 11 anos
Profissionalmente consegui finalmente o que ambicionava, depois de 11 anos e com muito suor e algumas lágrimas. É possível. Tudo é possível, com muito esforço e dedicação.
- E por aí estão felizes no país onde vivem?
Minha querida Catarina, é isso mesmo “muito suor e lágrimas”, é uma Triste Verdade, mas somos umas guerreiras portuguesas. Beijinho grande e boa continuação na tua caminhada. 😘
Sim mesmo! Guerreiras portuguesas! 💜
Força Catarina
O Luxemburgo ficou mais rico com a tua chegada ao país e quem semeia acaba por colher.
Olá eu vivo na Holanda desde 2007.
Igualmente muito suor e lágrimas nos primeiros anos mas felizmente depois de nunca para de lutar por algo melhor, estou agora bem profissionalmente e pessoalmente.
Acho que consegui a carreira que em Portugal nunca teria, sem ter tido estudos académicos.
Então todo o sofrimento valeu a pena.
Coragem e força para todos.
Catarina, ao ler a sua experiência, resolvi pedir lhe ajuda, ja que diz que os portugueses nao querem ajuda. Eu quero. Vou enviar o meu email pessoal, e pedir que me contacte para podermos conversar.
Sou formada em psicologia e quero ir viver e trabalhar para o Luxemburgo.
O meu e-mail: anabqfigueira@gmail.com
Muito obrigado
Ana