Vivo em São Paulo! Aconteceu mesmo!…estamos agora, oficialmente, expatriados em São Paulo. E será que nos vamos adaptar a este novo ritmo de vida?
Expatriados em São Paulo: uma nova realidade
Perceber que a música SAMPA de Caetano Veloso, foi escrita quando o artista deixou a Baia e imigrou para São Paulo, causou em mim um enorme alívio!
“…Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto É que Narciso acha feio o que não é espelho
… E foste um difícil começo Afasto o que não conheço E quem vende outro sonho feliz de cidade Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso”
Caetano Veloso
O primeiro impacto
Assim, de repente, São Paulo não é uma cidade de paixão à primeira vista! E, foi depois de nos tornarmos expatriados em São Paulo que me apercebi disso.
Em todas as expatriações, levo uma mala cheia de ideias pré-concebidas de como gostaria que a minha fosse a minha nova vida. Porém, aqui em São Paulo rapidamente entrei em choque porque percebi que esta cidade não iria concordar comigo.
Tanto as minhas expectativas, como a minha individualidade não se identificaram com o que o ambiente de São Paulo tem para me oferecer, o meu pensamento foi logo, “Está tudo mal!… o que estamos a fazer aqui!”
Tenho consciência que a pandemia foi a grande influenciadora desta negação. Estávamos confinados a um quarto de hotel e os miúdos ainda em aulas on-line! E, por isso, foi tão difícil de aceitar estarmos expatriados em São Paulo.
Adaptação em tempo de pandemia
Jamais tinha começado um processo de adaptação por mensagens WhatsApp. Apresentei-me no grupo das mães da escola e, durante muito tempo, não conheci nenhuma pessoalmente! Tive a sorte de fazer uma amiga na segunda semana de cá estar, (através de uma participante desta plataforma) mas, passado 3 semanas, ela foi para Portugal. Espero ansiosamente o seu regresso.
Dado não ter encontrado nenhum grupo que me introduzisse à dinâmica desta cidade, contactei pessoas, que já cá tinham vivido, e assim comecei a minha descoberta.
“Nós adoramos São Paulo. É enorme! É cosmopolita! É dinâmica, é estranha, é violenta, é pacifica, é caótica, é rica, é muito pobre, é contraditória. Amamos São Paulo por todos os contrastes!” Muito do que ouço de quem já cá vive há muito…
A gestão das minhas emoções
Uma muito boa sensação, mas ao mesmo tempo estranha, foi falar português em todo lado. Sentir que os brasileiros se interessam pelas minhas raízes portuguesas, adoram o meu país e ainda fazem conversa comigo. “Lindo essa sua maneira de falar, que chique!”, é maravilhosa essa interação e ajuda muito neste processo de adaptação por sermos expatriados em São Paulo.
Mas, depois desta excitação do começo, apareceu em mim um sentimento de perda, senti que deixei parte de mim num outro lugar. Mais uma vez ninguém me conhece e mais uma vez eu terei de crescer e recriar as estruturas que deixei para trás… No entanto, sei bem que está é a vida de expatriados, neste acaso expatriados em São Paulo.
A incógnita instalou-se e isso perturba-me… o que muitas vezes me faz pensar porque estou aqui. No entanto a minha fé, mesmo que seja a antropológica, faz-me continuar a ser feliz e eu própria ser “qualquer coisa” de que me orgulho. Mantenho a família unida e isso faz-me avançar, sempre.
Expatriados em São Paulo: o choque cultural
O choque cultural foi brutal…mesmo brutal! Ainda me estou a habituar. Trago comigo valores de como uma sociedade deveria funcionar. Muitas vezes, pensamos que a nossa visão é implícita e não estamos cientes de que do outro lado do mundo as coisas funcionam de maneira diferente.
A diferença social faz me sentir desconfortável desafiando-me a pensar que é mais fácil aceitar esta diferença sendo expatriados.
Até agora a adaptação de sermos expatriados em São Paulo tem sido como aprender uma língua nova. Um dia sinto que estou mais relaxada e à vontade e, no outro dia, sinto que voltei à estaca zero, a sentir-me insegura e fora da minha realidade, do meu mundo idealizado.
Sei que a adaptação é um processo de aprendizagem. Leva tempo, paciência e perseverança. Tenho a certeza de que vamos descobrir imensas coisas boas e, claro, daqui a uns anos, vou ter pena de me ir embora…. mais uma vez.
Dizem que gostar de São Paulo demora 6 meses, eu acredito que vou demorar mais devido à pandemia. Mas, acredito que lá chegarei!
E, um dia, quando me perguntarem como foi para mim sermos expatriados em São Paulo, eu vou responder: AMEI!!
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