Quinta-feira, 8 de Setembro de 2022, a Rainha Isabel II morre no Castelo de Balmoral, a sua propriedade preferida na Escócia. A notícia caiu como uma bomba, após o pior ter sido antecipado quando de manhã havia sido interrompida a sessão semanal de “PM Questions” no Parlamento em Westminster para anunciar que havia preocupação com o estado de saúde da Rainha.
Operação Unicórnio
O falecimento da Rainha Isabel II de Inglaterra (Isabel I da Escócia) na Escócia desencadeou a Operação Unicórnio, que basicamente cobria todos os possíveis cenários de a monarca falecer na Escócia (e que havia sido desenhado e adaptado desde há pelo menos 20 anos e com supervisão da própria Rainha). Foi nesse momento que aqui na capital Edimburgo se percebeu que estávamos perante um acontecimento histórico, de proporções nunca imaginadas.
O Parlamento foi imediatamente suspenso para se dar início às diversas fases da Operação Unicórnio e a história começou a ser escrita.
Desengane-se quem ache que isto era um cenário provável, não era, a esmagadora maioria dos ingleses teve aquele amargo na boca e os escoceses encheram-se de orgulho e de sentido de dever. – afinal apesar de haver uma quase indiferença em relação à família real, a Rainha era acarinhada por todos e o carinho especial que sempre dedicou à Escócia era 100% motivo de orgulho neste país.
O que se seguiu foi o que o Mundo inteiro pôde acompanhar através da BBC e diversos órgãos de comunicação social.
A Escócia, no dia do falecimento da Rainha Isabel II
Apesar do falecimento da Rainha ter sido em Balmoral, a capital escocesa começou quase de imediato a transformar-se e a preparar-se para a vinda de Sua Majestade para a sua Residência Oficial na Escócia, o Palácio de Holyrood, no coração da cidade.
As ruas foram sendo gradualmente cortadas ao trânsito e placas de informação sendo postas em todo o lado a alertar para as interrupções e cortes nos dias seguintes. Centenas de equipas de reportagem do mundo inteiro foram chegando (e foi tão giro ver as nossas televisões portuguesas em Balmoral e em Edimburgo) e os hóteis a esfregar as mãos de contentes com esta receita extra.
O chamado Royal Mile teve as lojas (100% turísticas e sempre cheias) a ser fechadas e com atiradores especiais e forças policiais a ocupar esses espaços e preparados para qualquer coisa.
O carinho muito especial pela Rainha ficou evidenciado pela forma com o cortejo fúnebre foi tratado, senão reparem: as Jóias da Coroa Escocesa foram trazidas do Castelo de Edimburgo para permanecer em cima do caixão (as jóias não haviam saído do Caatelo desde a coroação de Charles II em 1651) e o manto que o cobria tinha os emblemas reais da Escócia, que são diferentes dos restantes membros do Reino Unido.
No interior da magnífica Catedral de St Giles as cores da bandeira nacional escocesa (azul e branco) estavam presentes nos pontos principais e a Guarda Real da Rainha esteve sempre presente e fez um trabalho maravilhoso, apesar de apenas os 8 soldados que carregaram o caixão em Londres terem sido glorificados e considerados um exemplo de profissionalismo e brio.
Booking.comA cidade ficou cada vez mais um funil em termos de trânsito e uma procissão de pessoas de todas as idades e nacionalidades iam formando um enorme cordão silencioso e unido no propósito da última homenagem.
Foi mesmo muito emotivo assistir à chegada a Holyrood, tão silencioso que se não fossem as câmaras de TV a ligar as luzes para as imagens ao vivo, quase nem dava para perceber que estavam a chegar.
As flores colocadas em torno da entrada lateral do Palácio, as pessoas em silêncio e com os olhos cheios de água a passar pelo mar de flores que crescia a cada minuto e as forças policiais tão cordiais e eles próprios com um nó na garganta. Memorável, na verdade.
No dia seguinte a procissão repetiu-se no trajecto do Palácio para a Catedral e foi um enorme orgulho assistir a algo que ficou na história e que motivou milhares de pessoas a estar mais de 8 horas na fila durante a noite para prestar uma homenagem.
Apoio em termos de chocolate quente ou chá e os famosos pãezinhos com bacon foi garantido por parte de voluntários e o ambiente nas diversas áreas da fila era fantástico, com locais e estrangeiros a conversar e a trocar contactos, crianças a brincar e até as centenas de jornalistas a trocarem impressões nas pausas dos directos.
Consegui ver alguns dos jornalistas portugueses, rendidos à hospitalidade escocesa.
O carinho recíproco entre o povo escocês e a Rainha
No final, ficou a confirmação do carinho recíproco entre o povo escocês e a Rainha e do acentuar das dúvidas relativamente ao novo soberano e do que ele trará de bom para o país.
A palavra Independência ganhou mais adeptos e ouvi várias vezes “She was our Queen, not sure if Charles will be my King”.
Após tudo mudar para Inglaterra em Londres, a cidade recuperou a normalidade. Até que o dia do funeral chegou e a cidade ficou deserta (assim como no primeiro confinamento, em que não se via ninguém na rua e tudo estava encerrado). Às 17h, restaurantes, lojas, supermercados etc reabriram, a cidade acordou de um pesadelo, feliz por avançar, mas com o peso dos acontecimentos bem visível.
“We sure made you proud, M’man” – sem dúvida que sim, queridos escoceses.
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