Emigrar para o Luxemburgo

António Valente

Gostaria de falar sobre as pessoas que chegaram ao Luxemburgo e continuam a chegar, sobre emigrar para o Luxemburgo!

Vivo neste pequeno país já faz quase 27 anos e começo a notar algumas diferenças mas também os tempos são outros pois as redes sociais e a facilidade de comunicação mudaram as nossas vidas.
Quando emigrei, em 1995, ligava uma vez por semana para os meus pais através de uma cabine telefónica, mas não podia ficar muito tempo pois havia gente que esperava para o mesmo. Hoje podemos ligar a qualquer momento e ver em imagens quem está do outro lado.

As saudades tornam-se menores porque sentimo-nos mais perto e com os voos low-cost as viagens estão mais facilitadas o que torna o nosso Portugal mais próximo.

Nos chegávamos a este país, mesmo com salários pequenos, em pouco tempo comprávamos um imóvel no nosso país. Hoje também compramos mas é mais difícil, tudo está programado para aqui ganhar e gastar.

Também hoje temos muitos gastos que antes não tínhamos as prestações com tudo o que são plataformas desde música, cinema aos meios de trabalho facilitados mas que é preciso pagar, e também investimos mais nos nossos filhos em atividades desportivas musicais em viagens de estudo em outros continentes e o dinheiro não estica.

Emigração nos anos 90

Os Portugueses que chegaram nos anos noventa eram melhor acolhidos, encontravam sempre uma mão amiga que os ajudava a encontrar casa e a mobila-la. Eram também ajudados a encontrar emprego e a guiar nos primeiros passos, em algumas situações eram levados para o associativismo e ai as dificuldades eram menores pois criavam-se contactos que ajudavam a superar as saudades e tornavam-se úteis ao país.

Hoje existem mais de 60 associações Portuguesas neste pequeno país mas que estão em grande dificuldade pois os fundadores estão cansados e os jovens que chegaram nos últimos anos ou os que já por aqui nasceram não querem participar no associativismo pois muitos sentem uma pressão enorme no trabalho e nos tempos livres querem estar fora de ambientes barulhentos e confusos. Os tempos são outros a mundialização trouxe muita pressão sobre as pessoas o que as deixou mais frágeis menos sensíveis e com menos tempo para o próximo.

Última geração de emigrantes


A última geração que aqui chegou é mais bem preparada mais culta mas isso não quer dizer mais bem integrada pois a integração não tem que ver com o nível de estudos ou cultura mas já nasce com a pessoa. Conheço pessoas que falam seis línguas e não dizem bom dia ao vizinho e outros que mal falam uma língua do país e mesmo ao longe já levantam os braços e quando preparam um tacho com rojões levam a provar aos vizinhos. Aí começa a integração, penso que quem chega deve dar o primeiro passo para que seja recebido de braços abertos pois este povo é frio mas com o tempo tornasse acolhedor, só depende de nós.


Temos grandes profissionais que chegaram nos últimos anos e que estão a contribuir para a riqueza deste país mas que não se estão a integrar na política ou cultura deste. Quando existem eleições ou programas culturais organizadas pelas várias entidades que representam o nosso país ou polos culturais locais, não há muita participação, é pena pois somos cerca de cem mil e se fôssemos mais unidos poderíamos ter mais prestígio e obter mais respeito.

Já não existe o acolhimento de outros tempos aos que chegam pois as coisas são mais reservadas e desconfiadas tudo é mais controlado não podemos albergar em nossa casa pois se recebemos bonificação pela compra da casa não podemos acolher gente fora do agregado pois corremos o risco de tudo devolver e não voltar a receber existe também a falta de espaço pois neste momento os preços da habitação são elevadíssimos neste país.

Escravatura Moderna

Com a crise económica em Portugal muitos foram os Portugueses que deixaram o país e aventuraram-se, sem grandes planos, com crianças, esgotando as poupanças e dormindo no veículo. Alguns destes, foram obrigados a pedir ajuda para regressar à terra natal outros foram explorados por conterrâneos que se aproveitaram para enriquecer, com promessas de altos salários e ao final nada receberam regressando com a ajuda do consulado e sem forças para recomeçar: chamo a isto a escravatura moderna mas nós que aqui estamos instalados temos que estar atentos e denunciar estes abusos.

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