Educação nos EUA

Monica Ribeiro Connelly


Eu vivo no estado de Washington, na costa Oeste dos EUA, quase na fronteira com o Canadá. Tenho um menino prestes a entrar na escola, com cinco anos, no ano Zero. Algo que em Portugal já não temos. Isto levou-me a ponderar sobre a educação nos EUA, nomeadamente aqui em Washington. 
As notícias revelaram uma realidade bastante negativa. Mais de metade dos meninos e meninas não sabem ler ou resolver problemas de matemática ao nível esperado para o seu ano escolar. Em parte, culpa-se o COVID, mas a realidade é que mesmo pré-pandemia as estatísticas não eram bonitas. Ainda para mais, o foco por parte do governo parece ser a educação sexual das crianças desde os cinco anos, em vez da iliteracia, a nível local e nacional. 

É certo que com uns pais atenciosos em casa, poderíamos contornar esses números. No entanto, devido à minha presença num grupo de mães da minha pequena cidade, deparei-me com algo bastante mais problemático: bullying nos autocarros e na escola; violência física nos mais novos por partes dos mais velhos (poupar-vos-ei as histórias sanguinárias); pais, professores, assistentes e até mesmo o superintendente que nada fazem a respeito disso; ameaças de bomba recorrentes; pedofilia por parte de professores (casos que acabaram nas notícias locais) e abusos sexuais nas escolas entre os próprios alunos (o caso de um rapaz que tirou proveito de uma menina no espectro autista, por exemplo, ocorre-me de imediato). A frequência destas histórias diz-me que é algo recorrente.


Como mãe, não consigo imaginar-me a entregar o meu menino inocente, de apenas cinco anos, a tais entidades. Mas que alternativa tenho eu? Tenho duas. Escola privada ou homeschooling. Ora, a escola privada foi quase imediatamente posta de parte devido à mensalidade. No entanto, foi o relato de outros pais que nos fez desistir por completo. Embora acredite que a situação seja ligeiramente melhor, não compensa o sacrifício financeiro.

Sobra o homeschooling. Inicialmente optámos por programas híbridos. Programas dirigidos pelos pais, em que metade da semana os meninos são ensinados em casa e a outra metade na “escola”, tendo outros pais como professores de determinada matéria. O melhor dos dois mundos, pensei. A ideia de ter a ajuda de outros pais e nos irmos revezando no papel de “professor” pareceu-me muito boa. Ao mesmo tempo, proporcionaria ao meu filho a experiência de um ambiente escolar, com colegas de turma. Infelizmente, estes programas não são muito frequentes e no meu distrito não existe nenhum.

Batalhei muito a opção de assumir o cargo de professora do meu filho. Está mais do que comprovado que em termos estatísticos, os estudantes em homeschooling surpassam os estudantes de escolas públicas a todos os níveis. Mas será que o meu filho me irá obedecer? Será que eu irei ser capaz de o ensinar? É mais uma responsabilidade na minha vida e eu tenho uma filha mais nova que requer a minha atenção também. E a parte da interação social? Como religiosa que sou, rezei a Deus. O quê que eu faço? – perguntei, desesperada. Aos poucos, fui recebendo tudo o que precisava para tomar a minha decisão.

Encontrei um grupo de mães, co-op, chamamos-lhe, derivado do termo cooperação. Todas elas fazem homeschooling e às sextas-feiras juntam-se para o que se chama “sextas de enriquecimento”. Neste grupo, os meninos têm a tal experiência de escola. Mas as disciplinas são não-curriculares, desenhadas para eles se divertirem, sujarem-se e sim, aprenderem. Neste momento tenho o meu filho inscrito em arte (pintura) e a História do Lego (construção e criatividade), por exemplo. Nada sério, mas que não deixa de ser importante. Algumas semanas, as aulas consistem em ir a um museu ou a um pomar de maçãs, por exemplo.
Nem todas as mães ensinam ao mesmo tempo, o que nos dá também a oportunidade de socializar e trocar experiências umas com as outras. Como mãe prestes a aceitar o desafio de homeschooling, este grupo tem sido uma fonte de inspiração, motivação e apoio. 


A adicionar a esta co-op, o meu marido encontrou uma escola online para homeschooling desde a pré-escola ao 12º ano. Pagamos pelo currículo, que sai bem mais em conta do que uma escola privada, e nele temos todo o apoio necessário à educação do nosso filho. Desde um calendário sugestivo das lições diárias, vídeos para quando não soubermos como ensinar determinado assunto, e o apoio de uma pessoa que nos acompanhará semanalmente. A escola manterá o registo de tudo o que for ensinado, tal qual uma escola “real”. Temos também a vantagem de selecionar certas disciplinas extra-curriculares, se assim o entendermos. Além disso, tudo o que fizermos fora da escola, contará para o registo escolar do meu filho. Por exemplo, um desporto dar-lhe-á créditos de educação física. Aulas de arte ou música também serão tidas em conta, mesmo que não sejam através desta escola online. O calendário desta escola em particular, inclui as “sextas de enriquecimento” o que encaixará perfeitamente com a co-op.

Educação nos EUA

Descobrimos também, que os estudantes em homeschooling têm direito à participação em desportos das escolas públicas. O basquetebol e wrestling são desportos com grande adesão aqui na minha zona, mas ainda não para a idade do meu filho. Portanto temos essa opção em aberto para o futuro, se assim o desejarmos.

Este ano o meu filho tem frequentado uma creche, numa igreja, apenas dois dias na semana. Ele adora ir e tem sido muito bom para o seu desenvolvimento. É uma pena não poder continuar, pois é apenas uma creche e não oferecem o ano Zero. Mas nela descobri que o meu filho não presta atenção à sua professora. Numa das aulas que pude assistir, vi-o de cabeça na lua e quando foi a hora de fazer o exercício discutido, limitou-se a copiar o colega do lado. Isto foi algo que me trouxe paz. Eu estava preocupada que o meu filho não me fosse dar atenção em ambiente de homeschooling. Acontece que ele não presta atenção no ambiente escolar. Porquê que me trouxe Paz? Ora, porque em casa posso fazer com que ele preste atenção. Não terei 10, 20, 30 alunos a quem dar atenção. O meu filho numa turma, passa despercebido. Em casa, não. Mas não me arrependo de o ter metido na creche. Nela fez amiguinhos, amizades essas que pretendo continuar a alimentar com encontros.


O que me leva ao ponto da socialização. Entre os amigos da creche, da igreja que frequentamos aos domingos, aos nossos vizinhos, aos meninos da co-op, e de um futuro desporto (ainda por decidir), este menino de apenas cinco anos tem uma vida social bastante ativa. Muito mais do que eu alguma vez tive. E eu sempre frequentei escolas ditas normais. Além disso, vim a saber graças a uma das mães da minha co-op, que as crianças não requerem socialização todos os dias. Não sei de onde veio essa ideia… É algo que me trouxe também alguma paz: o meu filho não precisa de socializar todos os dias. Na verdade, olhando para o nosso calendário, há semanas em que o meu filho passa apenas um dia sem ver nenhum amiguinho, nas piores semanas, três dias. Três. Portanto, acho que estamos bem nesse aspecto. Quem me dera ter a vida social delePor fim, o meu último ponto, é este: se é para experimentar esta novidade (para mim) do homeschooling, o ano Zero parece-me ser o melhor ano para isso. A matéria é super simples, tenho a liberdade de experimentar diferentes metodologias e escolher a melhor para o meu filho, e o horário será flexível e ajustável às nossas necessidades familiares. Se correr mal, bem, teremos de reavaliar as outras opções novamente. Para já vamos pelo homeschooling. Tenho essa liberdade e privilégio aqui nos EUA. Por que não experimentar? Há tantas mães que o fazem. Se elas são capazes, eu também sou.

Setembro, aqui vamos nós… E seja o que Deus quiser.

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