Atualmente, vivemos todos num mundo que é ainda mais incerto e inconstante do que aquele a que estamos habituados. Por um lado, temos as dúvidas “normais” da vida, do nosso dia-a-dia que tem sempre aquelas coisas que não conseguimos controlar e com as quais temos de viver. Por outro, neste novo mundo que 2020 nos trouxe, temos a incerteza sobre tudo… e se isto é verdade e deixa incomodado quem vive nos países “de origem”, torna-se, ou tem-se tornado ainda mais verdade para nós, que estamos fora. Não que sintamos mais o facto de estarmos fechados em casa, do que o resto das pessoas, que isso faz parte. Mas a incerteza aperta um bocadinho.
As saudades dos que estão “simplesmente” fechados/isolados nas suas casas, mas no nosso país são grandes atualmente. Imaginem então como se tornam essas mesmas saudades quando (1) estamos noutro país (parte a que até já nos habituámos) e (2) quando não fazemos a mais pequena ideia de quando vamos ter permissão para matar essas saudades “à séria”.
Como já mencionei em textos anteriores, costumamos organizar tudo com muito jeitinho, marcar as viagens todas com tempo, gerir “tempos máximos” sem ir a Portugal, etc. Mas este ano está tudo diferente. Ou melhor, marcámos e fizemos tudo na mesma. Temos todas as datas em que (supostamente) iremos a Portugal, mas não fazemos ideia se as vamos efetivamente fazer ou não.
Em primeiro lugar, precisamos que o aeroporto abra, para podermos sequer ter a hipótese de ir.
Depois temos de olhar as regras de eventuais quarentenas obrigatórias e fazer balanços: decisão 1 – vamos? Facto 1 – Há/haverá quarentena em Portugal? Aparentemente não. Facto 2 – Haverá quarentena no regresso a Malta? Não sabemos. Facto importante 3 – E qual a posição do nosso trabalho? Podemos ficar em casa na “quarentena do regresso”? Em princípio, sim, mas ainda não sabemos.
Estamos, portanto, num impasse ou numa soma de incertezas em que nada depende de nós ou da nossa vontade… temos viagens marcadas para todos os meses até Outubro (inclusive), só nos falta mesmo marcar a do Natal. A de Junho já sabemos que não faremos (e o casamento que tínhamos foi adiado). Queremos acreditar que conseguimos ir até Portugal no fim de Julho (quando temos outro casamento). Se vai acontecer? No idea!
Para mim, que adoro ter o ano e as emoções organizadas é um teste à capacidade de viver num modo “sem plano a 100%”. Quando iremos seja onde for? Mal possamos. Podem crer que estamos desertos de conseguir por um pé noutro país, ou em mais que os 316km2 de terra que temos “disponíveis” em Malta. Se esse país tiver o bónus de ser Portugal e de estarmos com as nossas famílias e amigos será ainda melhor.
Vamos esperar para ver… e não fazer mais planos, que 2020 não é claramente ano para tal.
A dificuldade de nos organizar-mos quando tudo à nossa volta está indefinido faz-nos aperfeiçoar mais um skill a todos os outros que surgiram com o viver fora de Portugal. Um dia de cada vez.