Para responder às três perguntas que usualmente me fazem sobre Dublin: fica na república da Irlanda, usa-se o euro, o horário é o mesmo!E sim, é a casa dos U2!
Vivo em Dublin desde 2011
Cheguei aqui num dia frio de dezembro, sabendo de antemão que não iria passar esse Natal com a família. Este não era um destino típico de emigrantes e as pessoas ainda franziam o sobrolho para entender a diferença entre a República da Irlanda e a Irlanda do Norte.
Sabia da ansiedade que se carrega quando se sai para um destino desconhecido, sem ninguém que nos conheça à espera. E sabia que esta era a cidade do Ulisses, de James Joyce, e estava curiosa para passear pelas ruas e encontrar as pistas deixadas no livro sobre os “dubliners”. Ou como eles gostam de se caracterizar, os Dubs.
Dublin é uma cidade peculiar, que respeita o seu patrimônio e vai piscando o olho à modernidade. Aparece no ranking das 30 cidades mais globalizadas do mundo e de fato a face da cidade começa a arranjar-se mais cosmopolita. É uma cidade arrancada da lama do rio por vikings e celtas e que preserva, como o país, a sua herança, com o imaginário povoado por figuras mitológicas: duendes, fadas, druidas e o pote de ouro ao fim do arco íris.
Mais do que uma história contada e resolvida, o meu amor pelo país, por esta cidade, tem vindo a cimentar-se, crescer, até pelo simples fato de que quando vou a Portugal, também anseio regressar a casa. A Irlanda, Dublin, acolheram a minha história e esta faceta do país, de receber emigrantes, é cada vez mais notória na diversidade que observamos na rua, nas empresas, nas comunidades.
Talvez a isto não seja estranho o fato de a Irlanda ser um país que recupera de um atraso sistemático e planeia o seu futuro com ambição: o país está classificado em 2 lugar na Lista de Países por Índice de Desenvolvimento Humano, atrás da Noruega e à frente da Suíça. Os medidores são a expectativa de vida ao nascer – uma vida longa e saudável, o acesso ao conhecimento -anos médios de estudo e de escolaridade, e o PIB – padrão de vida decente.
Foi aqui que nasceu a minha filha, no hospital de maternidade mais antigo do mundo, o Rotunda, fundado em 1745 e que conta mais de 300 mil nascimentos no seu registo. E aqui que conto levá-la a passear pela mesma rua que subi com algum sacrifício para lhe mostrar como começou a sua história de Dubs.
Um país de contrastes marcantes
Abraço as diferenças culturais e estimo o que fui colhendo ao longo destes anos. Apesar de viver na capital do país, o centro cultural, econômico por excelência, em Dublin pode tirar-se tempo para relaxar. Os parques saltam por todo o lado e qualquer desculpa é válida para parar 5 minutos a apanhar sol.
O dia começa cedo. O café, americano, está presente em todas as refeições. A pizza come-se com batata frita. Aliás, tudo se come com batata a acompanhar. As batatas fritas são temperadas com sal e vinagre. O almoço é ligeiro. As salsichas e o bacon fazem parte do imaginário comum. A par com as batatas. Surpreendentemente, o caril é outro dos destaques culinários. O jantar é bem cedo, entre as 5.30 e às 6.30.
Não é difícil dar de caras com a típica simpatia e disponibilidade irlandesa. Sorry e cheers são provavelmente duas das palavras mais usadas por aqui. Pede-se desculpa por tudo e cheers e um cumprimento/saudação positivo. Tudo é lovely. What’s the craic começa as conversas e, é uma espécie de quesito sobre o estado geral das coisas. E há um espírito genuíno de comunidade.
Os irlandeses adoram falar do tempo e o facto de lançarem um Está tudo bem? não quer necessariamente dizer que estejam interessados na resposta. Também falam gaelico, a outra língua oficial do país a par com o inglês.
O pub e a sala de estar de toda a gente é o grande espaço de convívio. Para mal dos irlandeses, os pubs estão fechados e não há craic nos dias que correm. Salva-se a esperança de dias maiores e mais claros, onde se possa pelo menos sair ao alpendre de Guinness na mão, dar duas de conversa com o vizinho, a dois metros de distância, claro, e esperar melhores dias.
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