Não posso negar que as coisas positivas suplantam na totalidade as negativas, mas nem tudo é um mar de rosas, obviamente. E as diferenças culturais podem condicionar a experiência.
No ambiente de trabalho apercebi-me que, pela manhã, quando o staff vai chegando, ninguém dizia um “bom dia”, assim como ao final do dia, ninguém se lembrava sequer de largar um “até amanhã”. Isto para mim era um roçar da falta de educação.
Como faz parte integrante da minha pessoa comunicar, comunicar e comunicar, não consegui viver com este silêncio moral diariamente. O piso dos gabinetes dos professores fica no 3º andar e, para chegar ao meu gabinete, tenho de atravessar quase todo o corredor. Assim sendo, todos os dias, até hoje, assim que entro na escola (começando pela receção) começo a espalhar saudações pela escola fora. Consegui pelo menos que quase toda a equipa cumprimente os colegas diariamente. Ao final do dia é pior… muitas vezes vou embora, já não há ninguém nos gabinetes, mas também ninguém disse nada.
É falta de educação?
Agora entendo que não. É uma característica cultural muito norueguesa, aliás. Simplesmente não se despedem, porque não querem ser intrusivos ou interromper o trabalho dos outros. Bem, temos que dar o benefício da dúvida e acreditar que é mesmo essa a razão. Todos temos que ceder e nos encontrar a meio do caminho.
Durante os almoços na sala de “convívio” da escola, se é que se lhe deve chamar isso, cada um leva o que entender para comer, se quiser comer. Temos dois micro-ondas, torradeira, máquina de bebidas quentes, frigorífico, congelador, máquina de lavar louça, e uma pequena cozinha com louça, talheres, etc.
Diferenças culturais
O que mais confusão me fazia (agora já me habituei) é que eu era, e atrevo-me a dizer, a única (à exceção das minhas duas colegas Portuguesas, claro) que utilizo faca, garfo e guardanapo! Pois, isto das facas é para muitos uma ciência oculta. Esta falta de savoir faire sempre mexeu muito com os meus nervos – há mínimos olímpicos! Atenção que esta falta de qualquer coisa, ou pelo menos esta diferença abissal nos padrões culturais à mesa, não é característica exclusiva de Noruegueses, não! Norte-americanos, Canadianos, Ingleses, Alemães, etc.
Nós realmente somos muito chiques, não é?
Aculturação social
Ao longo destes 8 anos na Noruega aprendi que não se vai de “mãos a abanar” a casa de ninguém! Aconteceu uma primeira vez, foi embaraçoso mas aprendeu-se a lição. O lado mais caricato disto chega a ser hilariante.
Há uns 4 anos, num jantar de natal com os vizinhos, cada casal levou umas coisitas e uma bebida, no nosso caso duas garrafas de vinho Português. A bem dizer, os anfitriões vão servindo do seu vinho, mas quem não quer, ou é mais esquisito, bebe do que leva. As sobremesas foram colocadas no terraço pois acaba por ser um frigorífico/ arca congeladora gigante e sem problemas logísticos de espaço. Um dos casais levou duas garrafas de vinho branco. Qual não foi o meu espanto quando me apercebi que cada um bebia da sua garrafa, estas também “armazenadas” no terraço. Passadas umas horas, a senhora deste casal decidiu ir embora, após estar já alcoolicamente bem-disposta, e mais uma vez para minha surpresa, levou o que tinha trazido (uns folhaditos de qualquer coisa), ainda longe de estar a travessa a meio. Pois, não me pareceu nada bem, mas afinal a travessa era dela… ainda que o marido tenha continuado na festa! Isto de levar bebidas, principalmente quando é convidado, tem muito que se lhe diga. É uma questão de gosto.
Os anfitriões têm sempre bebidas, claro, mas como podem não agradar a todos e, não é como em Portugal, que se tem de tudo para todos os gostos, aqui as pessoas são livres de levarem o que mais lhes agrada beber. Ao fim de algum tempo, percebemos porque é que os noruegueses andam de mochila às costas, mesmo quando vão a casa de alguém… transportam as suas bebidas.
Muitas vezes este ritual é levado ao extremo, pois estes convidados não bebem nada sem ser as suas cervejas, principalmente. Sim, temos um amigo que nunca bebeu absolutamente mais nada que não as bebidas que leva na mochila, quer seja em nossa casa quer na de outros amigos. E não adianta insistir, não cede e pronto!
Se por um lado deveria imperar o ditado “em Roma sê Romano”, por outro “nem tanto ao mar, nem tanto à terra” talvez também se adeque bastante!
Importante é nunca esquecer de onde vim, mais precisamente, o meio onde fui criada, que muito boas maneiras me ensinou e que, tenho que dizer, Portugal ganha em pontos no que diz respeito às regras de etiqueta!
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