Crónica 2 – Sei que nada sei de solidão

Pedro Varela

“Sei que nada sei de solidão”

Somos cinco cá em casa. Só espero mesmo que não seja nada!

Liguei para o SNS24 Suíço, disseram-me que só em circunstancias de extrema dificuldade de respiração deveria ir ao Hospital, disseram para ficar por casa, no quarto. Longe de todos.

E fiquei…

O quarto, o mesmo. A cama, maior. As noites, mais claras. A companheira Tosse, persistiu uns oito dias, mas acabou por sair e sem ela voltei a circular livremente por casa. Um pequeno recolhimento que por si só me fez pensar o quão dificil pode ser estar só. 

Adoro algazarra! Não há como não querer participar na constante agitação que flui do lado de lá da porta do quarto. Adoro estar em família!

Mas estamos irremediavelmente em tempos de recolhimento. O Inverno emocional, fora de prazo, não deu lugar à ambicionada Primavera.

Ligaram-me do lar dos meus Avós. O Avô foi hospitalizado!

O Avô faleceu…..ligaram-me do Lar, agora já só da minha Avó. 

Há semanas que não vejo um avião a rasgar o céu. Não pude voar! A bem dizer nem sequer saí de casa. 

É muito difícil quando estamos longe.

Tratei de tudo por telefone. “Não se preocupe, agora tem sido assim. Funerais sem pessoas…”. 

A Rita, o Gabriel e o Rui, vá lá puderam ir. De Lisboa a Viseu, sem paragens, em carros separados. Um ir e voltar no mesmo dia, quase que de improviso. Uma simbolica homenagem presencial. Um caixão fechado.

Não se puderam abraçar. 

A Avó está sozinha! Não foi ver o Avô ao hospital. Não se pôde despedir!

A Avó está sozinha! Não pôde sair do Lar, apenas escolher o último fato, dum roupeiro que ficou vazio.

A Avó está sozinha e agora isolada num quarto, à espera…

Ligo-lhe todos os dias. Não posso deixar de o fazer, nem que por 5 minutos. 

Sei que nada sei de solidão. Imagino um Inverno que não passa.

Ligo-lhe todos os dias. Há que alimentar a esperança.

Entretanto, as cinzas ficaram guardadas, à espera de um dia justo, para um funeral digno.

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