Continuação do artigo Aventura na República Checa (Parte1)
Estava no último dia de uma viagem à costa búlgara no Mar Negro. Chovia copiosamente, eu estava “preso” dentro de um terminal de autocarros internacional. Sem poder ir à praia devido à chuva, comecei a ficar aborrecido. Liguei-me à internet e fui espreitar o meu LinkedIn para passar o tempo.
De repente, e sem eu esperar, recebi um pedido de conexão de alguém de Praga chamado Daniel Hejl. De início, pensei que era apenas mais um recrutador que me iria tentar convencer a ir trabalhar para um qualquer multinacional. Mas, quando vi o perfil e vi que se tratava do CTO de uma empresa chamada Productboard, da qual eu nunca tinha ouvido falar.
Intrigado, acedi ao site da empresa e comecei a ler mais acerca da organização. Descobri que esta era uma startup bastante promissora, e que parecia ter uma cultura bastante interessante e um stack de tecnologias moderno. Infelizmente, estava localizada em Praga – não era exatamente o que eu tinha em mente para a minha estadia na República Checa.
Durante os dias que se seguiram não conseguia parar de pensar naquilo. Aguardei durante alguns dias para ver se o Daniel me iria contactar, até que chegou um dia em que não consegui esperar mais e tomei a iniciativa de o contactar. Para minha surpresa, o Daniel respondeu-me, e agendámos uma video-chamada.
A nossa conversa decorreu com naturalidade. Não se pareceu nada com uma chamada de recrutamento. Pouco depois, recebi um convite para visitar o escritório em Praga. Resolvi uma tarefa técnica e participei numa hackathon.
Calor, tuk-tuks, almoço, hackathon … um dia em grande na capital checa.
Uma semana e meia depois, lá estava eu em Praga. Estava um dia de verão bastante quente e, ao atravessar a rua para chegar ao escritório, quase que fui atropelado por um tuk-tuk a alta velocidade. Lembro me de pensar para comigo próprio “Bem… Vê-se mesmo que estou na capital!” Sendo nascido e criado em Lisboa, estou bem familiarizado com a azáfama das grandes cidades. Com as vagas de turistas dos últimos anos, a minha cidade natal foi, também ela, invadida pelos tuk-tuks.
A recepção não podia ter sido melhor. As pessoas trataram-me super bem. Senti-me tao bem-vindo! Depois de terminar a tarefa técnica, fomos almoçar ao mercado ao ar livre chamado Manifesto, bem no centro de Praga.
Fiquei para a hackathon de tarde e foi uma tarde muito bem passada. Estava a desfrutar tanto que até perdi o meu comboio de volta para Brno. Mais tarde, percebi que esta não seria a última vez que eu saía dos escritórios da Productboard a horas tão tardias por tanto gostar da atmosfera do escritório.
Foi apenas uma questão de dias até ter a minha entrevista final com o CEO, Hubert Palan. Terminei a entrevista a sentir-me assoberbado! Surpreendeu-me ver aquele atarefado CEO de Silicon Valley tirar um pouco de tempo da sua hiper preenchida agenda para me vir conhecer.
A confirmação não demorou muito. Apesar de o meu objectivo inicial ser mudar-me para o Báltico, esta era uma oferta demasiado boa para recusar! Havia ali qualquer coisa… algo de mágico e intrigante! Prontamente dei o meu SIM, mesmo antes de partir para as minhas férias em Gdańsk. Voei para o Báltico, mas o meu destino final era… Praga.
Mudança para Praga: Bem vindo à capital da República Checa
Chegado o fim de Outubro, mudei-me para Praga. As mudanças de casa são sempre logisticamente difíceis, e o mercado de Praga não é fácil. Felizmente, os meus novos colegas ajudaram-me a encontrar casa. Que sorte!
Os meus primeiros dias na Productboard foram bastante preenchidos. A empresa tinha um ritmo supersónico. Fazia lembrar um foguetão. Não era por acaso que o emoji mais usado no chat interno da empresa era exactamente o emoji do foguetão.
O meu período de integração na Productboard foi marcado por uma certa “luta pela sobrevivência”, imensa dúvida, e síndrome do impostor. Senti-me intimidado por trabalhar lado a lado com alguns dos mais talentosos profissionais do ramo – a “nata da nata”.
Em retrospectiva
Olhando para trás, eu diria que o meu primeiro ano na Productboard foi bastante positivo. Pouco tempo depois de eu começar, entrou mais um português na empresa. E, por coincidência, esse português – o António – veio para trabalhar como chefe da equipa de QA (a minha equipa). E graças ao António, a minha curva de aprendizagem foi bastante potenciada.
Vivi experiências fantásticas. Viajei até Barcelona com toda a empresa, inúmeros momentos memoráveis com os meus colegas – desde Team Buildings, até às casuais bebidas pós-laborais. Até as conversas casuais se revelaram, muitas das vezes, e para minha surpresa, altamente interessantes e inspiradoras.
Fui o primeiro QA na Productboard e, na maior parte do ano de 2019, o António e eu fomos os únicos membros da equipa de QA.
Numa nota pessoal, a minha fluência na língua checa melhorou bastante. Mesmo apesar de eu viver numa cidade cosmopolita e trabalhar numa empresa com um ambiente muito multicultural, onde toda a gente fala fluentemente inglês. Actualmente, o meu checo já não é horrível, e só medíocre o que é, por si só, uma conquista para mim!