Quando um dos membros do casal recebe uma proposta internacional por parte da sua empresa, esta oportunidade de expatriação é vista, na maioria das vezes, como um desafio imperdível que abre portas para toda a família. Será que por vezes podemos observar a armadilha da expatriação!?
Se o desafio de um novo trabalho implica um elevado nível de stress, este aumenta com a mudança de país. Desta forma, cabe muitas vezes, ao outro membro do casal, resolver as tarefas domésticas e logísticas, sendo este apoio essencial para a integração da família no novo país.
A armadilha da expatriação
Com a rotina do dia a dia instalada, o membro do casal que saiu de Portugal pela razão principal de acompanhar a carreira do respectivo companheiro, pode cair nas mais variadas armadilhas: dedicar-se exclusivamente ao seu papel inicial doméstico e logístico com o qual não contava, não conseguir trabalhar por causa do seu tipo de visto, o seu certificado de habilitações não ser reconhecido, a sua experiência não ser valorizada, a sua carreira não ser transponível para o novo país, não dominar a língua do país limitando a sua empregabilidade ou em alguns casos, a mudança de país ser tão frequente que desiste até de pensar na sua situação.
O que antes parecia um mundo de oportunidades pode agora parecer um mundo de limitações.
A expatriação pode acabar por empurrar o companheiro para uma situação de dependência financeira a que não estava habituado e a sua carreira, antes bem-sucedida, fica congelada por tempo indeterminado. A juntar a esta situação, a pouca socialização, a falta de apoio da família e amigos por perto, o choque cultural, a nova língua e o processo de aculturação, podem levar a sentimentos de ineficiência, frustração, desvalorização, baixa autoestima, perda de identidade, stress e até mesmo depressão e ansiedade.
No Japão, o meu trabalho consiste essencialmente em apoiar estas pessoas para não caírem nestas armadilhas e encontrarem oportunidades para si. Acima de tudo, para não se tornarem vítimas da expatriação, mas sim participantes ativos desta aventura.
Importa mencionar que 70% das famílias expatriadas não são bem-sucedidas porque um dos membros do casal não está satisfeito. Este número mostra claramente a importância de ambos se sentirem realizados com a experiência internacional.
A Resiliência dos Expatriados
A comunidade expatriada tem uma enorme resiliência. Com algum apoio e conhecimento intercultural, a grande maioria dos parceiros aqui no Japão encontra soluções criativas e empreendedoras e não se deixa enlear nesta armadilha de limitações.
Alguns exemplos de expatriados com quem trabalhei criaram canais de YouTube, abriram o seu próprio negócio, estão a escrever livros, estão a caminho de se tornarem nómadas digitais, criaram grupos Meet-up, juntaram-se a projectos de voluntariado, começaram ou aperfeiçoaram os seus hobbies, dedicaram-se fotografia, padaria, projectos de voluntariado em ONG, etc.
Com estas atividades, profissionais ou não, as pessoas encontram um propósito na sua expatriação, ganham valorização pessoal, maior equilíbrio emocional e maior satisfação no país de acolhimento, o que facilita a sua integração e adaptação e consequentemente a experiência de expatriação de toda a família.
Como diria o ditado inglês, “happy wife, happy life” (sem querer discriminar pois a expressão neste caso funciona para ambos os géneros!).
A expatriação deve assim adicionar valor pessoal e profissional e criar oportunidades para todos os membros da família. Encontrar satisfação individual é imperativo para que a experiência de toda a família seja um sucesso e algo a recordar com alegria e orgulho para a vida.
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