Chega a Abril Maio todos os anos começa a pergunta típica de quem anda nestas andanças “Are you leaving?” feita por mim ou feita a mim. E a resposta nos primeiros dois a três anos desde a nossa chegada é sempre “acho que não” com um encolher de ombros de quem não tem qualquer poder de decisão.
O sentimento do chegar do tempo…”Leaving”
Quando o nosso tempo de estadia naquele país chega aos três anos o meu subconsciente já se encontrava alerta e nas “vésperas” de cada mudança começava a ter sintomas de dor. Lembro-me que em França com uma dor na massa óssea do craneo que não me deixava dormir (eu achava que tinha um tumor!) a médica sem encontrar qualquer explicação cientifica para a minha queixa, começou a fazer-me uma perguntas sobre a nossa vida. E o diagnostico ficou feito! “It’s March, you don’t know if you are living, you don’t know where in the world you are going to live or when you are going, four kids!! I’s Stress!” E tinha razão!
Recentemente comecei a sentir uma sensação pesada no “coração” e mal identifiquei que poderia ser causado pelo stress de uma mais que provável mudança os sintomas acalmaram. O poder da mente é absolutamente inacreditável!
O antes
Enquanto os miúdos eram pequenos estava extremamente ocupada com os quatro que não tinha tempo de pensar no assunto. Fazia-se uma grande festa, sleepovers com os amigos para a despedida, troca de presentes e promessas de contato constante e a coisa estava resolvida. Fácil.
O agora
Agora com os miúdos mais velhos há que lidar com os sentimentos de teenagers numa idade já por si confusa, as emoções de separação do namorado/a precisam de ser compreendidas e por vezes a eventual mudança vai afetar bastante um ciclo escolar onde o beneficio de o acabar na mesma escola está por demais falado. Ou nem por isso!
Dependendo da idade das crianças quando elas são pequenas não faz qualquer sentido arrastar uma mudança por causa da escola. A partir do momento em que é oficial todos passamos por varias estágios (choque, recusa, aceitação, partida) e a partir do momento em que aceitamos a mudança o momento da partida deve ser feita relativamente rápido. Arrastar a partida quando jà todos à nossa volta “moved on” e os nossos mecanismos de “withdraw” estão ao máximo não há grandes vantagens em ficar. Aprendi com este erro entre França e Italia!
Quando a mudança da familia coincide com a ida de um dos filhos para outro local
Um facto curioso é quando os mais velhos vão para a Universidade e a família entretanto mudou de país a familiaridade do quarto que deixaram, os amigos que fizeram, os vizinhos, a cidade, a língua falada là fora, de repente e quase sem eles darem por isso, desapareceu.
E vir a casa perde aquele sentimento de regresso às origens onde agora tudo é estranho, irreconhecível, quase assustador. Á excepção dos moveis e da família, tudo o resto é um novo mundo. Mais um! Parte-me o coração esta parte!
O que muda em mim quando o tempo “leaving” começa a chegar
A minha disponibilidade mental para novas amizades que sei que serão muito curtas no tempo torna-se muito reduzida e chego a fazer o cálculo mental de pensar quantos anos essa pessoa estará naquele local. Será que vale a pena investir emocionalmente numa pessoa que só vem por um ano? O inverso é verdadeiro e conheço vários expats que se encontram em longos contratos de trabalho que tendem a ter um “close knit comunity” porque é muito difícil estar a ver constantemente pessoas a partir! Sinto que aprimorei a técnica da amizade mais superficial, muitos conhecidos mas a dificuldade em ver tantos partir mentalmente fez-me o tipo de amiga distante para alguns.
Uma outra característica quando me encontro neste Limbo tem a ver com a minha tolerância aos locais. Vejo-me como uma pessoa compreensiva, flexível e tolerante o que me tem ajudado sempre na (im)possível integração à língua, costumes, cultura, locais. Mas mal a perspectiva de mudança surge sinto mesmo que começo a não ter paciência ou a criticar determinado comportamento. O meu instinto de sobrevivência começa a ver defeitos em tudo e todos para me preparar para um adeus sem saudade.
Como nunca sei como será a próxima casa entro num frenesim de destralhar gavetas, armários, móveis e tralha que já ninguém usa ou quer. Aqui em Basileia o sistema está muito bem montado e pequenos brick-a-brack posso colocar à porta de casa com um sinal de grátis e a tralha maior levamos à lixeira. Roupa levo para o centro de Refugiados onde sou voluntaria. Colocámos duas bicicletas e uma caixa de canecas na rua e em 5 minutos desapareceram!
Enquanto não sabemos o próximo destino vou-me despedindo devagar e com muita pena do que verdadeiramente mais gosto (a minha professora de Yoga/strong, a nossa casa que adoro, os amigos que fizemos) e construo uma nova vida na minha mente que se encontra em paz e preparada para esta nova mudança.
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Testemunho muito interessante para quem tem que “andar com a casa às costas”. Parabéns!
Muito sincera e honesta a tua partilha. Obrigada.
Depois de ler o seu belíssimo post só desejo uma coisa , com todo o coração : que consiga continuar a ser a Joana que transparece em todas as palavras ! Uma Mulher lúcida e corajosa ! Um beijo da Tia Maria Luisa .