Alguém em representação da família

Joana Belchior

Estar longe da nossa família quando perdemos alguém é uma dor inimaginável. É importante podermos contar com o apoio dos nossos para que o sofrimento se atenue, dentro do possível.

Um relato na primeira pessoa

“Os Deuses lá se coordenaram e não houve atrasos de voos e a boleia que tinha para me ir buscar ao aeroporto foi perfeita! Fazer parte de uma família grande é existir um ponto de encontro para todos, sendo este numa casa de campo por onde já passaram algumas gerações e onde nos encontramos sempre. Nestas alturas sabemos sempre que antes e depois do funeral vamos encontrar familiares e amigos e uma mesa cheia de comida para os que vão chegando. Consegui comer uma empada e um café que me soube tão bem! Vivi com os meus familiares todos os momentos difíceis de uma despedida eterna. Ouvi ao ouvido um “obrigado” sentido por lá estar.  Comemos, rimos e chorámos muito e fui tirando fotos e alguns vídeos de alguns momentos que ia enviando para o nosso chat da família. Os meus filhos estavam ansiosos por notícias, queriam saber o ponto da situação.

“O que estão agora a fazer, mãe?” Estávamos separados fisicamente e cada um em seu lado, mas eles sentiram que estávamos um bocadinho juntos. Mas não é a mesma coisa…” relata, na primeira pessoa, uma autora do Vida Sem Fronteiras.

A dificuldade de estar longe

“Ele morreu, ele esteve comigo toda a vida…e eu não estava lá! É tão difícil estar longe nestas alturas!”

No entanto, nem sempre isso é possível. Nem sempre podemos estar presentes nestes momentos difíceis e o sentimento é de que estamos a falhar perante a nossa família, quando estes mais precisam. No entanto, é importante aprendermos a lidar com estas situações, sem nos martirizarmos e percebendo que fizemos tudo ao nosso alcance.

Para a autora que descreve este momento complicado pelo qual passou, o avô é o grande pai que considera ter tido e que, infelizmente, esteve internado 8 meses. Sabendo que o seu tempo era limitado e que estava longe, sabia, também, que ele, tal como a família, precisavam de si durante o tempo que lhe restasse. Mais do que de dela, precisavam dos seus pequenos… As crianças são uma fonte de força e da alegria inesgotável que ajudam as famílias a ultrapassar estes momentos.

E como gerir?

Há que fazer escolhas difíceis: pomos férias para ir lá todos os meses? Levamos os miúdos para um fim-de-semana? Deixamo-los cá? Quando formos de férias, como dividimos o tempo entre o hospital e a praia? Será justo não o ver todos os dias? Será justo passar as férias num hospital? Como ajudamos em questões práticas e logísticas? Fazemos o possível em prol da pessoa doente e ainda assim sentimos que não é o suficiente, depois de tudo. Um sentimento de impotência, cansaço e tristeza.

A importância de ter alguém em nossa representação

Ter alguém em nossa representação quando um ente querido morre é muito importante, pois é uma forma de dar apoio emocional e ajudar a aliviar o fardo de lidar com algumas questões neste período difícil.

Se não nos é possível estar presentes enquanto a nossa família estiver de luto, ter alguém em nosso nome pode trazer-lhes mais conforto e segurança. Essa pessoa pode ajudá-los, conversar com eles e, sobretudo, ser a ponte de informação entre eles e nós, que estamos longe.

Este é o preço de estar longe

“Vivo com a culpa de não ser neta suficiente para o avô que ele foi. Venho vazia a cada despedida. Vou ansiosa a cada regresso. Até que chega o fim…mas não acaba. O avô já não me espera, mas não termina”, acrescenta, sentida.

O luto, refere, é um caminho longo que se faz melhor acompanhado e ela continua longe. O longe é traiçoeiro, o longe não a deixa acreditar que ele não estará lá quando ela estiver perto.

Para a autora, emigrar foi uma feliz decisão à qual deve a sua família e carreira, sendo que não a reverteria… No entanto, a distância é um preço que por vezes se paga caro. Mais do que planeado. Temos, mais do que gostávamos, a sensação de que sabemos que a pessoa se orgulha de nós, nos compreende e nos apoia… Mas que lhe fazemos falta e para sempre iremos sentir falta da sua presença na nossa vida.

Sabermos que fizemos tudo

É importante estarmos rodeados de pessoas que querem o nosso bem e percebam a nossa situação delicada. Estar longe significa ter de abdicar de muitas coisas e, mais do que nunca, nesses momentos, é sentir uma impotência enorme e uma tristeza incomensurável. Recebermos, longe, a notícia de que alguém está prestes a partir ou já partiu, não tem descrição. Não nos conseguirmos despedir a tempo, deixa em nós um sentimento de falta… No entanto, termos uma boa rede de apoio, que nos ajude a ultrapassar este momento difícil e diminua a distância, faz toda a diferença.

O longe faz-se perto, basta querermos. Mostrarmos força de vontade, disponibilidade sempre que a nossa vida o permitir, ajuda a diminuir os km de distância que nos levam aos nossos entes queridos. Em vida, é importante procurarmos saber como estão, com uma mensagem, uma chamada, uma carta… São essas coisas que levamos da vida.

Quem parte, leva sempre um pouco de nós e deixa um puco de si, para atenuar a dor da saudade…

Lê também:

4 comentários em “Alguém em representação da família

Adicione o seu

  1. Lindo testemunho. Decisões difíceis,, porque são tomadas em momentos difíceis

Comentar

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Subir ↑