A vida com a COVID-19 nos EUA

Paula Soares

Ainda me recordo quando a minha manicure (chinesa) me perguntava, em meados de Fevereiro, o que eu achava do vírus que estava a atacar a China. Na altura, respondi que era algo da China, muito associado à alimentação deles e alguma falta de higiene; que iria chegar à Europa e EUA, como a gripe das aves ou a gripe A, e que deveríamos ter alguns cuidados, mas não me parecia algo que nos fosse tirar o sono! 

Longe eu de imaginar o quanto enganada estava… pouco mais de um mês passou e o Mundo, tal como sempre o conhecemos, mudou radicalmente. Cidades desertas, limitações à mobilidade, lojas e restaurantes fechados, desemprego a disparar,… e basicamente alteração dos nossos hábitos diários, das nossas rotinas. 

Comecei a escrever este texto há 3 dias, 20 de Março de 2020, e na altura, os dados oficiais falavam em 15.599 casos de Corona virus nos EUA; hoje, 23 de Março, às 15:28 (Eastern Time) estão confirmados 42.161, um aumento de 170% em 3 dias. Mas entenda-se, estamos a falar dos resultados positivos dos poucos testes que são feitos, e este crescimento exponencial resulta apenas de se terem começado a fazer mais testes!! Nos EUA, e parece-me que é assim um pouco por todo o mundo, só são testadas as pessoas que apresentam sintomas e que, ou tenham tido contato com alguém com o virus, ou tenham viajado para países com muitos casos. Ou seja, poucos fazem os testes, e o número real de infetados ultrapassa em muito os números oficiais…

Os Americanos só começaram a tomar consciência do que se estava a passar depois da comunicação do Presidente ao País na 4ª feira, dia 11 de Março, informando que as viagens com a Europa seriam suspensas por 30 dias. No dia seguinte, 5ª feira, dia 12, fui ao supermercado do costume e já havia algumas prateleiras vazias e muitas pessoas de idade nas compras. Tive mesmo um episódio caricato… dirigia-me eu às tabletes de chocolate, quando fui ultrapassada por uma senhora que levou as 20 que lá estavam!!! Felizmente, eu como 70% cacau e ela de Leite!! 

Desde então já voltei ao super mais umas duas vezes, e as prateleiras vazias são cada vez mais, o que obrigou os supermercados a reduziram o horário de funcionamento para conseguirem repor os produtos. Em paralelo, o site do Prime Now (o site da Amazon para venda online de alimentos) deixou de conseguir dar resposta ao aumento exponencial das compras… há mais de uma semana que não conseguimos nem sequer agendar a entrega. Em tempos normais, recebíamos as compras em casa em duas horas!! 

Finalmente, na semana passada começaram a ser tomadas medidas mais drásticas, mas de iniciativa dos Governos de cada Estado ou dos Mayors (o equivalente aos nossos presidentes de Câmara), com o encerramento de escolas e todo o tipo de atividades consideradas não essenciais, inc. restaurantes e bares, bem como ordens de recolher em alguns Estados, como California, NY e Illinois. 

Em Miami, estávamos em plena época alta para o turismo, com a chegada dos spring breakers. As escolas e universidades param nesta altura do ano e Miami é um destino preferencial para esses jovens. Este mês estavam previstos vários eventos de música e de desporto, nomeadamente o Ultra Festival, um dos maiores festicais de música eletrónica do Mundo, e o Open de Ténis, ambos cancelados há já algumas semanas. Por forma a expulsar os turistas, que insistiam em ficar (bem melhor estar em Miami com 25º-30º graus Celsius do que em Minneapolis ou NY com 0º!!!), os restaurantes foram fechados na 4ª feira passada, dia 18 de Março, as praias e parques na 5ª feira, dia 19, as rampas de barcos e marinas no fim de semana (depois de terem surgido notícias de festas de barcos), e os hóteis encerram amanhã, dia 24. Estamos a falar de medidas com um impato imensurável na economia local, mas justificáveis perante a indiferença das pessoas. O fato do Presidente tentar “dourar a pilula” e alimentar teorias da conspiração não está a ajudar à mobilização da sociedade. De notar, também, que os americanos não lidam bem com a limitação dos seus direitos individuais e liberdades. 

Nós temos tentado manter alguma normalidade, com passeios no passadiço junto à praia bem cedo de manhã, e procurando apoiar o comércio local, encomendando alguma comida de restaurantes, um hábito que nem tínhamos! Preocupação com quem está longe, sobretudo com os membros mais velhos das famílias, mas, para já, tudo bem, felizmente! Somos uns sortudos por vivermos numa cidade com um tempo fabuloso e termos uma varanda!! Mas estamos ansiosos, tal como o resto do Mundo, pelo regresso de alguma normalidade às nossas vidas e até já temos um plano para quando esse dia chegar: chamar uns amigos e abrir uma garrafa de 1,5 L de um vinho do Douro que trouxemos no Natal!!!! 

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