A surpreendente Malta

Vera Azevedo

Em termos de acolhimento primário, nas zonas onde os turistas vão e para turistas, os Malteses são sem dúvida muito abertos e acolhedores. Viver em Malta é bastante diferente, e o acolhedor é relativo. Muitos dos Malteses são bastante “fechados” (ainda com marcas das sucessivas ocupações do país por 3os) e gostam muito da frase “go back to your country” (especialmente se lhes buzinamos ou pedimos que não deitem lixo no chão).

Mas esta surpreendente Malta tem outras particularidades, quase como se estivéssemos nos anos 50.

Uma mulher sair de casa sem ser para casar é um “escândalo”. O marido tem a obrigação de sustentar toda a família (estão a tentar incentivar as mulheres ao trabalho, mas ainda é muito comum que a mulher deixe de trabalhar mal tenha filhos e cabe ao marido assegurar tudo financeiramente – e não fazer nada em casa). O divórcio só foi permitido há uns anos (e só é permitido depois de 4 anos a viver separados). O domingo é para ir à missa e almoçar em família (nada contra, mas ai do maltês típico que não o faça). 
Sendo-se mulher, se se namorar há uns tempos, o domingo passa a ser na companhia da família do namorado. 
Comprar a pílula, seja por que razão for, só com prescrição médica e há farmácias que não vendem na mesma (e muitos médicos que não passam a prescrição). O aborto é proibido em toda e qualquer circunstância (incluindo em casos de violações ou perigo de vida para a mãe ou para o bebé). É comum que a homossexualidade seja escondida e que, principalmente os homens, tenham vida dupla (casados e pais de familia mas com amantes/namorados homens – ainda há muito a ideia de ser pecado ser homossexual).

A nível financeiro, o meio de pagamento mais comum (pré-pandemia) era o cheque. Além disso, no dia de receber ordenados, muitos ainda em cheque, muitos malteses vão ao banco e levantam todo o dinheiro, andando com ele na carteira o resto do mês.

Claro está que a surpreendente Malta tem também o lado bom dos anos 50: crianças a brincar nas ruas “à antiga” ou a irem a pé para a escola (alguns com menos de 10 anos). Chaves de casa na porta (mais em Gozo), fiado em alguns locais quando mal nos conhecem. É um país seguro e sem grandes problemas (fora corrupção e lavagem de dinheiro), e estando inserido num contexto maltês, vira-se família. Além disso, tendem a respeitar o equilibrio vida pessoal – trabalho.

Com os prós e contras naturais de todos os países, é uma experiência interessante. Conseguindo-se relativizar as coisas, está-se lindamente (dai já cá estarmos há 3 anos e estarmos prontos para ficar mais uns quantos). E esta água e o bom tempo quase o ano todo faz-me os dias. 

Quanto a ser pequeno, e eventualmente uma “seca”, há sempre que fazer. Não tem uma oferta louca, é verdade, mas nunca me faltou programa ou cantinhos para explorar. 

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