Um dos assuntos que normalmente não associamos a viver no estrangeiro ou mesmo em geral porque nos incomoda e traz à superfície emoções fortes de tristeza que queremos a todo o custo evitar é o assunto da morte. A morte de alguém querido, um familiar ou amigo, de um Tio, Avô ou Tia Avó com uma doença prolongada ou de uma morte súbita completamente inesperada.
Lidar com o luto estando longe
É um assunto delicado e que poucos gostam de abordar, mas que cá ou lá tem que ser vivido, falado, gritado, chorado, inclusive dar umas boas gargalhadas quando nos vem à memória um episódio passado, o luto tem que ser feito. Por todos nós e cada um à sua maneira. Mas quando essa morte acontece no País de origem, no lugar das nossas raízes, onde estão todos e nós somos dos poucos que não estamos, tudo se torna mais complicado. Implica viagens de avião, dinheiro (muito), alojamento e dias de férias.
Implica toda uma logística que depende se vai a família toda ou só alguns. E, muitas vezes, não se consegue chegar a tempo do funeral… Não se consegue ir. Por mil e uma razões. E essa realidade de afastamento geográfico vinca-se fortemente com um aperto no coração. É muito difícil fazer esse luto à distância onde não recebemos os abraços sentidos de todos nem choramos juntos. Hoje em dia dizem que “estamos juntos” quando através do Skype podemos falar um pouco, mas não é a mesma coisa.
É, sem dúvida, nestas alturas que estar longe é mesmo uma serie de palavras feias!
A minha experiência: Muito recentemente aconteceu-nos uma morte completamente inesperada de um familiar próximo ainda na juventude dos seus 30 anos de vida. Quando o telefone tocou fora de horas e as palavras tão difíceis de dizer foram ouvidas deste lado, a primeira reação foi muito emocional e de completo descrédito “não pode ser!”, pensamos nós. Repete-se aquilo que se sabe até à data vezes sem conta e quando se desliga o telefone rapidamente ligas para outros que sabemos chegados e choramos juntos perante o horror da notícia. Logo depois do choro e ainda com os olhos inchados começo a pensar na logística de “como vamos fazer isto”. Tenho dois filhos a estudar fora. A minha primeira preocupação foi ser eu a dizer-lhes. Não o Facebook ou o Whatsapp. Eu. Nós.
Anunciar a morte de alguém querido…
Consegui apanhar um facilmente, mas com a filha mais velha foi mais difícil. Finalmente atendeu o telefone depois de eu ter ativado a app “find my phone” no telefone dela (já foi motivo de risota, mas funcionou). Um choque! “Mãe, quando souber mais alguma coisa diga” Fui dormir. Como era necessária a realização da autópsia o dia do funeral estava incerto. Começa então a luta interior do “vou/não vou” “vamos/não vamos”. Disse aos meus quatro filhos a mesma frase “se sentirem que devem ir, digam”. Um a um, por várias razões decidiram que não fariam a viagem e que se manteriam em contato com os primos e avós através das redes sociais. Em termos da logística foi tudo muito mais fácil assim e bastante mais barato. As minhas mais novas já estão em idade suficiente para ficarem para trás e funcionarem normalmente sem um adulto por perto e assim fiz a mala. E fui. E consegui chegar a tempo!
É importante que façamos aquilo que o nosso coração nos diz, seguirmos as nossas intuições. E, como tal, não podemos nem devemos obrigar ninguém a sentir ou a fazer o mesmo. Cada um sente a sua dor e faz o seu luto como o deseja. A morte já é suficientemente má para estarmos a impor alguma coisa a alguém, sendo este o momento ideal para nos unirmos ainda mais e estarmos juntos na dor, de que maneira for.
Atenuar a dor
Infelizmente, ninguém está preparado para perdem alguém, por mais que a morte seja uma das certezas da vida. É muito comum nos questionarmos o porquê disto ter acontecido, da injustiça… No entanto, devemos sempre tentar retirar algo de positivo da perda de alguém querido…
E no que podemos refletir?
- É importante revermos alguns valores presentes da nossa vida, pois é nesse momento que levamos um choque de realidade.
- Estarmos atentos a forma como vivemos e tentar aproveitar cada momento com quem nos é importante;
- Refletir sobre o que perdemos e quem perdemos;
- Dar valor aos nossos
- Fazer-se presente nos mais pequenos detalhes, seja de que forma for, para tentar atenuar a distância;
E, sobretudo, nunca nos esquecermos:
“Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós…”
Antoine de Saint-Exupéry
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Infelizmente conheço bem esse dilema. Estou a viver em Munique e 2 meses depois de cá ter chegado, o meu pai faleceu. Ele já estava doente há vários anos, estava até num lar de idosos, mas a verdade é que nunca estamos preparados para uma perda destas. Eu não pensei 2 vezes, como só somos 3 cá em casa, agarramos nas malas e fomos. Ao fim do dia já estávamos no velório em Portugal, acho que nunca me perdoaria se não tivesse ido.
Joana este é um tema tão escondido mas tão importante e real!
Obrigada pela sua partilha!
Foi importante para si ir assim como para os seus ficarem.
Também conheço essa realidade. Quando estava a estudar na Finlândia o meu tio morreu subitamente. Não consegui apanhar um avião a tempo de participar nas cerimónias funebres e isso foi muito duro para mim. Demorei a perdoar-me isso mas depois percebi que não poderia ter feito nada.
Nunca estamos preparados para uma situação destas mas falar ajuda.
Obrigada
Joana Duque
Coach