A morte de alguém querido, e agora? Vamos?

Joana Belchior

Um dos assuntos que normalmente não associamos a viver no estrangeiro ou mesmo em geral porque nos incomoda e traz à superfície emoções fortes de tristeza que queremos a todo o custo evitar é o assunto da morte. A morte de alguém querido, um familiar ou amigo, de um Tio, Avô ou Tia Avó com uma doença prolongada ou de uma morte súbita completamente inesperada.

Lidar com o luto estando longe

É um assunto delicado e que poucos gostam de abordar, mas que cá ou lá tem que ser vivido, falado, gritado, chorado, inclusive dar umas boas gargalhadas quando nos vem à memória um episódio passado, o luto tem que ser feito. Por todos nós e cada um à sua maneira. Mas quando essa morte acontece no País de origem, no lugar das nossas raízes, onde estão todos e nós somos dos poucos que não estamos, tudo se torna mais complicado. Implica viagens de avião, dinheiro (muito), alojamento e dias de férias.

Implica toda uma logística que depende se vai a família toda ou só alguns. E, muitas vezes, não se consegue chegar a tempo do funeral… Não se consegue ir. Por mil e uma razões. E essa realidade de afastamento geográfico vinca-se fortemente com um aperto no coração. É muito difícil fazer esse luto à distância onde não recebemos os abraços sentidos de todos nem choramos juntos. Hoje em dia dizem que “estamos juntos” quando através do Skype podemos falar um pouco, mas não é a mesma coisa.

É, sem dúvida, nestas alturas que estar longe é mesmo uma serie de palavras feias!

A morte de alguém querido, e agora? Vamos?

A minha experiência: Muito recentemente aconteceu-nos uma morte completamente inesperada de um familiar próximo ainda na juventude dos seus 30 anos de vida. Quando o telefone tocou fora de horas e as palavras tão difíceis de dizer foram ouvidas deste lado, a primeira reação foi muito emocional e de completo descrédito “não pode ser!”, pensamos nós. Repete-se aquilo que se sabe até à data vezes sem conta e quando se desliga o telefone rapidamente ligas para outros que sabemos chegados e choramos juntos perante o horror da notícia.  Logo depois do choro e ainda com os olhos inchados começo a pensar na logística de “como vamos fazer isto”. Tenho dois filhos a estudar fora. A minha primeira preocupação foi ser eu a dizer-lhes. Não o Facebook ou o Whatsapp. Eu. Nós.

Anunciar a morte de alguém querido…

Consegui apanhar um facilmente, mas com a filha mais velha foi mais difícil. Finalmente atendeu o telefone depois de eu ter ativado a app “find my phone” no telefone dela (já foi motivo de risota, mas funcionou). Um choque! “Mãe, quando souber mais alguma coisa diga” Fui dormir. Como era necessária a realização da autópsia o dia do funeral estava incerto. Começa então a luta interior do “vou/não vou” “vamos/não vamos”. Disse aos meus quatro filhos a mesma frase “se sentirem que devem ir, digam”. Um a um, por várias razões decidiram que não fariam a viagem e que se manteriam em contato com os primos e avós através das redes sociais. Em termos da logística foi tudo muito mais fácil assim e bastante mais barato. As minhas mais novas já estão em idade suficiente para ficarem para trás e funcionarem normalmente sem um adulto por perto e assim fiz a mala. E fui. E consegui chegar a tempo!

É importante que façamos aquilo que o nosso coração nos diz, seguirmos as nossas intuições. E, como tal, não podemos nem devemos obrigar ninguém a sentir ou a fazer o mesmo. Cada um sente a sua dor e faz o seu luto como o deseja. A morte já é suficientemente má para estarmos a impor alguma coisa a alguém, sendo este o momento ideal para nos unirmos ainda mais e estarmos juntos na dor, de que maneira for.

Atenuar a dor

Infelizmente, ninguém está preparado para perdem alguém, por mais que a morte seja uma das certezas da vida. É muito comum nos questionarmos o porquê disto ter acontecido, da injustiça… No entanto, devemos sempre tentar retirar algo de positivo da perda de alguém querido…

E no que podemos refletir?

  1. É importante revermos alguns valores presentes da nossa vida, pois é nesse momento que levamos um choque de realidade.
  2. Estarmos atentos a forma como vivemos e tentar aproveitar cada momento com quem nos é importante;
  3. Refletir sobre o que perdemos e quem perdemos;
  4. Dar valor aos nossos
  5. Fazer-se presente nos mais pequenos detalhes, seja de que forma for, para tentar atenuar a distância;

E, sobretudo, nunca nos esquecermos:

“Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós…”
Antoine de Saint-Exupéry

Lê também:

7 comentários em “A morte de alguém querido, e agora? Vamos?

Adicione o seu

  1. Infelizmente conheço bem esse dilema. Estou a viver em Munique e 2 meses depois de cá ter chegado, o meu pai faleceu. Ele já estava doente há vários anos, estava até num lar de idosos, mas a verdade é que nunca estamos preparados para uma perda destas. Eu não pensei 2 vezes, como só somos 3 cá em casa, agarramos nas malas e fomos. Ao fim do dia já estávamos no velório em Portugal, acho que nunca me perdoaria se não tivesse ido.

  2. Joana este é um tema tão escondido mas tão importante e real!
    Obrigada pela sua partilha!
    Foi importante para si ir assim como para os seus ficarem.
    Também conheço essa realidade. Quando estava a estudar na Finlândia o meu tio morreu subitamente. Não consegui apanhar um avião a tempo de participar nas cerimónias funebres e isso foi muito duro para mim. Demorei a perdoar-me isso mas depois percebi que não poderia ter feito nada.
    Nunca estamos preparados para uma situação destas mas falar ajuda.
    Obrigada

    Joana Duque
    Coach

Comentar

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.

Subir ↑