A experiência da maternidade na Alemanha – algumas diferenças face a Portugal
Na realidade eu não posso realmente comparar a minha experiência da maternidade nos dois países, uma vez que os meus dois filhos já nasceram na Alemanha. No entanto, ainda antes de emigrar recebi o melhor presente que a minha irmã e o meu cunhado me poderiam ter dado, na forma de um dos bébés mais fofinhos que eu já alguma vez vi, que para além de sobrinho é também meu afilhado. Assim me tornei numa espécie de mamã numa versão mais “light” (aquela que até educa mas com um certo lado “cool”). Já depois de partir de Portugal acompanhei de perto, ainda que longe em termos de distância física, as experiências de maternidade de várias amigas.
Resumo de seguida o que me parecem ser os pontos mais divergentes em relação à maternidade nos dois países:
Partos programados
Acredito que há mais bébés alemães a nascer no dia em que lhes apetece do que bébés portugueses. Dá-me ideia que em Portugal tendencialmente, nomeadamente em hospitais privados, se provocam os partos e normalmente não se espera pelo fim da gestação para o fazer. Já na Alemanha o mais comum é esperar-se até que o bébé queira vir ao mundo e não é pouco usual aguardar mesmo até ao fim das 42 semanas.
Vistas diárias da parteira no pós-parto
Após o nascimento, as mamãs que tenham os seus bébés na Alemanha podem contar, durante cerca de 2 semanas, com o apoio diário de uma parteira que em sessões de cerca de 30 minutos cada verificará o estado de saúde da mãe e ajudará nos desafios mais comuns (amamentação, cólicas pós-parto, tratamento do cordão umbilical, etc.). Este serviço está incluído quer nos seguros de saúde públicos quer privados (este seguro é de cariz obrigatório na Alemanha). Imagino que também exista alguma componente cultural neste tipo de apoio, uma vez que é bastante frequente que avós e restantes familiares visitem o bébé pela primeira vez vários dias (às vezes semanas) após o nascimento.
Consultas de pediatria
As consultas de pediatria em Portugal costumam ser mais frequentes do que na Alemanha, país onde existem somente 6 consultas programadas durante o primeiro ano de vida do bébé.
Antibióticos
Receita-se muito mais facilmente um antibiótico em Portugal do que na Alemanha. Aliás, julgo que este fenómeno é extensível a toda a Europa do Norte. Lembro-me de uns amigos que viviam em Amesterdão comentarem uma vez terem ficado estupefactos com um médico que perante os 39 graus de febre da filha deles recomendou dar-lhe apenas água e nada mais porque aquilo passava.
Licença de Maternidade/Paternidade
A licença de maternidade na Alemanha começa 6 semanas antes da data estimada para o parto e pode prolongar-se até ao terceiro ano de vida do bébé. É bastante usual as mães trabalhadoras tirarem pelo menos 1 ano de licença. Também é cada vez mais usual os pais tirarem algum tempo de licença (muitos pais tiram um mês no final da licença das mães mas também existem cada vez mais casos de pais que a tiram durante o segundo ano de vida do bébé).
Nos últimos anos tem-se visto também cada vez mais casais que optam por organizar viagens a locais mais distantes durante o período destas licenças. Destinos como Austrália e outros igualmente longínquos são bastante comuns. Aproveitam esse período para fazerem umas férias mais longas, que doutra forma dificilmente poderiam fazer.
Booking.comTrabalho a tempo parcial
Normalmente as mães escolhem trabalhar a tempo parcial após o regresso ao mundo do trabalho. É um direito que lhes assiste por lei.
Ainda que consideremos a Alemanha como um país bastante evoluído, é necessário notar que particularmente em empresas mais dinâmicas e competitivas (áreas de tecnologia e comunicações, por exemplo), é pouco comum para as mães manterem as suas posições de chefia após o regresso. O habitual é passarem a exercer funções sem responsabilidades de pessoal, que se consideram mais compatíveis com o seu estatuto de mãe.
Educar para a autonomia
Indiscutivelmente as mães alemãs, por todo o apoio social que têm (licença de maternidade, etc.), acabam por estar muito mais presentes no desenvolvimento dos seus filhos do que as mães portuguesas, que geralmente não têm esse tipo de apoio, por exemplo, não têm normalmente a possibilidade de reduzir o seu tempo de trabalho para se dedicarem mais aos filhos. No entanto as mães alemãs, apesar dessa proximidade, acabam por reagir com muito mais facilidade aos desafios que vão surgindo na vida dos filhos (por exemplo, estudar um ano fora mesmo durante o liceu, sair de casa para ir para a faculdade mesmo que estudem na mesma cidade onde vivem os pais, etc.) Educam realmente para a autonomia, desde tenra idade, e aceitam com mais facilidade o individualismo dos seus filhos do que a generalidade das mães portuguesas que, usando uma expressão mais prosaica, são definitivamente bem mais “mães-galinha”
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