A energia de conhecer: uma realidade?

Joana Belchior

No princípio conhecer novas pessoas num novo país é como uma lua de mel, tudo muito fresco e com uma energia contagiante. Mas será que tudo se mantém assim?

Uma mudança que requer muito de nós

Ao abraçarmos uma nova mudança e descobrirmos um novo país e uma nova realidade, é, também, necessário enfrentarmos mais uma mudança. Essa vontade de conquistar o mundo e conseguirmos estar integradas, torna-nos mais ativas, alertas, disponíveis e com mil e um braços para acudir a tudo o que é necessário. Inscrevemo-nos em tudo o que é atividades ao nosso alcance e vamos a todas as reuniões ou coffee mornings organizados pela escola dos nossos filhos. No entanto, é importante conseguirmos ter um círculo de amigos firme, para nos sentirmos realmente em casa longe de casa e, por vezes, essa mudança requer muita energia e dedicação da nossa parte.

Fazer amigas já mais velhos, de culturas diferentes e que não conhecemos desde sempre pode parecer um desafio, no entanto, é totalmente possível. E, sobretudo, faz-nos bem à alma!

A prioridade é socializar

A partir do momento em que a cama tem lençóis e já sabemos onde é o supermercado, o resto da arrumação da casa vai-se fazendo porque a prioridade agora é socializar, conhecer gente, fazer amizades, sem ser muito esquisita, claro, encontrar aquela pessoa com quem vamos poder contar nos próximos curtos anos.

E, felizmente, uma das vantagens das escolas internacionais é que estamos todos no mesmo barco e temos todos a mesma energia. O barco onde todos chegámos de outro país e não falamos a língua do país atual, não conhecemos absolutamente ninguém, não temos pediatra ou dentista ou onde cortar o cabelo… O sentimento é o mesmo, sosseguem-se os corações mais ansiosos!

Muitas vezes, ainda estamos em completa desordem mental de tanta novidade com que lidamos no dia-a-dia, no entanto, o sentimento é de que estamos todos à procura de formar o nosso círculo de amigos e conhecidos. Isto é a natureza humana a precisar do toque, da empatia e das pessoas.

E assim se vai conhecendo gente. Muita gente. De todas as nacionalidades, religiões, raças, idades, culturas, pessoas que saíram do seu país pela primeira vez ou autênticos veteranos disto. E estamos todos cientes que precisamos de encontrar alguém. Mas sem parecer muito desesperado, a um ritmo suave no meio do turbilhão da adaptação a tudo.

Com os anos adquiri uma  facilidade enorme em me apresentar e meter conversa. Com toda a gente. Mas principalmente quando vejo e sinto que alguém acabou de chegar e se encontra completamente só e quando grupos de “velhos” amigos se encontram em plena cavaqueira saudável.

O chitchat ocasional é para mim tão fácil onde as perguntas e respostas rondam sempre à volta de “where are you from” “you have kids in the school?” “how long you’re staying here?”… Uma naturalidade e energia que fui adquirindo com o tempo.

Não existe Drs ou engenheiros, fulanos CEO ou títulos quanto a mim completamente absurdos. Lembro-me uma vez num evento da Embaixada Portuguesa em Roma que sem fazer ideia de quem eram as pessoas fui-me apresentado para fazer conversa e conhecer outros conterrâneos daquela cidade mágica. Lembro-me também que achei aquele convívio muito pouco para os emigrantes em Roma mas mais para as personalidades ditas VIP’s que vieram de Portugal… O que é uma pena!

Em Portugal seria diferente…

Se ficássemos em Portugal, o mais provável seria termos o mesmo grupo de sempre, da infância, escola ou faculdade e a partir duma certa idade já não fazíamos amigos novos. A energia para que isso aconteça não é a mesma, não queremos despender o mesmo tempo, o mesmo esforço e sentimos que isso não nos vai acrescentar nada. No entanto, ao estarmos num país diferente, longe da nossa “rede de apoio”, sentimos a necessidade de criar o nosso grupo, de nos sentirmos integrados e termos, por exemplo, vizinhos com quem podemos partilhar algumas coisas e momentos de conforto.

Ter um suporte emocional a quem recorrer, que perceba a nossa mudança e nos acarinhe é, sem dúvida, muito benéfico, sobretudo para a nossa saúde mental.

Mas porque razão?

  • Como referimos, apoio emocional: mudar-se para um novo país pode ser uma experiência stressante e desafiadora e ter uma rede de apoio ou amigos pode ajudar a aliviar a carga emocional de estar longe de casa.
  • Suporte prático: podem ajudar-nos a perceber algumas coisas essenciais dessa nova realidade a que estamos sujeitos, como por exemplo, perceber o sistema de transporte local, mostrar a vizinhança ou apresentar os costumes e tradições locais.
  • Suporte social: Ter um grupo de amigos sólido também pode ser especialmente importante para não nos sentirmos sozinhos ou isolados. Esses novos amigos podem apresentar-nos a novos interesses ou hobbies…
  • Intercâmbio cultural: Assim, é muito mais fácil aprender sobre a cultura e as tradições locais e, por sua vez, compartilharmos a nossas próprias experiências e perspetivas.

Em suma, ter um bom grupo de amigos longe do nosso país natal pode fazer uma grande diferença quando somos novos noutra cultura e noutro meio. São eles quem nos pode fornecer apoio emocional, assistência , conexões sociais e oportunidades de intercâmbio cultural, o que pode ajudar a tornar a nossa transição para esse novo país muito mais tranquila e agradável.

Um gasto de energia que vale a pena ter!

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5 comentários em “A energia de conhecer: uma realidade?

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  1. Eu sou testemunha do convívio na embaixada Portuguesa em Roma. Que facilidade em fazer conversa, para mim uma inspiração ( porque não sou nada assim), Brava ! 😘😘

  2. Saltitando de país em país com um grande poder de adaptação tirando partido de tudo, superando dificuldades é já uma veterana destas andanças. Apesar de estar longe a Joana está sempre presente, sempre perto de todos nós. Qual será o próximo país onde irá começar novo capitulo como veterana ?

  3. Como sempre muito interessante. Retrata duma maneira simples, não simplória, as dificuldades que se encontra aquando a chegada a um sítio desconhecido, as capacidades exploratória e empáticas. És tu!
    E agora qual o salto?

    Um beijo.

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