A Casa dos Pavores em Atenas

Cláudia de Vasconcelos

Em Atenas é comum casas no piso -1, com janelas ao nível do passeio, esta era uma delas. O quarto tinha uma porta para a rua acima da cabeceira da cama (!) e a porta do quarto não tinha chave… O ambiente era tão deprimente que se uma caixa de zoloft lá entrasse, saía porta fora a dizer que não era paga para isto. Outros hóspedes incluíam duas crianças num canto com a mãe e um Paquistanês a fumar chicha – o Polyphemus.

A sanita não tinha tampo de plástico nem papel. Casa muito suja no geral.

Nada daquele circo estava descrito na plataforma do Airbnb, eu já suava em bica com a ideia de ficar ali durante um mês.

Solicitar a permissão de trabalho e residência no país


No entretanto e para espairecer, fui à esquadra da Polícia dos estrangeiros solicitar a permissão de trabalho e residência no país, (sim, a casa era tão miserável que até uma ida à esquadra era mais relaxante).

O espírito da burocracia Grega interveio contra mim outra vez (a mando dos deuses do Olimpo sem dúvida) e o processo é tão moroso e mutável que se perguntarem a quatro funcionários o que é preciso fazer, acordam sem um rim numa banheira de gelo e com 12 respostas diferentes (prometo que será tema de uma outra epopeia, navegar o rio Styx da burocracia Grega é aventura por si só!). 

Fiquei a saber que não poderia registar-me como cidadã da Grécia sem contrato de aluguer de casa ou factura de um serviço de eletricidade, luz, etc. ou ainda, um documento em como um habitante de Atenas se responsabilizaria por mim. Fora os 35 mil outros documentos, fotocopiados 74 vezes em noite de lua nova.


Regresso à casa dos horrores

Regressámos a casa dos horrores, eu com o triplo do stress, tinha gasto o dinheiro num quarto que não poderia usar como comprovativo de morada, que era horroroso, e sem solução para a minha situação.

Todos os meus amigos gregos, eram residentes de outras cidades, pelo que descartei a hipótese do termo de responsabilidade de imediato. Comentámos com a Gorgon e eis que ela se oferece para ser a responsável por mim em Atenas. 

Achei demasiada responsabilidade e para todos os efeitos, eu não a conhecia de lado nenhum e naquele momento não iria tomar nenhuma decisão, pelo que agradeci e retirámo-nos para o quarto para descansar.

Um penso higiénico encontrado no chão depois, lá adormecemos por umas 3 horas.

A revelação


O Anastacios acordou e, a caminho do quarto de banho transilvânico, cruzou-se com a Gorgon, que lhe diz já ter tratado da minha autorização de residência. Ele acaba de partilhar esta informação comigo dizendo também que tinha falado com o contabilista que tratou do documento. Caos instaurado no Templo do Olimpo!

Afrodite do Céu, cheia de Graça, ajuda-me!

Respondi que não deveria ter tratado de nada dado que, não dei autorização nenhuma e mais a mais, como raio tinha ela feito um documento sem qualquer informação minha? Ao que ela respondeu não poder cancelar o documento porque iria cancelar um apoio do governo que ela recebia para a casa, e para compensar, eu deveria pagar-lhe 170€.

O Anastacios, tipicamente grego pacifico, prontificou-se a pagar só para não haver problemas, pediu-lhe o IBAN ao que ela respondeu não ter conta bancária. Ora, os pagamentos do Airbnb são realizados apenas e só via conta bancária, e aí, se já cheirava a esturro, passou a cheirar a incêndio.

Que casa é esta?

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