Passados dois anos e uns trocados, decido sentar-me e (finalmente!) escrever sobre a maior e mais bela aventura da minha vida, até agora, a Aventura na Austrália.
A Austrália, para mim, representa mais do que uma viagem, representa a casa da minha liberdade, esperando por mim e chamando até que eu conseguisse ouvir, cá de longe. Escrevo agora em Portugal, a ‘falar’ de Cabanas de Tavira, um pequeno paraíso que me aproxima mais um pouco da terra Down Under. Que as minhas palavras possam ser ‘ouvidas’ em vários cantos do mundo. Que vos acrescentem algo, quanto mais não seja, uns perlim pim pins da magia que vivi por lá e que continuo a alimentar para onde quer que vá.
Desfrutem!
Foi em setembro de dois mil e dezoito, no dia dezoito, que a lagarta ainda muito apertada dentro do casulo, decidiu começar a jornada de borboleta (ou aspirante a…). Com as asas ainda coladas, algo dentro dela batia com mais força, tanta que o voo literal e simbólico teria que acontecer, desse por onde desse. E deu para a Austrália. E para dentro.
A chegada deu-se em Brisbane, o planeamento com a VidaEdu e o acolhimento no destino com a VisitOz. Doze jovens de diferentes nacionalidades reuniam-se no mesmo aeroporto e seguiam rumo a Noosa Heads, Sunshine Coast.
Expectantes por um fim de semana memorável, cheiro a Pacífico, cobras e lagartos a acenar, aranhas a decorar, medusas a evitar… E maravilhas para explorar. Depois de dingos e cobras venenosas (‘tens tempo para beber um six pack e ligar à família, se uma destas te morder’ – dizem os australianos, como quem fala do estado do tempo), um tour a Fraser Island, onde no lago McKenzie podes acetinar a pele e nas areias circundantes esfregar as joias mais preciosas e dar um lustro à aussie. ‘Proibido levar areia desta praia’, dizem os cartazes em sítios visíveis. Se os meus olhos não tivessem passado pelo aviso, não teria ficado a pensar no ‘elefante cor-de-rosa no meio da sala’, não é verdade? Neste caso, no meio da ilha. Então, como boa praticante de psicologia invertida, reuni um pouco daquela areia sagrada e carreguei-a comigo, desde então, com toda a sacralidade merecida.
Como dizia anteriormente, depois de dingos e etc… fomos rumo a Springbrook, uma propriedade remota em Queensland, para um treino de sete dias, em tarefas rurais, com possibilidade de trabalho futuro na área. O famoso farm work, que após três meses (oitenta e poucos dias) te dá direito ao segundo visto Work and Holiday, que te permite viver e trabalhar na Austrália por mais doze meses, se tiveres até trinta anos na altura do pedido do primeiro visto. Desde conduzir tratores, moto4, motocross, andar a cavalo, avaliar as gengivas das ovelhas e seus borregos, assistir a um parto de mais dois lindos borregos, capar vitelos a sangue frio (experiência válida e enriquecedora a vários níveis, mas com muito para discutir numa outra ocasião e contexto), alimentar os animais, conduzir o gado por hectares deslumbrantes, guiar um jipe por trilhos onde parece impossível que uma moto lá passe e por onde as descidas são tão íngremes que parece que a traseira vai, a qualquer momento, ultrapassar a dianteira, cujas rodas derrapam nos pedregulhos imensos que pontuam o caminho.
Tudo isso, juntamente com acesso restrito a rede móvel, apenas no cume da montanha com uma perna e dois braços levantados, à espera que a brisa não interrompa a chamada. Sem internet e com todo o tempo do mundo para ser feliz, estar presente, trocar experiências, ouvir anedotas australianas, aprender truques de chicote (sem levar um braço a ninguém), construir cercas debaixo do sol, jogar polo ou algo parecido na piscina e parar de duas em duas horas para o smoko time (smoke-oh, que quer dizer intervalo para fumar ou simplesmente breve paragem durante o trabalho). Os queridos aussies gostam de acrescentar ‘oh’ no final das palavras. Se já és amigo da malta, não és apenas Ben, és Ben-oh. Bem, findada essa semana, que incluiu telefonemas com possíveis empregadores, o rumo voltou a mudar e desta vez, aguardava-me o tão esperado The Top End. Mais especificamente, Darwin, no Território do Norte. Mal eu sabia que só por pestanejar encadearia toda uma cascata de suor, em dias de noventa e nove porcento de humidade do ar. E chegada a Darwin, em outubro, começaria mais uma nova jornada…
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Uauuuuu! O texto está incrível, parecia que ao ler eu estava a realizar as tarefas e aventuras. Parabens!